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Solidariedade na periferia

Com doações de alimento em queda, iniciativas lutam para matar a fome em comunidades

A reportagem revisitou entidades que se destacaram no ano passado e também apresenta outras frentes de apoio que dependem de contribuições; saiba como ajudar

14/04/2021 - 12h45min

Atualizada em: 14/04/2021 - 13h11min


Félix Zucco / Agencia RBS
Nira Martins (à frente) representa Coletivo Autônomo do Morro da Cruz

Desde o início da pandemia do coronavírus, o Diário Gaúcho mostra campanhas de entidades que promovem ações solidárias a fim de não deixar faltar alimento às famílias que vivem em situação de vulnerabilidade social. No entanto, o agravamento do quadro da doença no Brasil, somado ao término da primeira fase do Auxílio Emergencial, colocou novamente em evidência um dos problemas crônicos do país: a fome. 

Conforme a antropóloga Lucia Scalco, que está à frente do Coletivo Autônomo Morro da Cruz, na Capital, a fome atingiu aqueles que não têm onde procurar apoio e também alcançou pessoas que, antes, não precisavam desta ajuda.

O relato das lideranças comunitárias é quase sempre o mesmo: enquanto a arrecadação de doações caiu, a quantidade de pessoas em busca de alimentos cresceu. A reportagem revisitou iniciativas que se destacaram no ano passado e também apresenta outras frentes de apoio para que a corrente de solidariedade não se rompa neste momento. Conheça algumas delas e saiba como ajudar. 

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Coletivo Autônomo Morro da Cruz cria conexão com famílias

Localizado na zona leste de Porto Alegre, o Coletivo Autônomo Morro da Cruz idealizou estratégias, no ano passado, para chegar às famílias que precisavam de alimentos. Com apoio de parceiros, pensou no uso da tecnologia e de ferramentas de geoprocessamento para alcançar os mais necessitados. No entanto, a estratégia foi remodelada com o passar dos meses.

– Havia a distribuição de cestas básicas para famílias cadastradas, mas muitos ficavam em volta, pedindo comida. E como vamos escolher quem tem direito ao alimento? – questiona a presidente do Coletivo Autônomo, Lucia Scalco. 

Félix Zucco / Agencia RBS
Nira Martins (E) entrega itens para Stefanny Oliveira Pinto (D)

Então, a instituição, que desenvolve projetos na comunidade, percebeu que a melhor estratégia para ajudar as famílias é a conexão com elas. Hoje, são atendidos 50 crianças e jovens em atividades no contraturno escolar, que foram adaptadas ao formato digital. Conforme Lucia, a prioridade é construir um relacionamento com as famílias dos alunos para transformar realidades:

– Um ano depois, focamos em algumas regiões e aprendemos, nesse tempo, que a regularidade faz toda a diferença, é o pulo do gato. 

Nascida e criada no Morro da Cruz, a vice-presidente da ONG, Nira Martins, conhece de perto a realidade das famílias. Seu olhar sobre as vulnerabilidades da comunidade foi ampliado pelas três vezes em que foi conselheira tutelar:

– Mudamos nosso atendimento. Nos demos conta de que havia recicladores, autônomos sem acesso à internet e, assim, ao cadastro. Isso nos deixou em uma situação de real tristeza. 

Lideranças

Com um filho e um enteado vinculados à ONG, a estudante de Direito Stefanny Oliveira Pinto, 29 anos, recebeu a cesta básica do mês na semana passada. Segundo ela, o trabalho da instituição vai além do alimento:

– A ONG nos acolheu e nos serve de refúgio, onde encontramos socorro também em outras áreas de assistência. Fiz curso pelo projeto Construindo o Futuro, que ajuda os pais a se prepararem para o mercado de trabalho ou para abrir um negócio. Todo o trabalho tem sido de extrema valia, já que o Estado não tem nos amparado. 

O Coletivo também auxilia lideranças solidárias:

– Apoiamos quem se disponibiliza a fazer quentinhas e distribuir. Como uma das moradoras, que distribuiu cerca de 80 potes com comida há duas semanas. Além disso, a ONG tem projetos para as famílias, porque, para ajudar uma criança, tem que proteger a família como um todo. 

Nira conta que, além das 50 famílias acompanhadas, todo mês, mais de 150 núcleos são ajudados com kits de alimentos e cestas básicas:

– A fome não espera. Pessoas que ajudavam no início da pandemia, hoje estão precisando de ajuda.  

Contribua!
/// Valores: pelo PIX 34.426.595/0001-63 (especificar que é para compra de cestas).
/// Entregas: na Travessa Vinte e Cinco de Julho, 1.572, bairro São José (de segunda a sexta-feira, das 13h às 17h).
/// Mais informações: (51) 98182-6538.

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Félix Zucco / Agencia RBS
O Diário mostrou essa história em duas edições, em abril e agosto de 2020

Almoço Humanitário que se multiplicou

— Entrou aqui, vai comer. Não importa classe social, gênero ou aparência. 

A declaração do pastor da Igreja Batista Carlesso Lameira descreve como o Almoço Humanitário funciona no Vale do Sinos. A iniciativa, que distribui refeições de graça para pessoas em situação de vulnerabilidade social, começou de forma improvisada no pátio da residência do pastor José Carlos Paz, colaborador do projeto, em julho de 2019. À época, 80 pessoas recebiam o alimento. O Diário mostrou essa história em duas edições, em abril e agosto de 2020. 

Na pandemia, a iniciativa ganhou mais quatro pontos e ampliou a capacidade de atendimentos, chegando a distribuir cerca de 600 refeições diárias. Para dar conta da demanda, são necessários mensalmente mais de 350 quilos de arroz, 220 de feijão, 150 de polenta, 75 de proteína e 12 botijões de gás. Sob uma perspectiva religiosa, os pastores creditam a Deus o alimento que não falta. 

– Avaliamos a partir da nossa percepção de fé, quem supre é Deus a partir de pessoas. Valorizamos essa rede de mantenedores que temos, pois essas pessoas ainda possuem sentimentos muito valiosos que são o altruísmo e a empatia. Temos que fazer perceber que isso é muito importante – afirma o pastor José Carlos. 

Segundo José Carlos, os voluntários do projeto são pessoas que chegaram em busca de alimento: 

– Houve essa evolução por meio do contato conosco, ajudando eles. Essas interações acabam construindo outra forma de ver o mundo e as dificuldades. 

A ideia dos líderes é tornar mais pontos como referência do projeto do Almoço Humanitário. 

– Nossa intenção hoje é montar mais um local para que futuramente ande sozinho. Para isso, precisamos de organização e de voluntários. Nossa ação como igreja é mostrar nosso amor através da fé e o amor de Deus é visível por meio da ação – afirma o pastor Carlesso. 

O pastor faz um alerta sobre golpes que envolvam o Almoço Humanitário:

– Não temos o costume de receber em dinheiro, preferimos sempre o alimento ou o gás. Por isso, quem receber ligações dizendo que é do Almoço Humanitário, pode confirmar diretamente comigo. 

Ajude!
/// Para doar alimentos ou oferecer-se como voluntário, contate os pastores pelo WhatsApp (51) 99189-3256 (José Carlos) ou (51) 99103-0400 (Carlesso).

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Campanha por cestas básicas

No bairro Mario Quintana, a ONG Sociedade União Vila dos Eucaliptos (Suave) tem trabalhado para dar suporte às 36 vilas que constituem a região. Inaugurado em 1990, há 30 anos o grupo desenvolve ações junto à comunidade, em sua maioria focadas  em educação e cultura. 

Porém, a chegada da pandemia exigiu que sua principal prática se voltasse à urgente demanda da busca de alimentos. Logo no início da pandemia, houve uma grande onda de solidariedade. Mas o tempo passou, e a ajuda diminuiu. 

– No primeiro ano, conseguimos atender muitas famílias. Mas, de julho em diante, as ajudas foram caindo e, quando acabou o Auxílio Emergencial, as doações foram quase à zero – comenta Wagner Marques, 39 anos, integrante da ONG e coordenador da ação Mario Quintana Contra a Fome. 

Desde 2011, a ONG Suave possui a Escola de Educação Infantil Espaço do Saber, que atende 80 crianças entre zero e cinco anos. Antes da pandemia, além das aulas, as famílias dos alunos recebiam cestas básicas. Mas, em 2020, o atendimento se espalhou pela região.

– São pessoas que tinham recursos, mas acabaram perdendo – relata Wagner. 

Hoje, a organização atende também famílias dos bairros Rubem Berta, Bom Jesus e Morro da Cruz. O foco da atual campanha busca levar a mensagem de que a necessidade de doações segue, e é até maior do que no início da pandemia.  

Apoie!
/// A ONG lançou vaquinha online para a montagem de 500 cestas básicas.
É possível ajudar através do link vaka.me/1063903 ou pela chave PIX (51) 998066667.

O dobro de pedidos de comida

Por meio da arrecadação de alimentos, a Paróquia São Jorge, no bairro Partenon, na Capital, realiza a distribuição de cestas básicas a quem precisa. Segundo a dentista Beatriz Bruscato, 58 anos, a ação é promovida pela igreja há 30 anos. Ela coordena o projeto há cinco anos. Os recursos chegam via Pastoral Social da paróquia. Segundo ela, a campanha atende a cerca de 130 famílias que vivem no entorno. 

A paróquia, hoje, realiza a entrega das cestas básicas no terceiro sábado de cada mês. Beatriz explica que a arrecadação funciona de diversas formas: desde encontros de novena na igreja, até por doação espontânea. 

– A pastoral tem uma campanha permanente de arrecadação de alimentos. Nas quintas-feiras nós temos uma novena em quatro horários. Deixamos uma cesta no altar e pedimos às pessoas que levem os alimentos – enfatiza.

Durante a pandemia, o número de pedidos por cestas básicas dobrou. Segundo a dentista, em fevereiro e março deste ano, o estoque de alimentos diminuiu. No entanto, nunca chegou a faltar para os kits.  Além dos alimentos, a Pastoral Social distribui roupas e enxovais infantis a famílias carentes. Atividades como o brechó solidário também visam obter fundos para a compra de produtos. 

Doe!
/// Doações de alimentos e roupas podem ser feitas na Avenida Bento Gonçalves, 2.948. Para doações em dinheiro, use o PIX com a chave saojorgerspoa@gmail.com.
/// Mais informações: (51) 3336-7210 e (51) 99402-2744.

Conheça outras ações:

/// Coração solidário: Em Viamão, o projeto Coração de Rua tem ajudado em média 50 famílias de diferentes regiões do município. O projeto, que começou há pouco mais de dois meses, atendia, em março, 10 famílias. No período de um mês, tiveram por volta de 40 novos pedidos de ajuda. O projeto atua principalmente na doação de alimentos para essas pessoas, e pede apoio tanto de materiais quanto de valores em dinheiro. Para doar, é possível fazer transferências PIX ou entrar em contato pelo número (51) 98659-8308.

/// Força da entrega: A ONG Juntos Somos mais Fortes, criada em março de 2020, surgiu para colaborar no combate à fome e cresceu durante a pandemia. O grupo possui diversas frentes de atuação, como entrega de marmitas, distribuição de lanches para crianças e cafés para pessoas em situação de rua, além das doações de agasalhos e alimentos. No total, eles possuem 14 comunidades de Porto Alegre cadastradas. Para ajudá-los, é possível fazer transferência pela chave PIX 67740006068 ou entrar em contato pelo WhatsApp (51) 98513-2834. 

/// Cultura e empatia: Por meio de diferentes parcerias, o projeto Embolamento Cultura, do bairro Rubem Berta, na zona norte de Porto Alegre, está realizando campanhas de solidariedade em apoio às famílias impactadas pela pandemia. No último ano, foram mais de 10 toneladas de alimentos entregues para 12 regiões de Porto Alegre. Além da doação direta de alimentos, já fizeram a distribuição de vales-alimentação, produtos de higiene e gás de cozinha. Para ajudar o grupo, entre em contato pelo telefone (51) 99178-6002.

/// Comida por máscaras: O grupo Anjos da Lomba está realizando diversas atividades de apoio às comunidades do bairro Lomba do Pinheiro, na Capital, durante a pandemia. Atualmente, lançaram uma campanha onde fazem a troca de máscaras por alimentos que são utilizados para a montagem de cestas básicas. As máscaras são confeccionadas pelo próprio grupo, em parceria com costureiras da região. Para saber mais, é possível entrar em contato pelo e-mail anjosdalomba2006@gmail.com ou pelo telefone (51) 99982-9610. 

Produção: Caroline Tidra, Émerson Santos e Vitória Fagundes

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