Papo Reto
Manoel Soares cumprimenta quem "sobreviveu" a 2016
Colunista fala sobre a violência nas periferias
Se você está lendo este texto, é porque é um sobrevivente. Em um ano no qual os índices de homicídios subiram, você não caiu, por isso, está de parabéns. Não parabéns por nascer, mas sim por não morrer.
Estar vivo vai além de respirar. É não deixar os sonhos ficarem na cama quando você se levanta. Resistência, em sua vida, não é só peça de chuveiro. Apesar da cidade estar cheia de facções, só mudam os endereços. Somos mais parecidos que diferentes. Às vezes, a semelhança entre quem morre e quem mata é tanta que ambos parecem até parentes, quando não são de fato.
São pessoas que querem subir na vida de elevador para desviar das escadas – mal sabem que cada degrau nessa vida tem uma lição. Quem não tem nota azul no boletim da escola não terá o azul dos malotes, e, às vezes, o vermelho do boletim é o triste presságio do vermelho do sangue que correrá nos becos mais tarde.
Animais
Matar sempre esteve em nossa rotina de criança, mas, na nossa época, no máximo matávamos aula, matávamos tempo ou os amiguinhos nas brincadeiras de polícia e ladrão. Hoje, a morte é física para quem recebe a bala e subjetiva para quem puxa o gatilho.
Nessa lógica, muitos devoram-se como animais. Querem ser os primeiros em uma corrida que é em círculos, um jogo em que os melhores são invisíveis, mas os piores saltam aos olhos. Querer ser melhor que quem está ao lado é o primeiro passo para cair no precipício, pois melhor que superar o vizinho é sermos melhores do que éramos ontem.
Mais importante do que dirigir um carro possante é dirigir a própria vida. Por essas e outras você, que lê este texto, está de parabéns por estar vivo.