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Em um ano

Fila de espera do SUS cai quase pela metade em Porto Alegre, mas tempo para consulta cresce em algumas especialidades

Em dezembro de 2018, número de solicitações era de 79.331 e caiu para 43.050 em dezembro passado

06/02/2020 - 23h43min

Atualizada em: 08/02/2020 - 14h59min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Cristine Rochol / Divulgação PMPA
As 10 especialidades que tinham maior fila de espera em 2018 apresentaram redução no final do ano passado

O número da fila de espera do Sistema Único de Saúde (SUS) em Porto Alegre caiu quase pela metade em um ano. A redução chegou a 45,73% — eram 79.331 solicitações no fim de 2018, número que ficou em 43.050 em dezembro passado.

A mudança de patamar pode ser notada onde os gargalos eram maiores. As 10 especialidades que tinham maior fila de espera em 2018 apresentaram redução no final do ano passado. O maior enxugamento de solicitações foi na área de neurologia pediátrica. Em 2018, eram 3.129 pedidos de atendimento, número que foi para 1.216 no último dezembro — redução de 61,14%. 

A menor redução entre as 10 especialidades com maior número de solicitações ficou na oftalmologia geral para adultos. No final de 2018, eram 7.470 solicitações na fila. Em dezembro do ano passado, eram 5.107 pedidos — queda de 31,63% na demanda.

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O objetivo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), é estabilizar o número de solicitações e fazer com que todas as especialidades sejam atendidas dentro dos tempos adequados _ 30 dias para casos prioritários e até 90 dias para casos gerais. Conforme projeção do secretário adjunto da pasta, Natan Katz, a ideia é cumprir esta meta ainda no primeiro semestre.

Tempo

Apesar da mudança nos números significar menos gente esperando para ser atendida em procedimentos de média e alta complexidade, o desafogo na fila do SUS não representa, necessariamente, menos tempo esperando por atendimento.

Analisando as 10 especialidades que tinham as maiores médias de espera no final de 2019, é possível perceber que a demora para ser atendido cresceu ainda mais, se comparado com os número de dezembro de 2018. Apenas três das 10 modalidades de consultas especializadas tiveram redução no tempo médio de espera por atendimento. Os prazos considerados são para casos gerais, não prioritários.

O maior aumento foi na área de reabilitação auditiva para adultos — onde maior parte dos pacientes espera por um aparelho auditivo. Em 2018, eram 558 dias  — cerca de um ano e cinco meses — de espera, em média, para conseguir atendimento. No final do ano passado, esse número saltou para 1.275 dias — mais de três anos e quatro meses. A demora para conseguir consultar nesta especialidade não é algo novo. Na metade de dezembro, GaúchaZH fez uma reportagem que enumerava as razões para esta espera. Uma delas, a baixa oferta de consultas, começou a ser combatida com a entrada do Hospital Santa Ana no sistema. Pacientes desta fila começaram a ser encaminhados para o local.

Leitor DG / Arquivo Pessoal
Bruna Guterres aguarda para cirurgia desde outubro de 2017

Entre as especialidades que reduziram tempo de espera, aparecem neurocirurgia na área da coluna — 33,79% menos tempo —, neurologia com foco em demência — redução de 41,44% — e a cirurgia da obesidade mórbida, que tinha o mais longo tempo de espera em 2018 — eram 668 dias, agora são 516, uma redução de 22,57%.

Para quem espera, o tempo médio é simbólico. Em outubro de 2017, a dona de casa Bruna Guterres, 33 anos, foi encaminhada para uma cirurgia de redução do estômago. Somente em agosto do ano passado, mais de dois anos depois, ela foi chamada para a primeira consulta no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

— Nesta primeira consulta, me encaminharam para fazer uma bateria completa de exames. O retorno deste atendimento é agora, em fevereiro — conta ela.

Depois disso, conforme foi informada, Bruna terá de passar mais de dois anos em acompanhamento, para depois, ser encaminhada para a cirurgia.

— Estou na fila desde 2017, mas já são mais de quatro anos desde que iniciei a busca pelo atendimento. Tentei entrar na fila pela primeira vez em 2014, mas fui considerada "insuficiente", no caso, disseram que não era obesa o bastante. É complicado, já luto contra a obesidade desde os 14 anos. Tentei todos os tipos de dietas, a cirurgia é a opção que ainda me resta — compartilha ela.


Variação no tempo de espera demora mais a mudar

Secretário adjunto da pasta municipal da Saúde, Natan Katz está envolvido no trabalho de redução da fila desde que a prefeitura passou a dar maior atenção para a questão, no final de 2017. Segundo ele, a redução atingida até dezembro já está próxima do limite que a fila deve alcançar.

— Não vamos tão além disso. Havia muita demanda antiga acumulada, conseguimos lidar com isso. Alguns especialidades ainda precisam desse olhar individual. Mas, no geral, a fila já diminuiu e está chegando num patamar que deve ser estável — explica Natan, pontuando que a prefeitura oferece cerca de 30 mil consultas por mês, número próximo ao total atual da fila.

Sobre o aumento nos tempos de espera, o secretário ressalta que este é um indicador que demora mais a sentir o impacto das mudanças. Por isso, mesmo com a implementação de serviços, como maior oferta de consultas e uso do teleatendimento na rede básica, que auxiliam a diminuir o número de solicitações, algumas especialidades permanecem com alto tempo de espera.

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— Se um paciente precisou fazer várias reconsultas e, no fim, demorou mais de mil dias para ter o procedimento realizado, ele puxa este tempo médio para cima. É algo diretamente ligado a antiguidade dos pedidos. Mesmo ao melhoramos a oferta para atender estes casos, ainda temos de ir recebendo também os prioritários. Até toda a demanda antiga sumir, sendo que ela é atendida junto de outros casos nem tão antigos, o tempo médio permanece alto—  compara o secretário.

Centralização

As filas que apresentaram redução, principalmente na área de neurologia e neurocirurgia, são gargalos atacados já há alguma tempo pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Porém, agora é que os efeitos estão sendo sentidos. A administração ainda está inserindo no sistema diversas especialidades que antes tinham apenas registros em papel, impedindo uma abrangência de atendimento.

— Existiam algumas especialidades que só quem morava numa região específica conseguia ser atendido. Colocando isso no sistema, sabemos a demanda real, podemos centralizar a oferta e permitir que toda a cidade possa ser contemplada — projeta Natan.


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