Papo reto
Manoel Soares: "Sou o filho da Dona Ivanete"
Manoel lembra da importância que a mãe tem em sua vida
Hoje eu tenho muita gente me elogiando, curtindo meu trabalho e dizendo que a minha mãe deve ter orgulho de mim. Mas, na verdade, tenho muita coisa para me envergonhar. Por exemplo, um momento vivido na infância. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe era gari na cidade onde morávamos.
Na escola, os colegas volta e meia faziam piadas com o fato de a minha mãe ser a mulher que varria a rua. Eu chorava de raiva e tinha verdadeiro ódio daquelas roupas cor de abóbora e verde-limão que ela usava. Minha mãe levantava às cinco da manhã, comprava o pão mais barato em uma padaria que vendia os pães do dia anterior a um preço mais baixo e deixava o leite quente. Quando eu acordava para ir à aula, tudo já estava pronto.
Um dia, saindo da aula, do outro lado da rua, estava minha mãe varrendo. Os colegas começaram a tirar onda da minha cara e acabei fazendo algo de que me arrependo e me envergonho até hoje: fingi que minha mãe não era minha mãe. Quando um colega me perguntou: "Manoel, aquela não é a sua mãe?", eu respondi: "Que minha mãe meu, tá maluco?".
Valorização
Tive a impressão de que ela me olhou, mas eu sai às pressas, sem olhar para trás. Até hoje, não sei se ela notou o que fiz, mas, sempre que lembro, sinto vergonha de mim mesmo. Hoje, faço questão de valorizar e dar todo reconhecimento aos esforços da minha coroa, pois foi daquela vassoura que saiu o negão que escreve este texto.
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Por isso que, quando me perguntam em entrevistas o que eu sou, não digo que sou repórter nem escritor nem colunista. Digo o que deveria ter dito naquele dia: sou o filho da Dona Ivanete.