Seu problema é nosso
Idosa aguarda há 10 anos por cirurgia, em Porto Alegre
Noecy, moradora do bairro Restinga, conta que foi diagnosticada com gonartrose bilateral há 16 anos e que necessita de uma cirurgia especializada há uma década
A aposentada Noecy da Silva Nunes, 68 anos, moradora do bairro Restinga, em Porto Alegre, conta que foi diagnosticada com gonartrose bilateral há 16 anos e que necessita de uma cirurgia especializada há uma década. A lida com a espera é dolorosa e impõe limites duros. A doença impossibilita sua mobilidade, impedindo que ela saia de casa.
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— Tenho muita dor, não consigo andar, para ficar de pé tenho que usar uma bengala — conta Noecy.
A gonartrose bilateral é uma artrose causada pelo desgaste degenerativo das cartilagens dos dois joelhos. A doença afeta mais as mulheres e está atrelada à obesidade — como no caso de Noecy, segundo ela informa.
A doença começou a se manifestar quando ela tinha 52 anos, afetando suas capacidades locomotoras e culminando na sua aposentadoria por invalidez. Desde então, ela começou sua jornada por tratamento.
Segundo ela, a necessidade de cirurgia foi constatada em 2008. Entretanto, a fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS) não chegava nunca em Noecy e as dores aumentavam cada vez mais. Ao mesmo tempo, ela conta que teve câncer de mama, o que ocasionou em perda de peso.
Mesmo emagrecendo, mudando de cidade para um lugar mais calmo, no município de Tramandaí, no litoral gaúcho e modificando a rotina da família, o problema só piorava. Entretanto, o agravamento do quadro de Noecy e a procura por mais auxílio médico fizeram a família voltar para a Capital.
Acidentes
Após cair no chão diversas vezes, mesmo se utilizando do auxílio da bengala, a aposentada afirma que fica na cama a maior parte do tempo, levantando-se apenas para se vestir — com dificuldades.
— Não consigo nem por as meias direito. Fico em casa o dia inteiro. Já caí na calçada — conta a idosa, que também afirma ter ficado sem movimentos nas pernas em uma oportunidade, há cinco anos, necessitando ir até o hospital para receber injeções para se recuperar.
— Eu fiquei toda travada. Não conseguia nem me mexer — afirma ela.
Em 2016, essa rotina dolorosa incentivou a família da idosa a procurar a Defensoria Pública, buscando ter acesso à cirurgia.
Fila
No mesmo ano, conta Noecy, ela conseguiu que seu nome fosse passado à frente da fila. No entanto, a aposentada não foi chamada. Um ano após, exames foram feitos, conforme laudos disponibilizados pela família, em que citam a necessidade da cirurgia chamada Artroplastia Total do Joelho (ATJ) primária. E segue a espera.
— Quando liguei em agosto, disseram que eu estava em 74 (número da posição na fila). Liguei de novo em setembro e disseram que eu ainda estava em 74 — informa Noecy.
Secretaria pede que Noecy faça contato
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a consulta de acesso de Noecy ocorreu dia 17 de outubro de 2016, no Hospital Cristo Redentor. A informação é do Sistema de Gerenciamento de Consultas (Gercon) da SMS.
Ainda em 2016, criou-se a migração dos usuários do SUS ao novo sistema de regulação, que tem como critério a priorização dos casos mais urgentes — o sistema antigo era por critério cronológico.
A SMS afirmou que a mudança para o novo sistema encerrou-se em agosto de 2016 e identificou a prioridade de atendimento de Noecy, que teve a marcação da consulta agendada no dia 17 de outubro daquele ano.
Para ter conhecimento sobre os encaminhamentos do prestador do serviço neste momento, a SMS pediu que a usuária entre em contato diretamente com a Ouvidoria da Saúde, órgão encarregado do contato com o cidadão. Lá, será criando um protocolo solicitando informações diretamente ao prestador de serviços — no caso, o Hospital Cristo Redentor.
Noecy deve entrar em contato via telefone (156), de segunda a sexta-feira, 24 horas por dia, ou presencialmente (Avenida João Pessoa, 325, térreo), de segunda a sexta-feira, das 8h30min às 12h e das 13h às 17h. Também poderá enviar um e-mail para ouvidoria@sms.prefpoa.com.br.
*Ásafe Bueno