Chegamos ao fim de dezembro. E, assim, também à última reportagem da série do Diário Gaúcho que tem acompanhado três leitores na busca por seus sonhos para 2022.

Gerson Fabiano Pacheco, 44 anos, queria voltar a ter um sorriso completo na boca e, desde março, pode dizer que isso se tornou realidade. Olhando para o ano que está no fim, o morador da Vila Tom Jobim, em Gravataí, diz que a palavra que define 2022 para ele é "recomeço".

Do bairro Esmeralda, em Viamão, Aline dos Santos Veiga, 32 anos, sonhava com um emprego de carteira assinada. Em abril, alcançou essa meta — por isso, escolhe "realização" para descrever seu ano.

Já Delene Cesconetto, 43 anos, do Santa Tereza, em Porto Alegre, deseja conquistar a casa própria e segue atrás desse sonho, arrecadando valores por uma vaquinha online e por sua conta bancária. Apesar das dificuldades, para ela, 2022 foi de "esperança".

O ANO QUE TERMINA

Ainda que as histórias dos três leitores sejam diferentes entre si, têm algo em comum neste ano que termina: o Diário Gaúcho. Por isso, no dia 19 de dezembro, Aline, Delene e Gerson visitaram a Redação.

Embora já conhecidos pelas fotos no jornal, aquela foi a primeira vez que os leitores se viram pessoalmente. Nas conversas, notaram semelhanças entre situações pelas quais já passaram ou passam. A apreensão de ver o armário esvaziando e perceber que, mais uma vez, vai ser necessário pedir ajuda foi um dos assuntos que surgiram. Assim como a vergonha de ter de passar por isso e a vontade de esconder a necessidade, além dos questionamentos e até deboche de outros. Ao final, os três chegaram a compartilhar seus números para manter contato.

Em dezembro, eles foram avisados de que a série do Diário Gaúcho que conta as suas histórias conquistou o segundo lugar em uma das categorias do prêmio de jornalismo da Associação Riograndense de Imprensa (ARI). A novidade foi recebida com carinho pelos três. Durante a visita à Redação, os leitores bateram um papo com a equipe de reportagem.

— O jornal ajudou porque deu mais visibilidade e fez as pessoas entenderem que eu não estava precisando de ajuda só para a vaquinha, mas que eu precisava me alimentar — destacou Delene.

A publicação do livro TikTextos: Minicontos, Haicais, Poetrix, Aforismos e Outros Textos Brevíssimos, junto a colegas de um curso de escrita, foi um dos pontos altos do ano, segundo ela. E a participação em ações solidárias também.

Para Aline, ter um emprego trouxe certa independência. Hoje, ela se orgulha em poder oferecer alimentos e passeios para os três filhos e percebe que isso melhorou até mesmo sua autoestima. Emocionada, contou: 

— Só de tu ter as coisas para dar para os filhos, o armário cheio, é muito bom. Porque ver um filho abrir o armário, pedir uma bolachinha e não ter para dar não é fácil.

O sonho de Gerson também mexeu com a autoestima. Ele perdeu os dentes em função do uso de drogas e do alcoolismo, anos atrás. Com as próteses dentárias, sentiu que a comunicação se tornou mais fácil. E houve um impacto ainda maior:

— A parte mais especial de ter isso foi saber que era possível. Porque, quando eu estava lá nas drogas, não tinha esperança nenhuma, zero. Eu nunca achei que chegaria a ter um emprego.

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DELENE SEGUE NA LUTA

Tanto Gerson quanto Aline torcem por algo em comum para 2023: que a parceira das páginas do DG também realize seu sonho. Delene ainda não conquistou a casa própria. Na vaquinha online, com meta de R$ 40 mil, o valor arrecadado é de cerca de R$ 23,9 mil (sem taxas do site). Não houve qualquer contribuição em dezembro. Pelos seus cálculos, desde a primeira reportagem, foram arrecadados por volta de R$ 2,7 mil por meio da vaquinha.

Em dezembro, a moradora da Capital se manteve com as vendas do livro do qual participou, de lingeries e de cosméticos. Também recebeu doações. Mas a ajuda ainda é necessária.

Embora precise de apoio para si mesma, Delene juntou cerca de 50 brinquedos e 200 pipoquinhas doces para contribuir com duas ações solidárias de Natal.

— As pessoas falam "tu está precisando para ti e está pedindo para os outros". Sim, estou pedindo para os outros e vou continuar fazendo isso, mesmo precisando de uma casa, mesmo com a saúde às vezes não estando muito boa — reafirma. 

Entre os problemas de saúde, ela tem sequelas de paralisia cerebral e lúpus. Para o próximo ano, sonha em conseguir se aposentar e, assim, focar na busca pela casa própria. Também quer voltar para a fisioterapia e seguir ajudando as pessoas e escrevendo. O objetivo é ter um novo livro com sua autoria em mãos.

Como ajudar
/// Contribuições são aceitas pela vaquinha online (bit.ly/ajudedelene) ou via Pix, com a chave 51986010354.
/// Além das vendas, Delene realiza uma rifa de cesta de café da manhã, oferece aulas de Português e aceita doações de itens de higiene e medicamentos (betaprospan, pregabalina 150mg, hidroxicloroquina 400mg, vitamina D e ciclobenzaprina).
/// Também pede apoio para consertar seu óculos, que quebrou. Saiba mais pelo (51) 98601-0354.

ALINE PASSA NO ENCCEJA

No dia 22 de dezembro, com alegria e sem acreditar, Aline recebeu a notícia que tanto aguardava desde o final de agosto. Ela passou no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e, assim, está apta a ter um certificado de conclusão do Ensino Médio.

A rotina de estudos em parte do ano teve de ser equilibrada com a de mãe, dona de casa e trabalhadora. Aline também mantém a procura por qualificação. Ela quer fazer algum curso, especialmente na área estética. 

Para 2023, apoiar ou agradecer quem já a ajudou e fazer a manutenção da casa estão na sua lista, assim como ter saúde mental e física para si e para os meninos. Ela também quer encaminhar os filhos para alguma atividade.

— Se eu ficar velhinha, eles são meu futuro. Então quero "ajeitar" meus filhos, principalmente o maior (de 13 anos), porque ele merece muito, é meu braço direito — conclui.

GERSON ASSUME NOVA VAGA

Dezembro é o mês de aniversário de Gerson, que assoprou as velinhas no dia 4. Ele ganhou uma comemoração surpresa dos amigos. Dias depois, começou na função de auxiliar de serviços gerais, com carteira assinada, em uma empresa do setor de saneamento. Até então, estava trabalhando como pedreiro.

No início do mês, ele foi até a clínica responsável por seu tratamento dentário para uma visita aos profissionais que o atenderam. Nas paredes do consultório, ele viu quadros com as reportagens:

— Estão lá, consultório cheio (de quadros). Disseram: "Tu és uma celebridade aqui".

Junto às outras demandas, ele mantém os rascunhos e busca informações com familiares para os três livros que planeja escrever sobre sua vida. Em 2023, espera ajudar a sua parceira a pôr em prática alguns planos, seguir na vaga que conquistou e retomar os estudos na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na qual parou na sexta série.

Confira a retrospectiva do ano dos três leitores

Produção: Isadora Garcia