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Vida nova

Moradores de bairro de Cachoeirinha começam 2016 em novo endereço

Depois de décadas enfrentando enchentes, famílias da extinta Vila Olaria comemoram novo ano com novas vidas, em um novo local

31/12/2015 - 07h04min

Atualizada em: 31/12/2015 - 07h04min


Anderson Fetter / Agencia RBS
Marivone já planeja melhorias na casa nova

Os moradores da extinta Vila Olaria, entre a freeway e o Rio Gravataí, em Cachoeirinha, garantem ter motivos de sobra para esperar 2016 com um sorriso largo. Depois de mais de 40 anos enfrentando a destruição a cada nova enchente, eles foram transferidos pela prefeitura para uma nova região da cidade - a cerca da 10km de distância e numa área onde não ocorrem alagamentos.

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A proposta da mudança para o Loteamento Chico Mendes partiu das próprias famílias, em reunião com a Defesa Civil Municipal. Antes, elas precisaram unir forças para reconstruir parte das 240 moradias populares que foram ocupadas irregularmente e destruídas por invasores - que, ao deixarem o local, por determinação da Justiça, arrebentaram janelas, portas e até telhados.

Confira as previsões para 2016

Cansadas das perdas depois de três enchentes em 2015, em menos de nove meses, as famílias se comprometeram com a mão de obra e a prefeitura, com o fornecimento do material de construção e apoio das secretarias. Os primeiros ribeirinhos se mudaram em setembro para o loteamento. Os últimos, em novembro.

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Paraíso

De vila vizinha da enchente, com apenas uma rua de terra, sem saneamento básico, com casas de madeira e problemas no recolhimento de lixo, as famílias se transferiram para um bairro com seis ruas asfaltadas e sinalizadas, casas de alvenaria e com saneamento básico. No pensamento de todos, metas e possibilidades que antes da mudança eram impossíveis de serem pensadas.  

- Saímos do inferno para o paraíso. É o nosso recomeço! - garante o presidente da Associação dos Moradores da Vila Olaria, entidade que em breve mudará de nome, Paulo Roberto Alves Boff, 33 anos.

"Já posso sonhar"

Sorrisos não faltam para a dona de casa Marivone Moraes da Silva, 31 anos, que viveu na Olaria desde o nascimento. Na nova casa que divide com o marido Adriano da Silva, 38 anos, as filhas Eduarda, nove anos, Ketlyn Adriana, 11 anos, e Brenda, 15 anos, e o sobrinho Paulo Roberto da Silva, 12 anos, Marivone faz planos. Em 2016, ela pretende ampliar a morada em mais um cômodo e fazer um jardim.

- Eu amava morar na Olaria, mas a vila estava esquecida e morrendo aos poucos. Foram tantas enchentes, que os moradores estavam desmotivados - comenta.

A dona de casa confessa que a mudança de casa a fez ter uma visão mais ampla do mundo. A desejar mais.

Um mundo novo

A retirada do FGTS, liberado para os desabrigados, motivou a família a comprar móveis e a fazer obras: 

- Antes, vivíamos muito próximos. Aqui, cada família tem o seu próprio pátio. Estamos num mundo novo, com o qual não estávamos acostumados. Esquecerei todos os problemas de 2015 e entrarei 2016 com o espírito renovado! Agora, já posso sonhar com melhorias, com uma creche e com uma praça.

"Perdi a vergonha das minhas visitas"

Durante os 16 anos como moradora da Olaria, Valmira Severo da Silva, 51 anos, desejou ter uma casa na cor lilás.

Ao se mudar para o loteamento, em outubro, pintar a nova morada foi a primeira ação dela. Na casa de madeira na antiga vila, Valmira tinha desistido de adquirir novos móveis depois de perder quase tudo nas cheias que se repetiam com frequência. 

- Sinto muita alegria. Agora, posso ter os meus caquinhos sem me preocupar se a enchente com mais de 2m de altura vai destruí-los - comenta.

Mas o que deixa Valmira pronta para receber 2016 de braços e sorrisos abertos é a possibilidade de receber as amigas da igreja em casa. Antes, isso não ocorria.

- Era um lugar feio, fedido e triste. Meu assoalho estava podre depois de tantas cheias. Estou com 51 anos e esta é a casa mais bonita que Jesus me deu nesta vida. Agora, perdi a vergonha das visitas. Me sinto uma vitoriosa e disposta para tudo em 2016! - resume, orgulhosa.

"É a Minha primeira vez no asfalto"

Os olhos do soldador João Luiz de Almeida Paim, 54 anos, brilham quando fala das mudanças que virão em 2016. Ao transferir-se com a família para o loteamento, após 25 anos vivendo na Olaria, João Luiz levou apenas as roupas. Todos os móveis velhos, sem condições de uso, foram deixados no desmanche da velha vila. 

- Foi o nosso recomeço do zero. Vida nova mesmo. Vai demorar para nos adaptarmos, mas valerá muito porque nunca mais vou ver minhas coisas boiando na enchente - comenta, emocionado.

Lixeira de metal

Cheio de planos, João Luiz já tem a primeira ação do novo ano: instalar uma lixeira de metal na frente de casa. 

- Sempre tive vontade de ter uma, mas não havia possibilidade porque o caminhão do lixo só passava de vez em quando. Não dava para esperar. Aqui, temos recolhimento três vezes por semana, e isso faz uma diferença danada - comenta.

João Luiz comemora, ainda, a estreia num bairro com pavimentação asfáltica. Antes de viver na Olaria, o soldador morava numa via de paralelepípedos no Bairro Sarandi, na Zona Norte de Porto Alegre. 

- É a minha primeira vez no asfalto. Acho bonito ver as crianças correndo sem levantar poeira.

Metas da comunidade para 2016

- Instalação de lixeiras em todas as casas.
- Reconstruir o prédio da creche.
- Concluir o campo de futebol para as crianças.
- Construir a praça do loteamento.
- Exigir da prefeitura a construção de um Centro de Referência de Assistência Social (Cras).

Outras famílias

Como a antiga Vila Olaria ocupou apenas 122 das 240 casas do loteamento, famílias de outras comunidades, que viviam no aluguel social, estão sendo transferidas pela prefeitura para as demais moradias. Elas eram das vilas Canarinho e Navegantes. Outras dez casas serão ocupadas por famílias de policiais militares.

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