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Papo Reto 

Manoel Soares cumprimenta quem "sobreviveu" a 2016

Colunista fala sobre a violência nas periferias 

24/12/2016 - 10h03min

Atualizada em: 24/12/2016 - 10h03min


Se você está lendo este texto, é porque é um sobrevivente. Em um ano no qual os índices de homicídios subiram, você não caiu, por isso, está de parabéns. Não parabéns por nascer, mas sim por não morrer.

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Estar vivo vai além de respirar. É não deixar os sonhos ficarem na cama quando você se levanta. Resistência, em sua vida, não é só peça de chuveiro. Apesar da cidade estar cheia de facções, só mudam os endereços. Somos mais parecidos que diferentes. Às vezes, a semelhança entre quem morre e quem mata é tanta que ambos parecem até parentes, quando não são de fato.

São pessoas que querem subir na vida de elevador para desviar das escadas – mal sabem que cada degrau nessa vida tem uma lição. Quem não tem nota azul no boletim da escola não terá o azul dos malotes, e, às vezes, o vermelho do boletim é o triste presságio do vermelho do sangue que correrá nos becos mais tarde.

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Animais

Matar sempre esteve em nossa rotina de criança, mas, na nossa época, no máximo matávamos aula, matávamos tempo ou os amiguinhos nas brincadeiras de polícia e ladrão. Hoje, a morte é física para quem recebe a bala e subjetiva para quem puxa o gatilho.

Nessa lógica, muitos devoram-se como animais. Querem ser os primeiros em uma corrida que é em círculos, um jogo em que os melhores são invisíveis, mas os piores saltam aos olhos. Querer ser melhor que quem está ao lado é o primeiro passo para cair no precipício, pois melhor que superar o vizinho é sermos melhores do que éramos ontem.

Mais importante do que dirigir um carro possante é dirigir a própria vida. Por essas e outras você, que lê este texto, está de parabéns por estar vivo.



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