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Seu Problema é Nosso

Monette Esperance viaja para buscar filhos que não vê há cinco anos

Nesta sexta, às 17h45min, haitiana que mora em Caxias embarca rumo ao país caribenho para buscar Djodly, Adjy e Betchnaille

16/11/2018 - 12h08min


Mateus Frazão
Mateus Frazão
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Lucas Amorelli / Agencia RBS
Monette Esperance conta que a filha mais nova, Monalisa, três anos, nascida aqui, está ansiosa por conhecer os irmãos e brincar com eles

Monette Esperance vai, enfim, rever os filhos. Nesta sexta, às 17h45min, a haitiana de 30 anos embarca em Porto Alegre rumo ao país caribenho para buscar Djodly, 12 anos, Adjy, nove, e Betchnaille, oito, que não vê há cinco anos, desde que veio morar em Caxias. No sábado pela manhã, ela deve desembarcar na capital Porto Príncipe, onde as crianças moram com a avó.

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Se para Monette o reencontro representará alívio pela realização do sonho, para  os pequenos será uma surpresa: Monette conta que não avisou a família que está chegando.

– Eu falei para a minha irmã que neste sábado uma pessoa vai levar um celular que eu comprei de presente para ela no aeroporto, mas não disse que era eu. É claro que ela desconfia, porque ajudou a viabilizar a documentação dos meus filhos, mas eu tenho certeza de que as crianças não sabem. Eles vão levar um susto – brinca Esperance.

Lucas Amorelli / Agencia RBS

As passagens nas mãos tranquilizam Monette. Depois de cerca de dois anos enfrentando a burocracia, ela conseguiu viabilizar no último mês os vistos dos três filhos, o que permitiu a compra da viagem. Desde o início de 2017, Monette vinha tentando obter a documentação e arrecadar recursos para buscar as crianças. No ano passado, conseguiu juntar cerca de R$ 24 mil por meio de uma vaquinha online, valor que permitiria custear as passagens e os documentos necessários para a permanência dos filhos no Brasil. No entanto, desde então, enfrentou diversos empecilhos, como mudanças na lei de migrações e, até mesmo, a necessidade de correção da certidão de nascimento de um dos filhos, cujo nome estava com a grafia errada.

Os transtornos agora são passado. No dia 30 de novembro, Monette embarca de volta para o Brasil junto com os filhos, que passarão a morar com ela, o marido e a pequena Monalisa, três anos, nascida em Caxias.

– A Monalisa está ansiosa. Ela disse que espera que os irmãozinhos possam brincar e assistir TV com ela – relata Monette.

Lucas Amorelli / Agencia RBS

Quando deixou os filhos, o mais velho deles tinha sete anos. Hoje, o mais novo dos três tem oito. Apesar de se comunicar  com as crianças via celular, ela afirma que tem menos contato do que gostaria:

– Às vezes, eles não têm dinheiro para falar no telefone e algumas vezes minha irmã não deixa falarem comigo para eles não relatarem a situação difícil que estão vivendo lá. Eu mando dinheiro, mas mesmo assim, eles passam fome. Mas agora isso vai mudar, a situação aqui também não é fácil, mas nunca falta comida em casa – diz.

45 casos parecidos de março a junho

Enquanto os dois anos de empecilhos pareceram uma eternidade para Monette, para o Centro de Atendimento ao Migrante (CAM) a demora para casos de reunião familiar é uma rotina. Segundo o advogado do CAM, Adriano Pistorelo, diariamente são recebidos casos complicados para atendimento dos estrangeiros. Ele reconhece que a situação de Monette foi influenciada por  fatores adicionais que complicaram o processo, no entanto afirma que, em média, processos de reunião familiar costumam demorar, pelo menos, sete meses para serem resolvidos.

– O ingresso com pedido de reunião familiar é um dos principais pedidos que recebemos. Todo migrante que vem para cá quer se estabelecer, ter uma vida melhor. Quando consegue estabilidade, a segunda etapa é querer trazer familiares. Ou seja, o segundo fluxo é quase um movimento natural de todos os processos migratórios – explica.

Como parâmetro do volume significativo de processos de reunião familiar que chegam até o CAM, ele informa que a entidade acompanhou, entre março e junho deste ano, 45 casos. Segundo Pistorelo, por mais que a situação de Monette aparente ser atípica, todos os atendimentos no CAM possuem particularidades que os tornam complexos.

– Todos os dias temos casos que nos quebram a cabeça. Migração, em si, é algo complexo. Temos uma legislação que trata as questões de uma forma genérica, mas há muitas situações atípicas. Quando recebemos casos que nãos e enquadram rigorosamente nos termos da lei, não podemos abandonar esse atendimento, precisamos ajudar esse migrante – ressalta o advogado.

Contudo, ele reitera que a repercussão do caso de Monette ajuda a colocar em perspectiva, tanto para o CAM quanto para a população, a problemática institucional que envolve a migração. 

– Com esse caso, pudemos perceber mais a demora e os problemas que os haitianos enfrentam para acessar a embaixada. Deparamos com os diversos entraves que cercam as várias repartições da temática migratória quando o estrangeiro tenta acessar esses vistos. Por outro lado, também nos aproximamos das embaixadas e ouvimos as dificuldades que eles têm.

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