Violência
Guerra do tráfico na Zona Leste de Porto Alegre mata um por dia em janeiro
Enquanto o confronto aberto entre facções rivais dos bairros Bom Jesus e Vila Jardim não para de fazer vítimas, chefões das quadrilhas seguem foragidos da Justiça
A arrancada do ano transformou os últimos sete quilômetros da Avenida Protásio Alves, entre a Zona Leste da Capital e o limite com Viamão, em um verdadeiro corredor da morte. Pelo menos 17 pessoas foram assassinadas no intervalo de 18 dias. Os últimos crimes aconteceram na noite de quarta, nos bairros Vila Jardim e Mario Quintana, quando dois jovens sem antecedentes foram executados com diversos disparos.
Enquanto as mortes se sucedem e, em pelo menos três casos as vítimas não eram os alvos dos criminosos, os chefões dos bandos em conflito desafiam a Justiça. A polícia ainda não chegou às autorias dos crimes, mas já sabe a quem caçar. Pelo menos quatro criminosos apontados como líderes dos bandos em conflito são foragidos. Todos figuram entre os procurados pela Delegacia de Homicídios por envolvimentos em crimes e outras guerras do tráfico.
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De acordo com o titular da 5ª DHPP, delegado Adriano Melgaço, que investiga a maior parte dos crimes relacionados ao conflito, a disputa é tratada como prioridade. Ele ressalta, porém, que as investigações são conduzidas com o maior sigilo possível.
- Já conseguimos identificar alguns possíveis nomes de envolvidos nos crimes. Agora, buscamos elementos de prova para conseguirmos desarticular os dois lados do confronto - explica o delegado.
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De um lado da guerra está a facção dos Bala na Cara. Desde abril do ano passado, Luís Fernando da Silva Soares Júnior, o Júnior Perneta, 36 anos, apontado como o principal cabeça do grupo, está foragido. O recrudescimento da violência, porém, coincidiu com a fuga de Márcio de Oliveira Chultz, o Alemão Márcio, 35 anos, do Instituto Penal de Charqueadas, no final de dezembro.
Mesmo investigado como autor de pelo menos quatro homicídios - tendo sido preso por um deles em 2014 -, Alemão Márcio, que é apontado pela polícia como o principal comandante da facção no Bairro Bom Jesus, havia sido beneficiado com a progressão ao regime semiaberto. E escapou.
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Como se não bastasse, em outro ponto da Avenida Protásio Alves, na Vila Safira, Bairro Mario Quintana, a facção estaria amparada por um violento aliado. Conforme a polícia, o território ali é controlado por outro dos principais foragidos da Capital. Desde janeiro do ano passado a polícia tenta prender José Dalvani Nunes Rodrigues, o Minhoca, 33 anos. Ele também cumpria pena em regime semiaberto.
Líder da Vila Jardim é ficha 1 da Homicídios
Na manhã de 17 de janeiro, uma cabeça foi encontrada no Bairro Bom Jesus. No Bairro Mario Quintana, um corpo sem cabeça, enrolado em um edredom tinha a inscrição "Bala nos Bala". A vítima deste crime brutal era Jéferson de Oliveira Lapuente, 22 anos, supostamente ligado aos Bala na Cara.
Nas redes sociais, uma mensagem prometia o troco e declarava aberta a guerra. Mais do que isso, revelava como alvo Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, 32 anos, como o principal alvo. Desde 2013 ele é considerado um dos principais procurados pelo Departamento de Homicídios.
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"(...) vai ser bala só na cara a guerra tá formada seus comédia robozinho e se liga jackson tamo na tua cola malandro vamo te dá um trato legal", dizia a mensagem.
A suspeita é de que Nego Jackson lidere, a partir da região conhecida como Cantão, na Vila Jardim, uma aliança de quadrilhas contra os Bala na Cara, que se denominam os Anti-Bala. E a ordem, na afronta à facção rival, é ostentar poder de fogo.
Nas últimas semanas, imagens de armamentos pesados passaram a circular nas redes sociais. Na prática, todas as mortes relacionadas ao confronto são marcadas pelos muitos tiros.
Guerra cruza a cidade
A sequência de mortes na região ganhou força no dia 10 deste mês, quando um jovem foi morto a tiros no Bairro Bom Jesus. E a resposta foi extrema. Vitimou logo duas pessoas que não tinham nenhuma relação com a criminalidade, em uma festa ao ar livre que acontecia na Vila Ipe 1, no Bairro Jardim Carvalho.
Mas o confronto não seria somente uma forma de vingar baixas de lado a lado, e sim de garantir controle do mercado da droga. Dominar as bocas de fumo na Vila Jardim sempre foi um desejo dos Bala na Cara. Significa garantir que traficantes daquela região só comprem drogas fornecidas pela facção.
Os traficantes vizinhos, porém, teriam uma parceria com fornecedores da Vila Maria da Conceição, do Bairro Partenon, e que, na lógica das cadeias gaúchas, representam outro território controlado por facções.
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Por isso a guerra já teria extrapolado os limites dos sete quilômetros finais da Avenida Protásio Alves. Criminosos ligados à quadrilha conhecida como V7, com origem na Vila Cruzeiro e atualmente um dos grupos que garante o controle da Vila Maria da Conceição, estariam na Vila Jardim como reforço armado.
A consequência, já apura a polícia, pode ser também uma migração das mortes. Há pelo menos uma semana moradores de partes da Vila Cruzeiro tem relatado em redes sociais tiroteios constantes e a ameaça de invasão por integrante dos Bala na Cara.
Os chefões foragidos
Minhoca
José Dalvani Nunes Rodrigues, 33 anos, apontado pela polícia como líder da quadrilha que controla a Vila Safira, Bairro Mario Quintana. O grupo é um dos braços mais violentos da facção dos Bala na Cara.
Está foragido desde janeiro do ano passado, dias depois de ser beneficiado com a progressão ao regime semiaberto. Desde março do ano passado tem ainda mandado de prisão por um homicídio na Vila das Laranjeiras, Morro Santana, ocorrido em 2013. Tem condenações até 2030 por dois roubos.
Júnior Perneta
Luís Fernando da Silva Soares Júnior, 36 anos, apontado pela polícia e pelo Ministério Público como o principal líder da facção dos Bala na Cara, originário do Bairro Bom Jesus.
Está foragido desde abril do ano passado, quando foi solto da Pasc, em Charqueadas, por uma falha de comunicação entre a Justiça Federal e a Susepe. Desde outubro do ano passado tem um mandado de prisão contra si por um duplo homicídio ocorrido em 2013, na Vila Cefer II. Tem ainda mandados de prisão por tráfico de drogas e duas condenações com penas a serem cumpridas por porte ilegal de arma.
Alemão Márcio
Márcio de Oliveira Chultz, 35 anos, é considerado pela polícia o atual número 2 dos Bala na Cara nas ruas. Responsável pela manutenção do controle da facção no Bairro Bom Jesus. Faz parte dos integrantes originais da quadrilha.
Está foragido desde dezembro do ano passado, quando não retornou ao Instituto Penal de Charqueadas, onde cumpria pena em regime semiaberto. É investigado por pelo menos quatro homicídios e, em 2014, chegou a ser preso preventivamente por um desses crimes. Tem pena a cumprir até 2038, com condenações por porte ilegal de arma, dois homicídios e crime contra a fé pública.
Nego Jackson
Jackson Peixoto Rodrigues, 32 anos, é considerado o principal líder do tráfico na Vila Jardim. Teria tomado o controle de boa parte dos pontos de tráfico da região há pelo menos dois anos, e desde então passou a representar um inimigo da facção dos Bala na Cara, que almeja controlar a região.
É considerado o procurado número 1 do Departamento de Homicídios de Porto Alegre. Tem contra si cinco mandados de prisão e responde a pelo menos três homicídios e outras duas tentativas de homicídios entre 2013 e 2014, quando foi apontado como líder de uma guerra que expulsou da Vila Jardim, e depois dizimou, os irmãos Bugmaer.
Se você tem informações que possam levar às prisões de alguns desses foragidos, denuncie anonimamente pelo 0800-6420121.
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