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Seu Problema é Nosso

Falta de leite em pó especial nas farmácias do Estado afeta crianças com paralisia

Secretaria Estadual de Saúde não dá previsão de quando ocorrerá normalização na disponibilidade da dieta alimentar

23/07/2019 - 10h41min


Arquivo pessoal / Arquivo pessoal
Luciana conta com doações para Agatha

De acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a alimentação adequada é um direito de todos os cidadãos. Contudo, para quem conta com a distribuição gratuita de dietas especiais pelas farmácias estaduais, nem sempre é assim. 

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Em diversas ocasiões, o Diário Gaúcho relatou a falta de fórmulas, leites e suplementos alimentares na farmácia do Estado. Apenas neste ano, o jornal já abordou a falta do leite Pregomin Pepti — utilizado por crianças com ALPV (alergia à proteína do leite de vaca) — e a não distribuição da fórmula Isosource de dieta enteral — alimento para adultos que não conseguem se alimentar pela boca. 

Desta vez, quem conta com a distribuição de leites em pó especiais para dieta enteral é que está enfrentando o problema. 

“Vou fazer o quê?” 

A dona de casa Luciana Souza, 37 anos, moradora do bairro Restinga, em Porto Alegre, tem sofrido com a falta da fórmula Fortini. Com paralisia cerebral, sua filha, Agatha Souza, quatro anos, não pode consumir nenhum alimento, apenas o leite. Devido a sua condição, a menina se alimenta via sonda e necessita de 18 latas de Fortini por mês. 

Desde 13 de junho, quando deveria pegar o lote na farmácia do Estado — mas foi informada de que estava em falta —, a mãe conta com doações para garantir a alimentação da filha: 

— Ligo (para a farmácia) todos os dias, e só me dizem que não têm previsão para chegar o leite, mas não dão explicação. As minhas doações vão acabar, e aí, vou fazer o quê? Não é a primeira vez que acontece. 

Dificuldades 

Uma lata do alimento custa, em média, R$ 50. Assim, quando as doações acabarem, Luciana teria de gastar cerca de R$ 900 ao mês. Sem trabalhar, pois precisa cuidar da fi lha, a renda que o companheiro Marcos Bica, 44 anos, ganha como instalador de TV a cabo não é sufi ciente para arcar com o custo. 

— Se fico um mês sem receber (o leite), ainda dá para deixar de pagar uma conta de água ou de luz, enfim, dar um jeito. Mas, agora, já vai para o segundo mês. Que jeito eu vou dar? Minha filha precisa desse leite para sobreviver. Como mãe, fico indignada em precisar ouvir que está em falta e não há nem previsão para chegar — desabafa Luciana. 

Alvorada também registra falta

Laura Vitória Martins, seis anos, também tem paralisia cerebral e só pode se alimentar com o Fortini, por sonda. Diante da falta do alimento, a família, moradora do bairro Umbu, em Alvorada, só conseguiu doações de outra fórmula, o que causou problemas à menina: 

— No começo, ela vomitou e perdeu peso, pois não é o leite que ela está acostumada, mas foi a única doação que consegui. Se não consigo doações, não tenho como comprar. Para eles (o Estado), é tudo muito simples, apenas dizem que não tem e não explicam mais nada — conta a mãe, a dona de casa Tainá Ávila, 24 anos. 

Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal
Tainá e Laura

SES não dá prazo para regularização 

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), o processo licitatório da fórmula começou em maio de 2019 e já foi contestado três vezes por fornecedores participantes. Segundo a pasta, isso gerou adiamento nos trâmites para aquisição dos leites. 

Diante do impasse, a SES informou que está “remanejando os itens em estoque, a fi m de possibilitar o atendimento do maior número de pacientes em diversos municípios”. 

Questionada sobre o prazo para que o problema se resolva, bem como sobre a possibilidade de retirada dos lotes retroativos, quando a distribuição for regularizada, a pasta não se manifestou. Frente ao relato das leitoras de que o atraso na entrega dos leites é um problema frequente, a secretaria também não informou a respeito de ações para evitar que a situação se repita. 

Produção: Camila Bengo

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