Cansados de ver as ruas do próprio bairro sujas e de ouvir piadas sobre o "Jardim do Lixo", moradores do Bairro Jardim do Bosque, em Cachoeirinha, decidiram arregaçar as mangas para dar fim ao motivo dos comentários maliciosos. Desde fevereiro, eles usam as manhãs de domingo para recolher o lixo que há tempos caracterizava o cenário do bairro. Das 8h ao meio-dia, além de recolher detritos e entulhos, o grupo planta mudas de flores e árvores em pneus coloridos para transformar em um jardim comunitário o que antes era tomado pela sujeira.

Os encontros são organizados em um grupo de WhatsApp com 200 participantes. A cada domingo, de 20 a 30 pessoas se revezam para participar.

– Até o começo do ano, nosso bairro não tinha nada de bosque. Era jardim só no nome. Desde que começamos a nos mobilizar, o que era foco de lixo, a gente transformou em jardim – afirma o comerciante Uilson Moreira Droppa,
32 anos.

– Começamos só eu e uma vizinha, mas, de cara, queríamos que isso reunisse mais gente. Fui conversando com um e outro conhecido, até que muita gente aderiu à ideia – lembra.

Integração

O trabalho coletivo já limpou e transformou em jardim o equivalente a 1km do bairro. Para a auxiliar de limpeza Valquíria Maciel, 42 anos, é inegável que a iniciativa contagiou e integrou a comunidade que antes não tinha convivência:

– Havia vizinhos que só cumprimentávamos, eu não tinha relação. Agora, estamos nos conhecendo. Não é só um serviço, é um pouco de prazer também de ver o bairro de cara nova.

Moradora do Jardim do Bosque há 18 anos, a comerciante Marcia Araújo,
48 anos, tinha até vergonha de receber amigos e parentes devido ao estado de abandono do bairro.

– A sujeira era um ponto de referência aqui, eu dizia "moro depois do lixo". Agora, com todo mundo ajudando a limpar, percebemos o resultado muito rápido e vamos continuar – diz.

Desafio é conscientizar

Só de uma área verde usada por usuários de drogas e como depósito de lixo foram retirados 150 carrinhos de mão cheios de detritos em um único mutirão.

– Achamos de tudo: roupas, máquina de lavar, caixa de papelão. Agora, entrei ali e já senti o impacto de um local muito mais limpo. A comunidade se apropriou do bairro, abraçou essa causa – avalia o professor Adriano Pieres,
41 anos.

Todo o material recolhido pelo mutirão é levado pela prefeitura durante a semana. E não é só limpar. Além de melhorar o entorno, o desafio também é conscientizar a população a não sujar de novo. Pensando nisso, os próprios moradores se uniram para confeccionar placas com avisos que proíbem o descarte de materiais:

– Quem mora aqui não vai querer sujar o próprio bairro. Essa parte do jardim, que ficou bonita, acaba inibindo outras pessoas a largarem mais lixo – avalia Uilson.

O grupo planeja seguir o trabalho até ver a cara do bairro totalmente diferente do que sempre foi. Outra ideia é fazer uma praça rústica.

– Não temos espaço para tomar chimarrão e passear com a família, queremos aproveitar o espaço que temos aqui – argumenta Adriano.