Bem que eles tentam esconder...
Silvio Santos, Hebe e Caetano Veloso: histórias das biografias não autorizadas que geram curiosidade nos fãs
Obras lançadas recentemente, que passam a limpo a vida de celebridades nacionais, seguem fascinando leitores, e gerando curiosidade. Com a liberação pelo STF, até biografia não autorizada de Roberto Carlos vem por aí.
Entre tantos gêneros da literatura, as biografias despertam sentimentos contraditórios nos leitores e nos seus protagonistas. E, claro, as não autorizadas geram ainda mais fascínio por contarem, justamente, o que os famosos tentam esconder a todo pano.
Neste ano, algumas chamam mais a atenção, como as biografias de Hebe, que será lançada na próxima semana, de Silvio Santos e de Caetano Veloso. Mas não são só os medalhões que têm direito a ver sua história contada em livros. Fenômenos recentes, como Kéfera e Christian Figueiredo, disputam, lado a lado, espaço nas livrarias do país com artistas consagrados há muito mais tempo.
Retratos da Fama abre as páginas deste gênero tão fascinante que mostra outras facetas dos ídolos para os seus fãs em obras que podem se tornar amadas ou odiadas.
Caê – No ano que em Caê completa 75 anos, Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco lançaram sua primeira obra do gênero: Caetano - Uma Biografia (editora Seoman, R$ 50, preço médio). O livro traz momentos como sua prisão, nos anos 70, e seus casos amorosos.
Polêmica – Lançada em 2016, a autobiografia de Rita Lee chamou a atenção pelo fato de ter sido escrita pela cantora, e por ter contado histórias polêmicas: o livro traz revelações sobre sua vida pessoal - incluindo um estupro, um aborto e incontáveis baixarias e internações derivadas de drogas.
Silvio Santos, uma vida que dá muitas biografias
Fenômeno popular do Brasil, o proprietário do SBT, Silvio Santos, desperta curiosidade em qualquer pessoa que se interesse pela cultura nacional. De origem humilde - começou trabalhando como camelô - Silvio, 86 anos, já teve sua história contada por algumas obras, como A Fantástica História de Silvio Santos (2000), disponível apenas em sebos virtuais, escrito pelo repórter Arlindo Silva, que trabalhou com o Silvio no SBT durante 25 anos.
A mais atual, lançada no fim de abril, é Silvio Santos - A Trajetória do Mito (Editora Matrix, R$ 40), do jornalista Fernando Morgado. Na obra, o empresário e comunicador é descrito como alegre, irreverente, visionário e indiscreto, para citar alguns dos adjetivos.
Como era de se esperar, tendo em vista a complexidade da vida do entrevistado, o jornalista não conseguiu se aproximar do biografado ao longo de 15 anos de produção do livro.
– Fiz tudo sob o mais absoluto sigilo. Trata-se de uma biografia não autorizada. Para compensar a falta de acesso ao biografado, reforcei a pesquisa em jornais, revistas, livros e outros documentos – explica o autor.
Patrão leu, e gostou
Para corroborar a fama, Retratos da Fama tentou qualquer palavra do Patrão sobre a biografia. Por e-mail, a assessoria pessoa de Silvio no SBT disse que ele recebeu o livro, mas não concede entrevistas. Fernando afirma, ainda, que ficou curioso com a reação do próprio Silvio, que, após ler o livro já impresso, gostou e mandou inserir comerciais divulgando a obra em intervalos comerciais do SBT.
– Trata-se de um caso inédito: uma biografia não autorizada (com diversas críticas, inclusive) que foi tão bem acolhida pelo biografado que ele faz questão de divulgá-la na sua própria rede de televisão – afirma o autor.
O jornalista acredita que as biografias fascinam o leitor pelo fato de revelarem, por meio de histórias reais, lições que o leitor pode aproveitar em sua vida.
– Por meio dos erros e dos acertos do próximo, aprendemos a melhorar e a compreender o país e o mundo onde vivemos. Em tempo: o gênero literário favorito do Silvio é biografia! – revela Fernando.
Engenheiros do Hawaii: histórias da estrada
A banda Engenheiros do Hawaii teve a sua história contada no livro Infinita Highway – Uma Carona Com os Engenheiros do Hawaii (editora Belas Letras, R$ 45, preço médio), pelo repórter do jornal Zero Hora Alexandre Lucchese. Os gaúchos, que estouraram no país na década de 1980, tinham no seu líder, Humberto Gessinger, uma figura icônica e polêmica, que domina boa parte das histórias da biografia dos roqueiros.
– Sempre pensei que os Engenheiros dariam uma grande história, especialmente por conta dos seus personagens – conta o autor.
Lucchese revela que não aconteceu nenhum tipo de impedimento por parte dos entrevistados. Gessinger, por exemplo, deu a entrevista, sabia que o livro seria publicado e não se opôs. Com seu jeitão próprio, o músico diz que recebeu com uma certa “indiferença” a notícia de que o grupo seria objeto da biografia.
– Me parecia óbvio que, em algum momento, pessoas escreveriam a respeito – comenta Gessinger em entrevista, por e-mail.
Humberto afirma que não leu
Humberto é direto ao afirmar o motivo pelo qual acha que os fãs tem fascínio por biografias "vivemos num mundo ficcionalizado ao extremo", reafirmou que não leu a o livro - embora ela esteja à venda em lojinhas montadas em shows do roqueiro, por uma empresa terceirizada - mas elogiou seu biógrafo:
– Adorei conhecer o Alexandre. Ele me pareceu um cara dedicado ao que faz.
Sobre biografias não autorizadas, deixou seu recado:
– Eu gosto mesmo é de autobiografias. Mesmo que o autor queira distorcer fatos ou esconder alguma coisa, a gente acaba sacando e tendo uma visão mais rica. Se nenhuma biografia pode ser 100% precisa, prefiro deixar o centro do interesse falar e colocar essa fala em confronto com a realidade. Hoje, as informações estão mais acessíveis do que jamais foram.
Já Lucchese tem outra opinião sobre o fascínio do leitor pelo gênero.
– Eles (os leitores) ficam seguros de que estão conhecendo melhor a realidade e o passado, e não apenas se entretendo.
Gracinha em livro
Outro nome que fascina os fãs, Hebe Camargo, falecida em 2012, terá sua biografia lançada nesta semana - Hebe - A Biografia (Editora BestSeller, R$ 35), do jornalista carioca Artur Xexéo. Durante um ano e meio em que se dedicou ao livro, o jornalista conviveu com alguns dos parentes de Hebe, entrevistou seus amigos e gente que trabalhou com ela e mergulhou nos arquivos de sua trajetória.
– O sofá no palco do Teatro Record no qual a mais querida apresentadora do Brasil recebia seus convidados virou uma instituição nacional. Ninguém tinha prestígio suficiente neste país se não se sentasse ali para ser entrevistado – afirma Xexéo, no material de divulgação do livro.
A obra aborda diversas fases da carreira de Hebe, desde o início de sua vida artística - começou como cantora -, passando pelo seu primeiro programa de calouros aos 13 anos até se tornar a grande estrela da tevê brasileira.
O livro traz momentos marcantes e curiosos da carreira da loura, como o fato de ela ter inventado uma doença só para ficar com sua grande paixão, o empresário Luís Ramos.
Um dos trechos traz um depoimento de Hebe sobre um aborto que ela fez.
"Fiz porque achei que era uma coisa muito delicada esse filho ter uma irmã de um mesmo pai com outra mulher... Essa criança ia ficar com a cabeça tão louca que ia ficar sem saber... Eu acho que é uma coisa muito pessoal. Eu não aconselho as pessoas a fazerem. Acho que que cada um tem que saber o que deve fazer. É de conscientização própria", desabafou.
Rei censurou, e pisou na bola
Uma das biografias mais polêmicas dos últimos anos foi o Roberto Carlos em Detalhes, que saiu pela Editora Planeta em 2006, do jornalista e historiador Paulo Cesar de Araújo. No ano seguinte, a obra foi retirada das livrarias após uma ação movida pelo cantor. O Rei chegou a pedir uma indenização ao autor, mas, nos tribunais, entraram em acordo - a livraria recolhia todo e qualquer exemplar, e Roberto retirava o pedido de indenização.
O caso deu origem a outro livro de Paulo César de Araújo - O Réu e o Rei (Companhia das Letras, R$ 35), obra em que o jornalista narra os bastidores desse processo.
Vem mais por aí
Depois da polêmica, em 2013, alguns ícones como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e o próprio Roberto criaram o Procure Saber, movimento que buscava defender o direito de vetar obras feitas sem a permissão dos familiares ou do biografado. Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) favorável às publicações, o grupo perdeu força.
Em 2014, o Rei lançou o que considera sua biografia autorizada. Na época, apresentou livro com fotografias inéditas e mais de 500 letras originais, com pequena tiragem, vendido pela bagatela, de R$ 4,5 mil a unidade.
Para os fãs de Roberto, uma boa notícia: ainda neste ano, pela editora Record, Paulo Cesar publicará uma nova biografia de Roberto Carlos - não autorizada, é claro. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da editora.
Não são só ícones
Se você pensa que, para ter uma biografia, é necessário ter 40, 50 anos de carreira ou ter vendido milhões de discos, se engana. Alguns nomes que até há três ou quatro anos eram desconhecidos do público, também já contaram sua vida em livros.
Um dos exemplos é o livro Muito Mais que 5inco Minutos (Editora Paralela, R$ 20), da youtuber Kéfera Buchmann, 24 anos, uma das mais populares do país. Em 2015, por conta do seu lançamento, ficou entre os mais vendidos da Bienal do Livro, em São Paulo.
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Já Christian Figueiredo, outro nome bombado da internet, 22 anos, fez tanto sucesso com sua biografia, Eu Fico Loko (Editora Novas Páginas, R$ 18), lançada em 2014, que o livro virou um filme, de mesmo nome, lançado em 2017. Como tanta repercussão, o livro teve duas sequências - Eu Fico Loko 2 e Eu Fico Loko 3.
A polêmica nos tribunais
Em 2015, após uma polêmica que se arrastou por anos, o STF, decidiu, por unanimidade, liberar a publicação de biografias não autorizadas. Para o tribunal, a exigência representaria uma censura, que é incompatível com a Constituição, que garante a liberdade de expressão.
Os votos da maior parte dos ministros, aliás, vieram com duras críticas à necessidade de autorização dos biografados.Os ministros entenderam que eventuais distorções podem ser discutidas na Justiça posteriormente, uma vez que a legislação já garante medidas reparadoras como indenizações e direito de resposta.
– Censura é forma de cala boca. Pior, de calar a Constituição – disse, na época, a ministra Cármen Lúcia, relatora do caso.
Números
– Duas das principais listas de livros mais vendidos do país, a da revista Veja e da Livraria Saraiva, mostram a força das biografias: a autobiografia de Rita Lee, que leva seu nome, lançada em 2016, está há 23 semanas na lista dos mais vendidos. Nesta semana, estava em segundo lugar, na categoria não-ficção.
– Conforme a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada anualmente pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e pela Usp, sob encomenda do SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e da CBL (Câmara Brasileira do Livro), foram impressos, no país, 4.193 milhões de biografias, em 2015.
– O número representa 0,94% dos exemplares impressos no país. No topo do ranking estão os livros didáticos, com mais de 219 milhões e religiosos, com 87 milhões.
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