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Lomba do Pinheiro

Escola municipal da Capital incentiva valorização da cultura indígena

EMEF Saint-Hilaire promove, de 31 de agosto a 3 de setembro, uma feira literária com mais de 15 convidados de diferentes partes do país

30/08/2021 - 08h00min


Reprodução / Arquivo Pessoal
Biblioteca foi utilizada para contações de histórias e preparo de comidas

A Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Saint-Hilaire, no bairro Lomba do Pinheiro, na Capital, promove de 31 de agosto a 3 de setembro a Feira Literária Saint-Hilaire, a FLISH 2021. A feira literária já faz parte do currículo pedagógico da escola e a equipe responsável por coordenar as atividades do evento, a partir das temáticas sugeridas pela comunidade escolar, é a da biblioteca. A temática da feira este ano é inspirada em uma frase dita pelo autor baiano Ademario Ribeiro, 62 anos: “A literatura indígena é uma flecha que voa em várias direções”.  

A feira ocorrerá em formato híbrido, ou seja, será presencial para uma parte dos alunos e virtual para os estudantes que acompanham as aulas de casa. Além disso, outras instituições de ensino municipais foram convidadas para que os alunos possam participar das conversas virtuais. Ao todo, serão cerca de 15 convidados entre escritores, músicos, pesquisadores, lideranças comunitárias, antropólogos, professores e chefs de cozinha. A equipe que organiza o evento também preparou uma revista virtual em que são apresentados os convidados, dicas de leitura e dados sobre a população indígena no Brasil.  

Valorização 

De acordo com a coordenadora cultural e responsável pela biblioteca da EMEF Saint-Hilaire, Maria Gabriela Pires de Souza, 35 anos, a proposta do evento é gerar a valorização da cultura indígena. Durante uma pesquisa realizada na escola, em março de 2020, Gabriela se deu conta de que não havia, no acervo literário da instituição, livros escritos por autores e autoras indígenas. 

– Constatar isso me causou um desconforto muito grande. Fiquei pensando porque nunca me questionei sobre isso antes da pesquisa – destaca a professora.  


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Durante a pandemia a equipe da biblioteca procurou realizar formações virtuais sobre literatura indígena. Até que na feira literária do ano passado uma das sugestões recebidas foi de que o evento deste ano abordasse esta temática. 

União 

Através de contações de histórias os professores prepararam os alunos para os encontros com os convidados. Estudantes que estão participando das aulas virtualmente, receberam vídeos das atividades para que também pudessem acompanhar o conteúdo. 

– É um aprendizado em que todo mundo tem a oportunidade de correr atrás do tempo perdido – afirma Maria Gabriela.  

As professoras da biblioteca também contaram, para curadoria e organização do evento, com a participação da professora amazonense Raquel Rodrigues Kubeo, 31 anos, que há três meses leciona na EMEF Saint-Hilaire. Gabriela explica que a contribuição de Raquel foi essencial para que a feira fosse pensada sem reproduzir estereótipos e de forma respeitosa. Outra contribuição importante foi a dos estudantes dos anos finais. Eles auxiliaram na contação de histórias para as turmas das séries iniciais e organizaram uma performance que será apresentada durante a feira.

Reprodução / Arquivo Pessoal
Alunos ajudaram na produção do evento

Resgate de ancestralidade e acesso a direitos

De acordo com a professora Raquel Rodrigues Kubeo, a feira se tornou uma ótima oportunidade para incentivar a leitura entre os alunos. Atualmente, a professora faz parte de uma comunidade indígena urbana multiétnica, em Porto Alegre, no bairro Cidade Baixa, administrada pelo Centro de Referência Indígena-Afro do Rio Grande do Sul. Ela destaca que a chance de conhecer histórias que puderam ser publicadas é uma forma de aprender sobre as culturas das diversas etnias indígenas que existem no país. Para ela, tem sido muito animadora a possibilidade de diminuir cada vez mais o preconceito e o racismo contra as pessoas indígenas. 

– A gente percebe nos alunos que há curiosidade, escuta e muito respeito ao ouvir as histórias – alega a professora. 

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Raquel acredita que o evento também colabora com o acesso a um direito básico: o de conhecer a história das populações que fazem parte da cultura brasileira:  

– A lei 11.645 garante a elas (as crianças) o direito de aprender a história indígena e negra. E esse trabalho deve ser multidisciplinar. 

Devido à pandemia, a biblioteca da escola não estava sendo utilizada pelos alunos. Empréstimos de livros e consultas aos materiais estavam suspensas. Porém, com a realização da feira, o espaço também pode ser ressignificado. Aos poucos, os alunos voltaram a frequentar o local para as contações de histórias. O preparo dos materiais que decoram a escola e de algumas comidas típicas da cultura indígena também passaram a ser feitos no espaço.  

O estudante Vinicius Santos Pieluhowski, 11 anos, aluno da turma B14, conta que antes dos encontros preparatórios para a FLISH, não conhecia nada sobre a cultura indígena: 

– Eu falava “índio “e “índia”. Em um livro, eu descobri que índio é um elemento da tabela periódica. Chamamos eles de indígenas. Ainda acho errado falarem que foi Pedro Álvares Cabral quem descobriu o Brasil sendo que já tinha pessoas morando aqui. 

Segundo o diretor da EMEF Saint-Hilaire, Angelo Alexandre Marcelino Barbosa, 37 anos, o evento que começa amanhã é apenas o primeiro passo para um debate que passará a fazer parte das temáticas abordadas pela escola:  

– Queremos desmistificar, mostrar que as populações indígenas têm uma produção literária.

Reprodução / Arquivo Pessoal
A equipe responsável pelo evento realizou uma pesquisa prévia para entender a melhor forma de abordar a temática

Diversidade de saberes

O escritor baiano Ademario Ribeiro, acredita que a FLISH tem potencial para estabelecer uma conexão entre educadores e alunos com o ativismo e existência de escritoras e escritores indígenas. Além disso, para ele, o conhecimento literário contribui com a ampliação de saberes e estimula a compreensão da diversidade: 

– As escrituras indígenas revelam mundos distintos, saberes, fazeres. Aprofunda a relação com o outro. Tudo isso será dialogado e compartilhado nesses dias de evento. 

Joana Dorneles de Souza, 12 anos, aluna da turma B32, conta que conhecer a literatura indígena foi uma feliz descoberta. 

– Pra mim foi mágico. Quando começou a feira literária eu me apaixonei pela literatura indígena e aprendi muitas coisas – destaca a estudante. 

Saiba mais
/// A escola está aceitando doações de livros escritos por autores e autoras indígenas para aumentar o seu acervo. Para saber como doar entre em contato através do telefone (51) 3289-5849 ou pela página da escola no Facebook  @emefsainthilaire.

Produção: Kênia Fialho  


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