Seu problema é nosso
Sonho realizado: leitora do DG conquista uma vaga de emprego
Aline dos Santos Veiga, 32 anos, é uma das personagens da reportagem de virada do ano do Diário Gaúcho
No quarto mês do ano, os três leitores do DG que estão em busca da realização dos seus sonhos contam sobre a rotina, as conquistas e as dificuldades em seus caminhos. Aline, de Viamão, após seis meses, foi contratada em uma vaga de emprego formal. A conquista, no entanto, foi precedida de momentos de insegurança. Gerson, de Cachoeirinha, decidiu se mudar novamente para ficar mais próximo da escola e do trabalho. Depois de realizar seu sonho principal, o de voltar a sorrir, agora ele deseja concluir os estudos e se reencontrar com os filhos. Delene, de Porto Alegre, segue enfrentando dificuldades para conseguir juntar o dinheiro necessário para realizar a compra de sua casa.
De carteira assinada, uma nova e especial rotina
Abril sempre é mês comemorativo para a leitora Aline dos Santos Veiga, 32 anos. No dia 13, ela celebrou mais um ano de vida. Mas uma nova conquista, sonhada havia muitos meses, se tornou mais um motivo de alegria: Aline, finalmente, conseguiu um emprego de carteira assinada.
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Desde outubro de 2021, a moradora do bairro Esmeralda, em Viamão, buscava a oportunidade de voltar para o mercado de trabalho formal. No dia 5 de abril, Aline começou a desempenhar a função de auxiliar de serviços gerais na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS):
– É um universo desconhecido, e eu estou gostando muito de aprender sobre ele.
Adaptação
A nova rotina está exigindo bastante disciplina tanto dela quanto dos filhos, Kaique, três anos, João, nove anos, e Luís, 13 anos. Agora, ela acorda às 4h e, às 6h, já está começando seu turno de trabalho. Assim, os meninos passaram a ficar aos cuidados de uma pessoa de confiança da família, até chegar o horário de irem para a escola.
Durante as primeiras duas semanas, o pai de Aline ficou responsável pelos netos até que ela encontrasse uma pessoa para cuidar deles. A adaptação, no entanto, não foi simples. Como os meninos estavam habituados a passar todos os dias com ela, nas primeiras duas semanas, a imunidade deles baixou e dois ficaram resfriados. Mas Aline diz que a notícia do novo emprego foi bastante celebrada pelos filhos:
– Quando souberam, choraram, e um deles disse: “Que alegria, mãe, agora as coisas vão melhorar”.
O incrível sentimento de ter realizado sonho
Um misto de alívio, alegria, esperança e emoção. É assim que Aline relembra os sentimentos que predominaram durante o momento em que soube que havia sido escolhida para a vaga. Após a entrevista, alguns dias se passaram e ela foi comunicada sobre a conquista profissional. Na véspera do primeiro dia, participou de uma integração em que assistiu a palestras sobre o funcionamento e a história da PUCRS.
Aline foi indicada para a vaga pelo irmão Roger Veiga, 34 anos, que também trabalha no local. A auxiliar de serviços gerais confessa que, durante o processo seletivo, a insegurança se fez bastante presente. Por não ter concluído o Ensino Médio e pela falta de experiências na carteira de trabalho, ela tinha o receio de não ser escolhida. Mas, felizmente, foi uma das selecionadas.
Como ainda não tem um setor definido para atuar, ela está conhecendo diferentes espaços da universidade. Quando for designada para um local fixo, terá também um novo horário de trabalho definido. Isso possibilitará que dê prosseguimento ao seu segundo objetivo do ano: concluir o Ensino Médio.
– Minha próxima meta é voltar a estudar. Estou muito feliz, muito realizada. Agora vou poder dar o que meus guris precisam – conta.
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Sorriso no rosto e mudanças na vida
Motivos para sorrir não faltam para Gerson. Desde 4 de março, ele faz o processo de adaptação das duas próteses que recebeu durante o tratamento odontológico realizado pela clínica Odonto Company, de Alvorada. No início de abril, ele foi até a clínica para realizar alguns ajustes necessários.
De lá para cá, o auxiliar de serviços gerais tem se sentido cada vez mais confortável com as próteses. Atividades como se alimentar em público voltaram a ser feitas com confiança:
– Este mês foi bem importante, porque eu passei a me sentir tranquilo para jantar na escola. Tenho comido diferentes tipos de carne com bastante facilidade.
Gerson conta que, por enquanto, não vê necessidade de retornar à clínica para realizar novos ajustes. Outra novidade é que o estudante optou por realizar mais uma mudança de casa.
No início deste ano ele se mudou para o bairro Vila Branca, em Gravataí. Mas, como trabalha e estuda em Cachoeirinha, resolveu retornar para a cidade onde morou até o final de 2021. Agora, explica, ele reside no mesmo bairro onde fica a Escola Municipal de Ensino Fundamental Carlos Antonio Wilkens. Assim, o tempo de deslocamento diminuiu, e o de descanso entre o trabalho e as aulas aumentou.
– Agora moro a uma quadra da escola. No dia (da mudança) foi meio corrido, mas deu tudo certo – relembra.
Tranquilidade
A rotina escolar tem sido um dos pontos altos do dia do auxiliar de serviços gerais. Segundo ele, a convivência com colegas e professores tem se tornado cada vez mais inspiradora. Ele confessa que a timidez que se fez presente nos primeiros encontros deu lugar à tranquilidade.
– A escola é maravilhosa, o pessoal é muito acolhedor, os professores têm muita paciência. Agora, as coisas começaram a fluir – alegra-se.
Na semana passada, conta um animado Gerson, ocorreu um evento sobre educação financeira. Todas as turmas do turno da noite participaram, e cada grupo ficou responsável por organizar uma etapa do evento. Todos precisavam de um representante. O aluno escolhido deveria ser desinibido, não ter problema de falar em público e ser comprometido:
– Houve uma votação, e eu fui escolhido. Fui representante da turma, uma baita responsabilidade.
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Família
Uma das consequências de ter sido usuário de drogas foi a perda da guarda dos dois filhos que, na época, eram menores de idade. Em 2007, Gerson perdeu o contato com eles e, desde então, pensa sobre como será esse reencontro. Atualmente, o único contato familiar que Gerson tem é com o irmão Chaulen, 39 anos. O estudante faz questão de estar sempre em contato com o irmão. Para ele, é essencial ter alguém de confiança com quem possa dividir as alegrias e os transtornos do dia a dia:
– Não adianta conquistar e não ter com quem compartilhar.
Quando perguntado sobre como imagina que será o reencontro com os filhos, Gerson não hesita. Afirma que a culpa ainda é muito grande por tudo o que ocorreu. Ainda assim, conta que essa é a motivação para continuar estudando e querendo progredir:
– Sei que um dia eu vou ficar frente a frente com meus filhos e, por isso, eu quero estar preparado para esse momento. Quero estar mais instruído e ser um novo homem.
Solidariedade e confiança
Datas comemorativas são sempre uma oportunidade para fazer o bem e renovar as esperanças. Para Delene Cosconetto, 43 anos, de Porto Alegre, essas datas simbolizam o que há de mais importante: a possibilidade de realizar boas ações. Durante a Páscoa, o grupo do qual Delene faz parte arrecadou doces e alimentos e doou para cerca de 500 crianças que moram na Capital:
– Não pude sair para entregar por causa da minha saúde. Mas vi fotos e fiquei muito emocionada.
Mas, infelizmente, o sonho de adquirir a casa própria ainda está distante. Durante este mês, Delene obteve apenas R$ 150 na vaquinha online que foi criada por amigos para arrecadar o valor necessários para a compra de sua casa. Para tentar melhorar a aparência do terreno que possui, ela e familiares realizam limpezas periódicas no local.
– As coisas estão difíceis, mas estou confiante de que vou conseguir realizar esse sonho – acredita.
CONTRIBUA
/// Para colaborar com o financiamento coletivo de Delene, doe pelo linkvakinha.com.br/vaquinha/uma-casa-pra-delene.
Produção: Kênia Fialho