Com o final de ano e as férias se aproximando, uma preocupação se intensifica para aqueles que lidam com a causa animal: o abandono de pets. Bichinhos, até então parte de uma família, são frequentemente descartados em estradas, terrenos baldios ou até mesmo nos lixos da cidade por aqueles que deveriam amá-los e cuidá-los. 

Além de cruel, essa atitude cria um problema de saúde pública e de sobrecarga em canis municipais e projetos voluntários.

Segundo estimativas do canil municipal de São Leopoldo, o número de atendimentos e acolhimentos de animais quase dobram nos meses de dezembro e janeiro. Para a diretora do canil, Maria da Graça Moreira, 57 anos, isso reflete uma triste realidade vivida anualmente:

– Essa época do ano é o foco desse tipo de crime (o abandono) e também dos atropelamentos e maus tratos dos animais deixados pelos tutores e que não sabem andar ou viver sozinhos na rua. Uma coisa leva à outra, e tudo começa no abandono – exemplifica. 

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Voluntários têm saúde mental colocada à prova

Um período que deveria ser de felicidade e descanso pode ser tomado pelo  sofrimento e a sobrecarga para quem está na linha de frente do resgate e cuidado animal. Desde que iniciou o projeto voluntário Vila dos Peludos, há 13 anos, na Vila Farrapos, na Capital, a autônoma Elisete Mariana Rolim Brettin, 52 anos, não tem férias:

– Começa a se aproximar o final do ano, e a gente percebe a crueldade humana: as cidades lotadas de animais abandonados. Se vamos para a praia, no caminho, vemos animais deixados para trás. Nós, protetoras independentes, não conseguimos descansar. No meu último veraneio, acabei colocando ração para todos os animais que vi na praia e ainda trouxe uma cadela comigo.

Desde o início do seu projeto, ela e a amiga Daniela Pereira Pedroso, 30 anos, já resgataram e garantiram adoção para quase 1 mil cães e gatos que viviam nas ruas. Atualmente, elas acolhem e cuidam de cerca de 50 animais. 

Estar no limite e mesmo assim precisar se doar mais. Esse é o sentimento vivido nos finais de ano pela contadora Vera Ferreira da Silva, 53 anos, que lidera o projeto Acolha Gatinhos. A iniciativa surgiu em 2019, na Capital, e já proporcionou uma nova vida para cerca de 200 gatos de rua.

– Sinto tristeza e impotência todo fim de ano. O abandono cresce muito. A gente quer ajudar, mas, por vezes, não pode, não tem espaço, não tem dinheiro, tem que negar – relata a voluntária, que percebe piora na sua saúde mental no final de todos os anos.

Conscientização e aplicação da lei são caminhos para resolver

Tendo em vista o aumento sazonal dos crimes contra animais, diversas cidades gaúchas aderiram nos últimos anos à campanha Dezembro Verde, que visa conscientizar a população sobre o abandono de mascotes. Nesse ano, Porto Alegre também se engajou no movimento e está fazendo, ao longo deste mês, ações de blitz educativas, além da distribuição de folders sobre o abandono. 

Maus-tratos aos animais é considerado crime desde 1998, com a Lei de Crimes Ambientais. Em 2020, houve um acréscimo na legislação com a chamada Lei Sansão, permitindo a prisão em flagrante, reclusão de dois a cinco anos, multa e proibição da guarda de quem cometer crimes contra cães ou gatos. 

Como denunciar

/// Em todo o Estado, é possível denunciar os maus-tratos para a Polícia Civil pelo telefone 181. Em Porto Alegre, há também o telefone 156 para denúncias. 

Como ajudar

/// O projeto Acolha Gatinhos recebe doações de areia, sachês e qualquer valor financeiro. Além disso, eles também precisam de ajuda com mais voluntários, principalmente fotógrafos e caroneiros. Para ajudar, basta entrar em contato pelo Instagram @acolhagatinhos.

/// Já a iniciativa Vila dos Peludos precisa principalmente de doações financeiras e de interessados em adotar. Quem tiver o desejo pode colaborar pelo apoia.se/apadrinhamentoviladospeludos e conferir os bichinhos para adoção pelo Instagram @viladospeludos. 

Produção: Júlia Ozorio