Seu problema é nosso
Morador de Alvorada aguarda há dois anos por cirurgia para retirada de pedras nos rins
Após ser submetido a uma intervenção ineficaz em junho do passado, Willesson Leotte ainda espera por uma nova cirurgia para retirar os cálculos renais
— Eu praticamente não tenho vida.
O desabafo do vendedor Willesson da Silva Leotte, 31 anos, morador de Alvorada, que aguarda há dois anos a resolução para um problema de pedra nos rins, revela a dificuldade da espera por um procedimento cirúrgico para quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS).
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Após ser submetido a uma nefrolitotripsia extracorpórea ineficaz, segundo ele, em junho do passado, ainda espera por uma nova cirurgia para retirar os cálculos renais.
Um mês após a publicação de matéria no Diário Gaúcho, em fevereiro deste ano, o Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), onde Willesson fez a operação, ligou para o vendedor novamente para recadastramento. E só. Nenhum outro contato ocorreu — nem do Hospital São Lucas, onde também está aguardando ser chamado.
A rotina, conta o vendedor, é levada como pode. Tendo que conviver com a dor diariamente, ele confessa que a dificuldade é grande.
— Eu tomo de seis a sete remédios por dia para conseguir sair de casa — conta Willesson.
Falha
Ele relata que, mesmo após o procedimento malsucedido feito no Hospital Conceição em fevereiro, seu caso continua fora de urgência.
O pedido para realização de uma nefrolitomia percutânea, cirurgia invasiva para retirada de pedra nos rins, foi emitido em 21 de agosto de 2017 — dois meses após a nefrolitotripsia extracorpórea e dois anos após o início das dores.
A nefrolitotripsia extracorpórea é um procedimento que não envolve incisões, sendo utilizadas ondas de choque para tentar implodir os cálculos renais, segundo um documento do Projeto Diretrizes, disponível no site da Associação Médica Brasileira (AMB). "Quanto maior o cálculo, menor a possibilidade de sucesso, independentemente do número e intensidade das ondas de choque", explica o texto.
O documento da AMB também informa que, nos cálculos renais maiores que 20 milímetros (dois centímetros), o procedimento cirúrgico mais adequado seria o da nefrolitomia percutânea. No caso de Willesson, afirma ele, as pedras não foram rompidas.
— Piorou a dor (depois da cirurgia) — afirma o vendedor.
Trabalho
Conforme ultrassonografia fornecida por Willesson, de agosto de 2017 (dois meses após a cirurgia), haviam cálculos de cerca de 1,2 centímetro. A automedicação foi a alternativa escolhida para continuar trabalhando, sob um custo médio de R$ 150 mensais para a compra de remédios.
Willesson afirma que conta com a compreensão de seu empregador já que, às vezes, é obrigado a sair do ambiente de serviço devido às dores. Mesmo assim, os efeitos colaterais dos medicamentos também acabam atrapalhando seu dia.
— Eu acabo ficando sonolento devido a quantidade de remédios — relata.
Pacientes com câncer são prioridade
A Secretaria de Saúde Estadual (SES- RS) confirmou que, após o início do tratamento, a responsabilidade é do hospital em que o paciente está sendo regulado — no caso de Willesson, do São Lucas e do Conceição.
O Hospital Conceição informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as cirurgias urológicas de casos oncológicos e de urgência são priorizadas em detrimento aos casos de litíase renal (pedra nos rins).
A nota também afirma que os pacientes que aguardam em lista de espera para cirurgia mantêm acompanhamento regular com a sua equipe assistencial, no ambulatório do HNSC. Em caso de dor, podem procurar um pronto atendimento ou a emergência do Conceição, com atendimento em plantão de 24 horas.
Sem urgência
Além disso, o hospital salienta que Willesson está regulado em duas instituições referências para o mesmo assunto e que estaria "usando a vaga de outro usuário que ainda não conseguiu acessar o serviço".
Questionada sobre a afirmação do HNSC, a assessoria da SES informou que não tem conhecimento disso e que é responsabilidade dos hospitais. O Hospital São Lucas, da PUCRS, reafirmou a posição transmitida à Willesson, de que "a situação do paciente não se caracteriza como urgência e será agendada de acordo com o fluxo da especialidade".
Questionado sobre quais eram os requisitos para um caso ser considerado urgente, o hospital informou que a definição é feita "por meio de critérios de avaliação, validados pelos órgãos competentes".
A assessoria de imprensa do hospital não respondeu à pergunta sobre quantas pessoas aguardam nessa fila, nem explicou o porquê de o leitor ser considerado um caso não urgente.
*Produção: Ásafe Bueno