Violência sexual
Celular apreendido pela polícia do Rio revela novos fatos sobre o estupro coletivo da adolescente
Conteúdo encontrado no aparelho mostra que adolescente resistiu ao abuso e que Raí de Souza, envolvido no crime, teria ligação com o tráfico de drogas
O mesmo celular que gravou as cenas da adolescente de 16 anos estuprada no Rio de Janeiro e cujo vídeo tornou o crime conhecido no Brasil e no mundo foi localizado. No aparelho, áudios e vídeos indicam novos caminhos para a polícia. Um deles é que a jovem pediu para não ser abusada, uma prova de que o ato sexual não foi consentido. O outro é que Raí de Souza, 22 anos, o dono do celular, teria relação com o tráfico de drogas.
Divulgado pelo Fantástico no último domingo, um segundo vídeo mostra um diálogo travado entre a adolescente e um homem na casa conhecida como "abatedouro", no Morro do Barão, zona oeste do Rio. Na conversa, a menina reage ao abuso.
– Não o quê, pô? – pergunta a voz de um homem no vídeo, como que reclamando da resistência da adolescente.
– Ai – responde a jovem deitada na cama. De acordo com o Fantástico, ela foi estuprada duas vezes.
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Em entrevista à Globo News na manhã desta segunda-feira, a delegada Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima, informou que fotos e vídeos armazenados no celular também apontam que Raí de Souza tem relação com o tráfico de drogas. A análise do conteúdo do aparelho não deverá ser concluída nesta segunda-feira. O material que liga Raí ao tráfico será encaminhado à Delegacia de Combate às Drogas.
– Está provado o crime de estupro. O desafio da polícia era provar a extensão desse crime. Quantos autores? Quem praticou esse crime? – disse a delegada em entrevista ao Fantástico.
Nos primeiros depoimentos à polícia, Raí disse que o celular havia sido destruído. Na época, o caso era investigado pelo delegado Alessandro Thiers, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. O celular foi localizado pela polícia na casa de um amigo de Raí, em Madureira, na zona norte do Rio.
De acordo com a reportagem do Fantástico, a suspeita de que uma média de 30 homens tenha participado do crime pode ser descartada pela polícia. A frase "mais de 30 engravidou", dita no primeiro vídeo, seria apenas uma referência a um funk que embala festas na região. O trecho da música de MC Smith, porém, é diferente. A letra da música diz "mais de 20 engravidou".
– A gente tem prova material de que o Raphael, o Raí, o chamado Jefinho e o Moisés Lucena, o Canário, abusaram sexualmente dessa menina – informou a delegada. Ela também refutou a ideia de que traficantes se vinguem de quem comete estupro na favela.
– Isso não existe. Os traficantes estupram, matam, intimidam – afirmou.
Áudios encontrados no celular também mostram que os moradores da comunidade do Morro da Barão foram coagidos pelo chefe do tráfico local a se mobilizar a favor dos envolvidos no crime. Um protesto foi realizado no dia 30 de maio. Nele, moradores seguravam cartazes dizendo que não houve estupro.
– O mano mandou ir no protesto. Se não for, é com eles mesmo. Pra ninguém ficar fora disso – diz uma voz masculina.
Raí de Souza e Raphael Duarte Belo, 41 anos, que aparece sorrindo ao lado do corpo da vítima em uma das fotos divulgadas na internet, estão presos e vão responder pelos crimes de estupro e produção e divulgação de imagens de menores de idade. Cinco suspeitos estão foragidos: os traficantes Jefinho e Moisés de Lucena, 28 anos, além de Marcelo Miranda, 18 anos, Michel Brasil, 20 anos e Sérgio Luíz da Silva, o Da Russa, apontado como chefe do tráfico do Morro da Barão.
Cronologia dos fatos
– Sexta-feira, dia 20 de maio: a adolescente vai a um baile funk no Morro do Barão;
– Sábado, dia 21: ela sai do baile na manhã de sábado, acompanhada de Lucas Perdomo Duarte Santos, 20 anos, jogador de futebol do time Boavista, de Raí de Souza, 22 anos, e de outra adolescente. Os quatro vão à casa apelidada de "abatedouro" e, de acordo com Raí, ele tem relações sexuais consentidas com a adolescente de 16 anos. Na mesma manhã de sábado, a menina ficou na cama, desacordada e sob efeito de drogas, enquanto os outros três vão embora da casa. Por volta das 11h do mesmo mesmo sábado, o traficante Moisés Lucena, o Canário, chegou ao local e levou a jovem para a outra casa. Canário teria sido o primeiro a estuprar a jovem;
– Domingo, dia 22: Raí de Souza, Raphael Duarte Belo e o tal de Jefinho chegam nesta casa e ali teriam abusado da vítima, além de terem feito vídeos e fotos dela. Esse foi o segundo estupro.