Seu Problema é Nosso
Rádio é opção para aulas durante a pandemia em Osório
Projeto idealizado por professores da rede municipal busca atender estudantes que não possuem acesso à internet
Foi pensando em atender a todos os alunos que estão longe das salas de aulas, que professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental Osvaldo Amaral, em Osório, no Litoral Norte, iniciaram o projeto “Educação nas Ondas do Rádio”. A pandemia de coronavírus forçou estados e municípios a suspenderem as aulas presenciais como forma de evitar a proliferação da doença. Assim, o conteúdo transmitido por meio do rádio pode alcançar alunos que não possuem acesso à internet ou, até mesmo, o aparelho celular.
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– Nós, professores, entendemos que haviam pais sem condições de pagar pela internet em casa. Em conversa com a diretora e com o presidente da rádio, conseguimos espaço para a escola, duas vezes na semana, com programas de uma hora de duração. Agora que temos a oportunidade, vamos aproveitar – conta o professor de língua portuguesa e idealizador do projeto, Paulo Marcelo Rech, 55 anos.
A aula é transmitida pela rádio comunitária 98 FM nas terças e quintas-feiras, a partir das 11h. Conforme o professor, além do rádio, o aluno tem a opção de acompanhar a gravação, que fica disponível após o horário da aula.
– A escola tem um blog e conta no Facebook em que informamos aos alunos sobre a programação. Os professores também conversam com as turmas por WhatsApp, durante a aula e depois também, para interagir e tirar dúvidas que surgem. Pós-pandemia, queremos manter o projeto, mas com a proposta de trazer os alunos até a rádio – detalha o professor.
Aproxima
Além de ser uma das soluções para a aprendizagem aplicada durante a pandemia, o recurso tem aproximado alunos dos professores. Para a diretora Mailor Cristina Kingeski, 50 anos, o rádio, como meio de comunicação, é canal eficiente que leva informação para pais e estudantes.
– Queríamos esse projeto de rádio na escola antes da pandemia começar. Com todo o contexto do coronavírus, pensamos uma maneira de atingir o maior número possível de alunos. É um projeto grandioso que tem dado certo – destaca a diretora da escola que possui cerca de 900 matriculados do 1º ao 9º ano.
Segundo Mailor, cada programa é destinado para o atendimento de uma série, ou seja, o professor se prepara para passar um conteúdo que seja compreendido por alunos de uma mesma faixa etária. No final, o educador deixa uma atividade que pode ser entregue por e-mail, WhatsApp ou na escola. O agendamento das aulas é planejado antecipadamente para que haja a divulgação aos alunos. A proposta das aulas também inclui trazer convidados com dicas para facilitar o aprendizado em casa.
Auxílio
– Ouvir o professor no rádio é acolhedor. Os pais nos mandam fotos mostrando que os filhos escutam. Se não fossem os recursos que estamos usando, como a aula pelo rádio e os materiais pela internet, não atingiríamos nem 20% dos estudantes – explica a diretora, salientando que ainda não há previsão do retorno presencial no município.
Para a servente Marilei Aliardi, 33 anos, mãe do aluno do terceiro ano Luis Felipe Aliardi Lopes, nove anos, o rádio tem auxiliado na hora de ajudar o filho em casa:
– É difícil para nós (pais) e para ele nos acostumarmos com as novas formas. Mas, escutar a professora falando parece que deixa ela mais próxima e, ao mesmo tempo, podemos mandar uma mensagem se tivermos dúvidas. Ele sente falta das aulas de educação física. Não é a mesma coisa estar em casa, mas estamos aprendendo junto com nossos filhos.
Passo a passo para o ensino por meio do rádio
No início deste mês, o Núcleo de Estudos de Rádio (NER), da UFRGS, lançou o livro digital “Dez passos para o ensino emergencial no rádio em tempos de covid-19”. O conteúdo da obra tem como público-alvo professores, com uma proposta de solução para o problema: contornar a ausência de aulas presenciais e a falta de acesso de estudantes à internet ou à telefonia celular.
– A ideia do livro surgiu quando uma professora me mandou a pergunta: “Como eu faço para dar aula pelo rádio?”. Pensamos em uma proposta emergencial, como meio paliativo, mas que não substitui a aula presencial. Basicamente, os dez passos orientam o professor, que já tem habilidade com o conteúdo, a passar seu conhecimento como um bate-papo com outro educador e em módulos com um certo nível de redundância – explica a professor e coordenador do NER, Luiz Artur Ferraretto.
De acordo com ele, o rádio tem sido usado em diversos Estados e até de forma mais avançada do que no Sul. Ele destaca que o meio tem potencial para diminuir os impactos da suspensão das aulas.
– É possível colocar em prática de forma simples e barata, e também sofisticada, com investimentos. O sinal do rádio está distribuído de uma forma melhor, atenua o problema, mas existem limitações. Disciplinas que necessitam de demonstrações, precisariam de articulação entre TV e rádio.
Gratuito
Professores interessados em conhecer e implementar aulas via rádio ou áudios, que podem ser enviados, conseguem acessar o livro, disponível gratuitamente para download neste link.
Produção: Caroline Tidra