Seu Problema é Nosso
Isadora vai realizar seu sonho: caminhar e usar sapatos
A menina, de Torres, nasceu com uma malformação óssea nos dois pés e na mão esquerda. Após sete anos de luta na Justiça pelo tratamento, Isadora passou por cirurgias e, agora, se recupera em casa
A pequena Isadora Selau Santos da Silva, oito anos, já consegue dar os primeiros passos para a concretização de um sonho: caminhar e usar calçados. Em novembro de 2017, Diário mostrou a história da menina, que nasceu com uma malformação óssea nos dois pés e na mão esquerda. Ela andava na ponta dos pés, como uma bailarina e, por isso, colocar sapatos era impossível. Após sete anos de luta pelo direito de obter tratamento médico gratuito, Isadora passou por uma série de cirurgias em São Paulo e, agora, está mais perto de caminhar normalmente e usar calçados.
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Antes de iniciar o tratamento, ela sentia fortes dores, pois apoiava- se em dois dedos de cada pé, e a coluna também estava sendo prejudicada. Segundo a dona de casa Zeli da Silva Selau, 47 anos, mãe de Isadora, a parte mais difícil já passou. Contudo, o tratamento com cirurgias e fisioterapias continuará até a menina parar de crescer.
— A Isadora é um milagre. Quando tinha dois meses, ouvi de uma médica que ela nunca iria caminhar e não tinha o que fazer. Aos quatro anos, médicos sugeriram amputação, dizendo que o procedimento seria mais barato. Mas eu não desisti — relembra Zeli.
De Torres, no Litoral Norte, Zeli e as duas filhas, Isadora e Lara, nove anos, tiveram a rotina completamente alterada devido à mudança provisória para São Paulo.
Cirurgias
Em 19 de janeiro deste ano, Isadora passou pela primeira cirurgia, que demorou 15 horas, realizada por uma equipe médica do Albert Einstein, no Hospital Ortopédico AACD. Depois, ela teve mais três operações ao longo do ano, sendo a última realizada no dia 26 de julho. Zeli conta que em todas as cirurgias, Isadora, cheia de fé, entrava no bloco cirúrgico carregando a santinha de Nossa Senhora Aparecida.
— A primeira foi a mais difícil e dolorida, ela fez o alongamento ósseo e colocou os ferros (fixadores de metal) nas pernas. Então, as pernas já estão corrigidas, e os pezinhos, na base. A próxima cirurgia será em outubro e, depois, outra no início do ano que vem. Após estas que virão, ela fi cará um período sem cirurgia para calcificar os ossos e terá uma nova etapa de alongamento dos ossos — explica Zeli.
Mais caro
Segundo ela, como o poder público demorou para custear os procedimentos, agora, tudo será mais caro:
— Os pés dela poderiam ter sido colocados no lugar quando ela tinha um ano de vida. Mas ela foi tratada com descaso no SUS. A primeira cirurgia custou cerca de R$ 500 mil. Ainda não sabemos do total que vai custar, porque é um tratamento longo. Mas será um valor alto, acredito que chega a mais de R$ 2 milhões.
"Sempre tivemos muita fé"
Na primeira consulta no Hospital Israelita Albert Einstein, em 17 de outubro de 2017, Zeli conta que soube que era possível fazer o alongamento ósseo e reparar o formato dos pés de sua filha:
— À época, o médico me mostrou o caso de outra menina que tinha o mesmo problema. Hoje, ela tem uma vida normal.
A mãe relembra que Isadora se encheu de esperança após essa consulta:
— Ela chegou em casa e colocou todos os seus sapatinhos numa bacia para lavar, só que não tínhamos o dinheiro para pagar a cirurgia. Demoramos na Justiça mais dois anos lutando para que o Estado e município pagassem pelos procedimentos. Por mais que conseguíssemos doações, não era o suficiente. Com a graça de Deus, conseguimos que o tratamento fosse custeado em dezembro de 2018.
As doações que foram recebidas pela vaquinha online e arrecadadas em eventos beneficentes foram utilizadas para a realização de exames e pagamento de custos adicionais ao longo do tratamento até o final do ano passado.
Adaptações na volta para casa
Zeli comenta sobre um dos próximos obstáculos da jornada de superação: a construção de um banheiro com acessibilidade:
— Já conseguimos o projeto com uma arquiteta, mas nossa casa não é adaptada. Para a reforma do banheiro e ajustes nos desníveis da casa, fizemos a segunda parte da vaquinha.
A família vive com apenas um salário mínimo (R$ 998), do benefício assistencial de Isadora. Zeli fechou sua loja de roupas para cuidar da filha e está sem renda fixa.
— Vamos fazer um bingo beneficente, em Torres, no dia 6 de setembro, para custear a adaptação da casa e também em agradecimento a quem ajudou — afirma.
Conforme Zeli, a cada cirurgia, Isadora ficará um tempo na cadeira de rodas. Sendo assim, a casa precisa ser acessível. Além disso, em 60 dias, ela poderá usar um andador.
Planos
A sensação de pisar no chão, segundo a mãe, foi emocionante — como conta Isadora:
— Foi legal quando pisei a primeira vez e, agora, vou poder colocar meus calçados.
Questionada sobre o que quer ser quando crescer, a menina responde de pronto:
— Quero ser promotora!
A mãe completa:
— Ela sabe o que sofreu e reconhece a importância que os promotores tiveram. Ela também vai participar de palestras com os médicos, para mostrar seu caso, que é raro. Nossa meta é trabalhar em causas sociais, incentivando outras mães a lutarem pelo tratamento dos seus filhos – finaliza Zeli.
Como ajudar
/// É possível doar por meio da vaquinha online.
/// Também é possível fazer doações por meio de depósito bancário na conta poupança de Isadora Selau Santos da Silva, na Caixa Econômica Federal, agência 0524, operação 013, conta 00009780-3.
/// Serão aceitos materiais de construção para obra da casa.
/// Para mais informações entre em contato com a mãe de Isadora, Zeli, pelo telefone (51) 99685-2419.
Produção: Caroline Tidra