Arte como resistência
Escola Imperatriz Leopoldina, em Porto Alegre, ganha cara nova com grafites de Mauro Neri
Obra foi um presente do artista que se solidarizou com a história recente do colégio
“Deixem a escola viver de boa”, essa é a frase grafitada pelo artista Mauro Neri no muro frontal da Escola Estadual de Ensino Fundamental Imperatriz Leopoldina, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre. A escrita é acompanhada de um desenho com dois estudantes que usam mochilas no formato de uma casa amarela, marca registrada de Mauro.
O grafite foi um presente do artista para a escola, um trabalho voluntário e visto como forma de resistência por muitos da comunidade. Isso porque, recentemente, uma instituição privada procurou o governo estadual para comprar a área do Imperatriz Leopoldina. Após manifestações da comunidade, o governo do Estado encerrou qualquer negociação.
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— Assim que conheci a escola, me solidarizei com sua causa. Sabendo a importância da escola pública, deixei aquela mensagem, para mostrar para todos que ali há vida — comenta Mauro.
Diálogo
A obra, realizada na primeira metade de dezembro, foi feita em cerca de três horas em uma brecha da agenda do artista paulistano, que estava na Capital gaúcha para pintar um mural gigante, de 65 metros de altura, no prédio do Daer, na Avenida Borges de Medeiros.
O muro onde está o grafite, fica de frente para a praça Doutor João Petersen Júnior. Antes, segundo a diretora da escola, Isadora Librenza, a parede era toda branca, com algumas deteriorações.
— Para nós, foi um presente e tanto. Por aqui temos aquele entendimento de “muro branco, povo calado”, além de deixar a escola mais bonita, foi importante, também, para dialogarmos melhor com a comunidade como um todo — conta Isadora.
Em concordância com a diretora, Jennifer Giancomet, 42 anos, mãe de dois alunos — Helena, de 12 anos, e o Heitor, de oito anos –, comenta que os pais ficaram “encantados, gratos e felizes” pelo presente de Mauro.
— O grafite serve como forma de expressão, uma maneira de preservar e valorizar o patrimônio público e fortalece o elo entre os alunos da escola e a comunidade do entorno — afirma Jennifer.
A casa como memória afetiva
A relação de Mauro com o grafite começou muito cedo. Diferentemente de pessoas que recebem elogios por seus desenhos na infância, ele decidiu seguir no ramo até se encontrar, depois de adulto, com o grafite. Logo começou desenhando uma casa amarela com telhado marrom. Então percebeu que esse é o primeiro e principal desenho de muitas pessoas quando criança.
— A casa representa um lugar seguro para voltar, representa a família, uma bagagem e uma memória. Além disso, na pandemia, pensamos em ficar em casa, mas casa para quem? Quem tem o privilégio de voltar para casa? — explica o artista
Conforme foi grafitando, a casa virou uma espécie de mochila em suas obras, reforçando o sentido de “bagagem”. Graças a sua mãe, costureira, o símbolo se tornou tridimensional, uma mochila em forma de casa, que Mauro leva consigo para onde vai.
Novidade na escola
A partir deste ano, a escola, que atende do 1° ao 9° ano do Ensino Fundamental e oferece Educação de Jovens e Adultos (EJA) do 6° ao 9° ano, também terá turmas em turno integral. Além de oferecer as principais disciplinas, o colégio contará com cursos de formação de atletas, informática, agroecologia, entre outros.
— Foi um grande passo para nós. A comunidade escolar ficou muito feliz, pois os alunos são filhos de trabalhadores, que muitas vezes não têm onde deixar a criança no turno inverso, estão vamos fornecer, também, um espaço a mais de segurança — comenta a diretora.
As transferências da rede estadual vão até a próxima sexta-feira (14). Para mais informações, você pode entrar em contato diretamente com a escola pelo número (51) 3331-2910.
Produção: Leonardo Bender