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Operação Arquipélago III

Avisados de prisões, criminosos fogem de ação policial nas ilhas de Porto Alegre

Polícia Civil cumpriu nove mandados de busca e apreensão na manhã desta terça-feira, mas mandados de prisão acabaram frustrados

19/05/2015 - 09h18min

Atualizada em: 19/05/2015 - 09h18min


Débora Ely
Débora Ely
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Conflito começou após morte de traficante

Ronaldo Bernardi / Agência RBS

Passava das 6h30min desta terça-feira quando um comboio formado por 50 policiais civis deixou o Palácio da Polícia, em Porto Alegre, em direção às ilhas da cidade. O objetivo era desarticular uma das quadrilhas responsáveis por aterrorizar moradores das ilhas do Pavão e dos Marinheiros. Porém, avisados das detenções, criminosos fugiram da ação.

Seriam cumpridos 11 mandados de prisão na região, mas ninguém foi detido. Na casa de suspeitos, familiares e vizinhos relataram que os procurados ficaram sabendo do decreto de prisão preventiva, liberado na semana passada, pela internet - por meio do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), acessível a qualquer cidadão. Assim, escaparam.

A atuação de olheiros - que, às 6h54min, soltaram foguetes para alertar sobre a presença da polícia na área - também prejudicou a operação. Segundo o delegado Filipe Bringhenti, titular da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o objetivo da ação era desarticular uma gangue de traficantes da Ilha dos Marinheiros que estava em conflito com um bando especializado em roubos da Ilha do Pavão. Em sete meses, o confronto resultou em cinco mortes e pelo menos oito tentativas.

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- O fato de eles saberem que estão sendo procurados atrapalha a efetividade da prisão. O lado bom é que eles saem do local, que fica mais tranquilo. A tendência é que, a curto prazo, não voltem - diz Bringhenti.

Foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão em casas das vilas das ilhas do Pavão e Marinheiro. Na casa de um dos principais suspeitos, foi localizado uma arma de brinquedo e munição calibre .12. 

- Só assim pra andar tranquilo aqui na ilha - disse um morador nesta manhã ao avistar a Polícia Civil na área conhecida por Beco 16.

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Delegado pede sigilo nos mandados de prisão

A crítica do delegado diz respeito ao Banco Nacional de Mandados de Prisão (BNMP), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A finalidade do sistema é ampliar a divulgação do cumprimento de diligências para que, assim, mais pessoas possam colaborar com as prisões. Bringhenti é a favor da medida, mas defende o sigilo dos pedidos da polícia em determinados casos:

- O que se pede é o sigilo dos mandados para esquematizarmos o cumprimento até conseguirmos efetuar a prisão. Se a Polícia Civil não tiver sucesso no cumprimento em um primeiro momento, divulga-se para que, caso a pessoa pare em uma barreira policial, por exemplo, ela seja identificada e presa. No nosso caso específico, (o sistema) atrapalhou.

O delegado reforça que os criminosos não tinham conhecimento do dia e da hora da operação, mas que costumam fugir da área de atuação quando são avisados - por advogados, por exemplo - ou ao visualizarem seu nome no sistema. Uma vizinha de um dos procuradores disse à polícia que o homem deixou a ilha na semana passada, período em que os mandados foram concedidos pelo Judiciário.

Segundo o setor de comunicação do CNJ, a lei 12403/2011 determina o registro, pelo juiz, do mandado de prisão no banco de dados. Porém, a resolução que regulamenta a lei permite que o juiz faça essa inclusão após o cumprimento do mandado. A decisão, segundo o CNJ, é do juiz.

Em nota, o presidente de comunicação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), Túlio Martins, disse que "o vazamento não deveria ter ocorrido, e o Tribunal de Justiça vai apurar se houve falha nos procedimentos internos".

A desavença entre os grupos, que impôs toque de recolher aos moradores e impedia a circulação de pessoas entre as duas ilhas, começou em outubro de 2014. Foi quando o traficante Alexandre da Silva - conhecido por Alemão Ovelha - foi morto, em Alvorada. A suspeita é que o homicídio do criminoso, que atuava nas ilhas, tenha sido comandado pela gangue da Ilha do Pavão, já que Alemão coibia roubos a pedestres em paradas de ônibus e assaltos a carros cometidos pelo bando na área.

O traficante inclusive ordenaria o assassinato de integrantes do grupo rival. Um homem preso durante as investigações alegou que Alemão era "opressor" - e, por isso, teria sido morto. Na mesma noite da morte de Alemão, três aliados do traficante foram até a Ilha do Pavão em busca de informações sobre quem teria cometido o assassinato. Eles acabaram mortos. Ao longo da investigação, a polícia já prendeu quatro integrantes do grupo da Ilha do Pavão.

Os principais nomes procurados pela polícia são Márcio dos Santos Xavier (conhecido por Nego) e Joaquim da Silva Santiago Nego (chamado de Junior). Conforme apontou a investigação, eles eram responsáveis por executar rivais a mando de Alemão e, depois que o líder morreu, assumiram o grupo. (Informações à Polícia Civil sobre o paradeiro da dupla podem ser fornecidas pelo Disque DHPP - 0800-642-0121).

Márcio (à esquerda) e Joaquim (à direita) estão entre os suspeitos que a polícia pretendia prender na operação
Foto: Polícia Civil / Divulgação


Batizada de Arquipélago III, essa foi a terceira operação policial na região. Foram utilizadas 10 viaturas e um helicóptero na ação - e, com o corte do pagamento de horas extras, agentes que participaram da incursão terão de tirar folgas para compensar o período trabalhado a mais.

Foto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS

* Zero Hora


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