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Projeto social

Coletores formam equipe para corridas de rua na Capital

Garis participam de projeto social criado em agência da Capital. Primeira prova com participação deles será no Dia do Desafio, na terça-feira (28)

25/05/2019 - 05h00min


Alberi Neto
Alberi Neto
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Isadora Neumann / Agência RBS
Roger (E), Leonardo, Carlos e João fazem parte da equipe. Arthur (C) é um dos treinadores

À primeira vista, a ideia de misturar trabalho e lazer parece estranha. Usar as horas vagas para repetir o que já se faz durante o expediente pode incomodar algumas pessoas. Entretanto, para alguns coletores ecológicos de Porto Alegre, isso não parece fazer mal nenhum. 

Desde o mês passado, ao menos sete garis, que chegam a correr mais de 40 quilômetros por dia recolhendo resíduos pela cidade, fazem parte de uma equipe para continuar correndo, mas agora em competições regionais. A primeira prova da equipe, batizada com o nome Coletores Runners, será na Corrida Noturna do Dia do Desafio. O evento é na madrugada de terça (28) para quarta-feira (29).

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Os trabalhos da equipe são intensos. Até setembro, eles pretendem participar de ao menos cinco provas. Para isso, é preciso treinar. Os encontros ocorrem três vezes por semana, na pista do Parque da Redenção ou em estúdio de treinamento na Avenida João Pessoa. Um dos treinadores da equipe é Arthur Moraes da Costa, 35 anos, professor de uma assessoria esportiva da Capital.

Equipe surgiu por meio de projeto social

O grupo de corrida formado por coletores não começou por iniciativa própria dos trabalhadores. A ação faz parte de um dos projetos da Agência Ponto, formada em 2012, pelos sócios Cláudio Oliveira, 42 anos, e Rodrigo Vicêncio, 42 anos. A empresa trabalha com a criação de projetos e ações sociais. Como define o lema do grupo, o objetivo é trabalhar com "ideias que geram lucro social". O aporte para sustentação dos projetos vem de entidades que se interessam pelas ações. Os garis corredores, por exemplo, receberam apoio da Associação Buriti de Arte, Cultura e Esporte (ABACE), de São Paulo. 

Cláudio conta que o início foi complicado. Depois de formarem a ideia, pensando em casar a correria que os coletores têm no cotidiano com a energia necessária para as provas, os sócios entraram em contato com a prefeitura. 

— Tentamos conversar com pessoas do DMLU e da Cootravipa (Cooperativa de Trabalhadores Autônomos das Vilas de Porto Alegre), mas o pessoal ficou meio tímido com a exposição que o projeto poderia gerar — recorda Cláudio.

Ex-jogador do Flamengo é um dos participantes

Isadora Neumann / Agência RBS
João jogou no Flamengo e em time da Romênia

Sem sucesso na tentativa de parceria com a prefeitura, a ideia, então, foi buscar alguém de dentro do ramo, um "infiltrado", como brinca Cláudio. O escolhido João Felipe Antunes, 27 anos. O rapaz chegou ao conhecimento dos sócios depois da comunicadora Alice Bastos Neves, da RBS TV, compartilhar uma imagem dos garis em uma rede social. Seguidores de Alice reconheceram João, que é ex-jogador de futebol.

— Procuramos ele, apresentamos o projeto e pedimos para que tentasse convencer alguns colegas. Deu certo, a equipe se formou rapidamente — conta Cláudio.

Com sete anos, João iniciou a carreira na base do Internacional, onde ficou até 2006, quando foi vendido para o Flamengo. Com a difícil missão de ser reserva de Léo Moura na lateral-direita, João ainda conseguiu atuar como titular em algumas partidas, mas acabou sendo vendido pelo clube carioca. Foi jogar na Romênia, em 2013. 

No ano seguinte, uma lesão o retirou dos gramados por um ano. Chegou a voltar, jogando em times de menor expressão do Brasil, como o Flamengo do Piauí, por exemplo. No ano passado, resolveu pendurar as chuteiras. Gaúcho, morador do bairro Cavalhada, viu a oportunidade de trabalhar como coletor aparecer por meio de um amigo. 

— Estava precisando de trabalho, foi uma ótima oportunidade. Agora, a corrida também tem me ajudado a manter o condicionamento físico — conta João. 

Mais rápidos que o caminhão

Isadora Neumann / Agência RBS
Treinos são na pista e no campo de futebol do Parque da Redenção

Na sexta-feira (24), a reportagem acompanhou um dos treinos da Coletores Runners. Na oportunidade, quatro corredores estavam presentes. Além de João, Roger Felipe Rodrigues, 27 anos, Carlos Bernardo Mota Vidal, 22 anos, Leonardo Martins, 20 anos, e Arthur Moraes da Costa, 35 anos, participam da atividade. 

— Antes do João apresentar a ideia, nunca tinha pensado em correr, apesar de fazer isso todo dia no trabalho. Está sendo muito bom, a gente aprende a importância de fazer o aquecimento antes das atividades, por exemplo — conta Roger.

Com a melhora do condicionamento físico, até o rendimento no serviço melhorou, como brinca Carlos:

— Tem hora que a gente diz para o motorista andar mais rápido com o caminhão.

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