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Seu Problema é Nosso

Gaúcha que fez embaixadinhas por 12 horas vira artista de rua em busca de dinheiro para ter recorde no Guinness

Lara Schüler, 24 anos, precisa de recursos para conseguir que façanha seja reconhecida

17/09/2019 - 15h40min


Tiago Boff
Tiago Boff
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A bola que sobe e desce sem tocar as ondas da Rua da Praia, no centro de Porto Alegre, motiva o virar de pescoço de várias pessoas, mas nem todas revertem a curiosidade no apoio que Lara Schüler precisa. A gaúcha de 24 anos bateu o recorde mundial de embaixadinhas em maio de 2018, mas precisa pagar ao Guinness US$ 1,5 mil  — cerca de R$ 6 mil — para seguir no processo de homologação da façanha.

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— Eles consideram que eu usei a marca (do Guinness) na divulgação do meu sonho e, por isso, consideraram quebra de contrato, não aceitando a prova por vídeo — diz a detentora da marca de 12 horas e um minuto, filmada na sede da Federação Gaúcha de Futebol (FGF).

A marca atual registrada no livro dos recordes é de outra gaúcha, a caxiense Claudia Martini, que suportou oito horas e 24 minutos de esforço contínuo, em 2011.

O valor para levar o processo adiante é elevado para a família de Lara, que vive da agricultura no interior de Taquara, no Vale do Paranhana. A quantia é buscada quase que diariamente na Rua dos Andradas, no centro da Capital.

Com ambos os pés, ela deita ao solo e suporta a bola com o peito. Desce até a canela e faz balõezinhos de sola, desfiando a gravidade. O público para e observa. Mas a caixa de sapatos azul, postada ao lado do banner que exibe o feito da jovem, tem mais cartões de visita do que notas ou moedas.

— Buscar o meu sonho é o que me move todos os dias a levantar e continuar correndo atrás. A energia que recebo é sempre positiva. Sem isso eu não vivo. Preciso do esporte na minha vida — ressalta, mantendo o controle da bola, enquanto agradece pelas moedas depositadas na caixinha.

Os 75 quilômetros que a separam da Capital são feitos, sempre que possível, de carona, para evitar o gasto de R$ 25 do ônibus.

— Os eventos que faço, quando alguém me contrata, são o que me ajudam a chegar perto do dinheiro para o Guinness. Na rua, as vezes o dinheiro dá só para a passagem — afirma, sem outra vez ser otimista ao lembrar de quando voltou para casa com R$ 300.

Com Ensino Médio completo, a atleta afirma que, depois de vencer a batalha pela homologação, quer entrar para a faculdade, no curso de Educação Física. Quando adolescente, tentou ser jogadora profissional. 

 — Naquela época o jeito era sair de casa, ir pra fora do Estado, mas eu não tinha condições. Ouvi de meninas que foram a São Paulo e passaram fome. É muito difícil a realidade do futebol feminino.

Apesar das dificuldades, a garota de sorriso largo não se queixa e prefere agradecer quem a elevou ao nível de disputa mundial na modalidade: a preparadora física do Inter Suellen dos Santos e o fisioterapeuta Jerry Fabiano Ribeiro, que até hoje a atendem gratuitamente no fortalecimento da musculatura. Tem espaço até para o ex-cunhado, Luiz Carlos Calai.

— É meu segundo pai, acreditou mais em mim do que eu mesma. Durante a caminhada apareceu muita gente, mas depois foram desistindo. Penso em quem ajuda todo dia aqui no Centro, com total gratidão.

O vigilante Jonas Oliveira da silva, 52 anos, deixou uma nota à garota, após observá-la boquiaberto.

— Magnífico. Ela é uma guerreira. Olhar para ela é encarar a vida com outra perspectiva, pois está buscando um jeito de crescer.

Presidente eleito da FGF, Luciano Hocsman afirma que a instituição sempre apoiou a gaúcha.

— Abrimos as portas da federação e demos todo suporte que ela precisava para a filmagem, além de divulgação também nos estádios.

Com a certeza que há nomes que condicionam destinos, Lara mostra a tatuagem sobre a palma da mão direita: "Mãe", ao lado de um coração.

— Minha mãe se chama Marta, o maior exemplo do futebol feminino, exemplo para todas as mulheres.  

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