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Entenda como vai funcionar a terceirização do Albergue Municipal

As pessoas em situação de rua que dependem do local estão preocupadas a transição para novo serviço. Prefeitura diz que albergue só fecha quando novos locais abrirem

27/07/2019 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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André Avila / Agência RBS
Espaço atual deve ser fechado na segunda quinzena de agosto

Uma decisão tomada pela prefeitura de Porto Alegre — fechar o Albergue Municipal, localizado no bairro Floresta, e terceirizar o serviço — está deixando os frequentadores do espaço receosos. Isso porque depois de receberem a notícia do encerramento das atividades, os usuários do albergue não tiveram mais nenhuma informação sobre como será o processo de transição aos novos locais. Segundo a prefeitura, a organização que assumiu a gestão abrirá dois albergues para suprir a demanda do estabelecimento atual. 

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Para as pessoas em situação de vulnerabilidade social que dependem do espaço, o medo é que se repita o que ocorreu no caso do Restaurante Popular da Capital. Em setembro, com o fim do contrato entre o município e uma terceirizada, a prefeitura fechou o espaço sem ter uma alternativa pronta. De emergência, uma carreta com cozinha foi alocada no Ginásio Tesourinha, no bairro Menino Deus, onde, atualmente, as refeições estão sendo servidas de maneira provisória. 

A administração municipal, entretanto, garante que o cenário não deve se repetir no caso do Albergue Municipal. Conforme a diretora técnica da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), Vanessa Baldini, a instituição só fechará as portas quando os dois novos locais estiverem abertos. Segundo ela, a prefeitura trabalha com a ideia de que isso ocorra na segunda quinzena de agosto.

— A entidade parceira está fazendo as adaptações e procurando um local na Zona Norte. Por isso, ainda não sentamos para conversar com os albergados. Isso deve ocorrer entre 15 dias ou até uma semana antes da mudança, para não gerar uma ansiedade desnecessária — explica Vanessa.

Vagas

O espaço no bairro Floresta recebe 120 pessoas. Os dois novos locais terão 75 vagas cada, totalizando 150 dormitórios. A diretora técnica da Fasc diz que dividir os espaço com menos vagas em cada local irá melhorar a qualidade do serviço. Além disso, a opção de abrir um espaço na Zona Norte da cidade foi pautada depois de um diagnóstico das equipes de abordagem da Fasc, que constataram a necessidade de um ponto nesta região.

— O albergue atual, por ser administrado pela prefeitura, tinha questões burocráticas que, por vezes, tornavam processos mais demorados. Com a parceria, os problemas podem ser solucionados de maneira mais rápida, já que a administração não fica a cargo do município. Além disso, não teríamos servidores suficientes para abrir duas unidades, como será feito — garante Vanessa.

Os novos locais terão o mesmo sistema de funcionamento do espaço atual. A entrada será priorizada para idosos e deficientes, além da reserva de quartos para mulheres e transexuais.

— As vagas são disponibilizadas conforme a proporção que foi passada pelo Albergue Municipal. Normalmente, o público maior é de homens — diz a diretora técnica.

A entidade que administrará os novos espaços é a Organização Associação Beneficente Projeto Restaurar. Conforme a Fasc, a entidade receberá R$ 180 mil mensais para administrar os dois pontos. Os locais funcionarão em todos os dias da semana, das 19h às 7h. Além do dormitório, é oferecido aos frequentadores jantar, café da manhã e banho.

Frequentadores esperam por cadastro

Tadeu Vilani / Agência RBS
Claudiomiro ainda não sabe como será o novo espaço

Quem costuma passar algumas noites no Albergue Municipal está tendo dúvidas em relação à mudança. Em situação de rua há três anos, Claudiomiro Vasconcelos, 49 anos, está na "casinha" — nome pelo qual os frequentadores chamam o albergue — há 20 dias. Ele conta que já ouviu a notícia de local irá fechar, mas não sabe de detalhes.

— Sei que vai ter um na Zona Norte, mas espero que não prejudique o Centro. Temos mais pessoas que precisam aqui por essa região, é melhor do que precisar ir até outro ponto da cidade — explica Claudiomiro.

Antônio Milton da Costa, 61 anos, vive sem um teto fixo há duas décadas. Para ele, a casinha é o lar atual. A expectativa de Antônio é que a mudança qualifique o serviço oferecido. Segundo ele, alguns problemas são recorrentes no espaço administrado pela prefeitura:

— Uma situação comum é o banho. O chuveiro tem dias que está gelado ou então está fervendo. Se está muito frio e a água não aquece, precisam permitir que a gente fique sem banho.

Melhorias

Junto de Antônio na fila de entrada para o almoço no Ginásio Tesourinha, Márcio Lemos, 42 anos, faz uma ponderação em relação as refeições servidas no Albergue Municipal.

— Na casinha, o volume de comida servida diminuiu, em razão da carreta aqui do ginásio, mas também porque está para fechar. Espero que volte ao normal nos locais novos — projeta ele.

Dividindo o mesmo espaço na fila com outros frequentadores do albergue, o morador de rua Régis Assunção da Silva, 38 anos, é avesso ao sistema atual oferecido pela prefeitura. Em situação de rua há oito anos, ele acredita que o modelo não ajuda e precisa ser mudado, para estancar o crescimento da população que vive sem-teto. 

— Enquanto não começarem a qualificar estas pessoas, buscar programas ou auxílio de quem tem dinheiro e pode ajudar, só servir comida e dar cama vai ser uma ilusão. Tem que fazer essas pessoas trabalharem, quanto menos emprego, mais gente na rua vai ter. As pessoas evitam sair de casa para não ver os outros em situação de rua, mas isso não diminui o problema — critica Régis.

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