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Convivência animal 

Jacarés provocam alvoroço em bairro de Guaíba

Circulando pelas ruas, atacando cão e até entrando no hospital, são muitas as histórias surgidas nas últimas semanas, após fortes chuvas.

16/12/2020 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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André Ávila / Agencia RBS
Répteis e pedestres convivem, cada um no seu canto, há cerca de 10 anos

A vizinhança agitada do bairro Santa Rita, em Guaíba, voltou a chamar atenção dos moradores. Com o volume de chuvas das últimas semanas, os jacarés-de-papo-amarelo que vivem em valos das principais ruas da comunidade deram mais as caras. Como o nível dos valos subiu, alguns dos animais chegaram a circular pela rua, causando alvoroço, apesar de os moradores demonstrarem tranquilidade com a presença dos animais que, segundo relatos, estão há mais de 10 anos na localidade.

Só que, para além da chuva e do passeio no asfalto, não longe dali, um dos répteis entrou no Hospital Berço Farroupilha e precisou ser retirado pelo Corpo de Bombeiros. Vídeo que circula nas redes sociais mostra os agentes da corporação retirando o animal, que estava embaixo de algumas cadeiras na área de acesso. 

Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Vídeo mostra pequeno jacaré sendo retirado do Hospital Berço Farroupilha

Segundo a prefeitura, por meio das tubulações de esgoto, os animais se movimentam entre a região do bairro Santa Rita e um açude próximo do hospital. 

Na tarde desta terça-feira (15), a reportagem do Diário Gaúcho circulou pela comunidade e, em menos de uma hora, localizou três jacarés tomando banho de sol. Um dos animais estava a menos de três metros da pista e bem próximo de onde moradores – muitos sem nem notar a presença do bicho – circulavam. Como a presença é tão rotineira, só com a chegada da reportagem é que alguns moradores notaram que o “vizinho” estava próximo. 

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A dona de casa Jandira Ribeiro, 91 anos, se protegia do sol forte com uma sombrinha. Entretanto, nem notou o animal que lhe espreitava a poucos metros. Questionada, demonstrou surpresa:

– Eu nem tinha visto, senão, não passava ali. Que perigo, na idade que eu estou, se me pega, não ia conseguir reagir. A gente vê muitos por aí, ainda bem que nunca atacaram ninguém.

Em tom bem-humorado, a maioria dos moradores não se diz incomodada com a situação. Entretanto, um relato de que um dos animais teria atacado um cachorro recentemente causou desconfiança. Entre os moradores ouvidos, ninguém presenciou o fato, apenas ouviu a história. Durante a presença da reportagem, muitos cães passavam pela área, mas não despertaram qualquer reação dos jacarés.

André Ávila / Agencia RBS
"Estão bem alimentados", diz tatuador

Com um estúdio na avenida onde fica um dos valos no qual os jacarés vivem, o tatuador Luciano Coelho, 42 anos, diz que nunca viu os répteis atacando. A única diferença que nota é o tamanho – segundo ele, os animais estão cada vez maiores:

– Dá para ver que eles estão bem alimentados, não sabemos como. 

O encarregado aposentado Luís Carlos Gomes, 50 anos, diz que durante a chuvarada da semana passada, sua filha registrou um dos animais andando pela rua. Ele não acredita que houve ataque a um cachorro, mas acha, por vezes, arriscada a proximidade.

– Problema é quando a chuva faz eles saírem para a rua, aí é perigoso mesmo. Mas, do jeito que é agora, não vejo problema. Importante é não aproximar, cada um no seu território.

Proteção para a cachorrinha Dumbo

André Ávila / Agencia RBS
Cercadinho anti-jacaré para cadela comunitária

Mesmo sem confirmação de que um dos jacarés teria atacado um cão no bairro Santa Rita, a história que corre pelas ruas fez com que a comerciante Silvana Czaplicki, 38 anos, construísse uma área de proteção para a cachorrinha Dumbo, mascote adotado por ela e quem trabalha na agropecuária onde é sócia. Dumbo tem costume ficar deitada no gramado próximo ao valo, embaixo de uma pequena árvore.

– Quando está fresquinho, deixamos ela ali com água e ração. Ela adora. Mas, como soubemos dessa história, achamos melhor fazer uma proteção – conta Silvana.

Com o calorão de ontem, a cachorrinha preferiu ficar no pátio do comércio, onde tem uma casinha com o nome estampado na entrada. Longe do calor e, principalmente, dos jacarés.

Açude próximo a hospital deve ganhar cerca

Segundo o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Selito Carboni, não há muito o que a prefeitura possa fazer em relação aos animais. Isso porque o valo onde eles habitam tem ligação com o Guaíba. Então, se os animais são levados para lá, eles voltam. Carboni também ressalta que não chegou ao conhecimento da prefeitura nenhuma notícia de ataque a cão pelos jacarés.

Em relação ao caso do hospital, ele diz que os bichos ficam em um açude ligado a rede de valos, por isso circulam entre o bairro e o local. O fato de o réptil ter entrado no hospital é “caso isolado”. Ainda assim, ele diz que a prefeitura planeja cercar o açude com telas que limitem a movimentação dos animais. Entretanto, não há prazo:

– A nossa orientação é a de sempre: manter a distância, não alimentar e em casos que eles saiam da água para o perímetro urbano, fazem contato com autoridades, como os Bombeiros, para intervir.


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