Seu problema é nosso
Aposentada de Canoas aguarda cirurgia pelo Sus há quase seis anos: "Sem as próteses, não adianta nem morfina"
A Secretaria Municipal da Saúde não soube informar quando Noeli será atendida
Deita, levanta, senta, levanta, caminha um pouco, deita ou senta de novo. A rotina diária da aposentada Noeli do Carmo Schaefer, 61 anos, moradora do Bairro Mathias Velho, em Canoas, é esta há quase seis anos.
Desde 2011, ela aguarda uma cirurgia para colocação de prótese no joelho direito e, em 2012, passou a precisar de operação também no quadril. Noeli tem desgaste nas cartilagens.
– Sinto muita dor porque um osso está encostando no outro. Não tem posição em que eu fique bem – lamenta.
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A aposentada foi encaminhada ao Hospital da Ulbra pela Unidade Básica de Saúde (UBS) União, no bairro onde mora. Após consultas e exames, Noeli viu uma ponta de esperança nascer quando, em 2015, foi chamada para a cirurgia:
– Fiquei feliz, pois já tinha esperado bastante tempo. Dias antes da data marcada, me ligaram avisando que a operação havia sido cancelada, sem explicação. Foi uma grande decepção.
Durante a espera, quando sente dores fortes, Noeli procura uma Unidade de Pronto Atendimento (Upa). Na emergência, a solução é apenas momentânea.
– Na Upa, eles só dão um remédio pra dor, mas não adianta. Sem as próteses, não adianta nem morfina – diz Noeli.
"Nunca?"
No dia 9 de dezembro de 2016, Noeli teve consulta no Hospital Universitário. Na ocasião, foram solicitados exames pré-operatórios com a informação, conforme a aposentada, de que logo seria chamada para a cirurgia. Mais uma vez, foi ilusão.
– Fiz os exames, levei para o médico, e não me chamaram. Falei com a ouvidoria do hospital e disseram que o médico responsável pelo meu caso não está mais lá. E agora, nunca vou ser operada? – questiona.
Como último recurso, Noeli colocou a casa para vender e, assim, pagar pela cirurgia, mas, até agora, não apareceram compradores.
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Prefeitura aguarda dados de hospital
À reportagem, a Secretaria de Saúde de Canoas informou que o procedimento foi autorizado em 2016 e que, a partir desse momento, a paciente entrou na fila do Hospital Universitário (HU). "O Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp), que administra o HU, está fazendo um levantamento da situação dessa paciente, mas ainda não passou as informações completas para a Secretaria de Saúde", garantiu a assessoria de comunicação da prefeitura.
Segundo a administração municipal, está sendo verificado o histórico da paciente: "a informação inicial é de que, em 2011, ela ingressou no sistema de saúde por meio de consultas na UBS. A espera por cirurgia, portanto, seria menor. Por isso, é importante termos acesso aos dados do levantamento que está sendo realizado pelo hospital."