Zona Norte
Após dois anos, última família deixa Vila Nazaré para obras de ampliação do aeroporto Salgado Filho
Empresa contratada pela Fraport realiza a demolição da última casa para dar andamento à expansão da pista
Dois anos depois do início do reassentamento, os últimos moradores deixaram a Vila Nazaré, na zona norte de Porto Alegre, na tarde desta segunda-feira (12). Foram realocadas, ao todo, 1.011 famílias para viabilizar as obras de ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho.
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A dona de casa Maria Aparecida da Silva Garcia, 43 anos, e o esposo Luis Ronaldo Santos Cardoso, 46 anos, que trabalha com limpeza de pisos, se despediram da casa já parcialmente demolida na esquina das ruas D e G, a única ainda de pé. O casal ajudou na mudança do sobrinho Luis Renan, que morava no mesmo terreno, e carregou também os vira-latas Koda e Preto assim que as autoridades municipais deixaram o local.
O prefeito Sebastião Melo, o vice-prefeito Ricardo Gomes e o secretário de Habitação e Regularização Fundiária André Machado estiveram entre os presentes. Melo destacou que o reassentamento possibilita à Fraport estender a pista do Salgado Filho, o que pode trazer benefícios para a economia do Estado:
— O Estado vai poder receber mais importações e exportar mais, isso gera renda.
Ele lamentou ainda que o reassentamento tenha “levado tanto tempo”, destacando que a área não é própria para moradia. Apontando para os casebres ao lado, da Vila Pepino — que não atrapalha os planos da Fraport —, destaca que essas 80 famílias também estão sendo convidadas a ocupar unidades no condomínio Irmãos Marista, no bairro Mario Quintana, construído por meio do Programa Minha Casa, Minha Vida.
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Esse foi o destino da maior parte das famílias da Vila Nazaré: 668. Outras 364 foram instaladas no Senhor do Bom Fim, no bairro Sarandi. Quanto aos moradores que não aceitaram ir para esses condomínios e fizeram acordo judicial com a empresa, não é possível mapear para onde se mudaram, conforme o secretário André Machado. Ao todo, 51 famílias tiveram seus casos ajuizados pela Fraport. As audiências judiciais iniciaram em março, e as primeiras decisões da Justiça Federal saíram em abril.
Maria Aparecida e Luis Ronaldo já tinham mostrado interesse em se mudar para o condomínio Irmãos Marista, mas tiveram problemas de documentação. Ele morava ali há 21 anos, quando veio de Alegrete para trabalhar com o pai em obra. Residiam com o casal três filhas, de nove, 12 e 15 anos, e uma sobrinha de seis. Em um puxadinho, vivia a irmã de Luis e seu sobrinho. A mudança já havia começado no sábado (9). Empresa contratada pela Fraport já realizava a demolição da casa nesta segunda.
A casa para onde vão é menor: tem dois, e não três quartos, como estavam habituados, e tem áreas comuns mais espremidas também. Maria ainda está um pouco apreensiva pensando como será a nova vizinhança.
— É um lugar que a gente não conhece ninguém. Aqui nunca mexeram com a gente — relata.
Mas estão animados em trocar o barro por um calçamento, além de melhores condições sanitárias — contam que, em razão do lixo acumulado nas ruas, encontravam muitos ratos e baratas.
Outra questão que agrada a dona de casa é a infraestrutura do novo bairro: estão em obras de duas praças, que deverão ser entregues até agosto, e prefeitura também já confirmou a construção de uma Unidade Básica de Saúde dentro do loteamento.
Após visita à Vila Nazaré, uma equipe da prefeitura se reuniu com a direção da Fraport e confirmou o término do reassentamento da área do chamado sítio aeroportuário.
A história da Vila Nazaré
Relatos de moradores mais antigos da Nazaré dão conta de que o início da ocupação da área ocorreu por volta de 1960. Os primeiros domicílios construídos formaram quadras bem delimitadas. Ao longo dos anos, aumentou o adensamento populacional, ou seja, o número de domicílios em uma determinada área.
A região da Vila Nazaré foi gravada como pertencendo ao aeroporto em 1969. Agora, 52 anos depois, ela será realmente utilizada pelo aeroporto. O reassentamento da Nazaré iniciou exatos 10 anos após o começo das mudanças das famílias da Vila Dique, que ficava ainda mais próxima da pista do aeroporto. As famílias da Dique hoje vivem no Condomínio Porto Novo, ao lado do Complexo Cultural do Porto Seco, também na Zona Norte.