Seu Problema é Nosso
Lutador de Novo Hamburgo recebe medalha de prata na Copa do Brasil de Taekwondo
Sem patrocínio, Paulo César Ferreira, 46 anos, pedia dinheiro na sinaleira para conseguir participar da competição
— Foi a realização de um sonho, uma emoção imensa.
É assim que o atleta Paulo César Ferreira, 46 anos, morador do bairro Rondônia, em Novo Hamburgo , define a oportunidade de ter representado o Estado na Copa do Brasil de Taekwondo, disputada entre os dias 20 e 24 de novembro, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Na edição de 29 de outubro, o Diário Gaúcho contou a história do lutador, que, sem patrocínio, pedia dinheiro a quem passava pela sinaleira do cruzamento entre as ruas Marcílio Dias e Bento Gonçalves, no centro de Novo Hamburgo, para conseguir participar da competição.
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Paulo precisava arrecadar R$ 5 mil para custear as despesas do campeonato. Contudo, havia levantado apenas R$ 1,2 mil. Segundo o atleta, a repercussão da reportagem foi muito grande e, uma semana após a publicação, ele já havia conseguido toda a quantia necessária. Com o valor em mãos, Paulo viajou para Natal e garantiu a medalha de prata na categoria Master, que compreende atletas com mais de 40 anos.
— Muita gente se mobilizou para me ajudar a conseguir o valor. Chorei, porque não acreditava que estava lá. Foram 18 idas à sinaleira, com sol e com chuva. Valeu a pena, pois consegui trazer a prata de um campeonato nacional — relata o lutador, que trabalha como vigilante para garantir o sustento da família.
Persistência
Em 30 anos de esporte, Paulo nunca recebeu patrocínio. Contudo, isso jamais foi motivo para que ele desistisse. É justamente por isso que a prata conquistada na Copa do Brasil de Taekwondo tem gostinho de ouro para o lutador, que também é idealizador de um projeto social que oferece aulas da arte marcial a baixo custo.
— Todos meus alunos estão felizes por mim. Na primeira aula depois do campeonato, eu os olhava e via a felicidade. Quando entrei, gritavam “nosso campeão chegou”. Por isso, a medalha de prata vale como ouro pra mim.
Apesar do objetivo alcançado, ele não pretende deixar a sinaleira. Ali, planeja continuar arrecadando fundos, agora, para que os alunos possam participar das competições. Campeão, Paulo, que havia enfrentado episódios de racismo durante suas idas ao sinal, mostra que seu talento é muito maior que o preconceito:
— Quero deixar um recado para todos aqueles que não baixaram o vidro do carro ou foram racistas: estou aqui, e trouxe a medalha de prata para o Rio Grande do Sul.
Repercussão cruzou o continente
De acordo com o lutador, a reportagem foi um divisor de águas. Após a publicação, leitores de diversas regiões do Estado entraram em contato, manifestando o interesse em ajudá-lo a participar da competição. Segundo Paulo, Porto Alegre foi a campeã de doações. Contudo, o que chamou atenção do lutador foi uma chamada vinda dos Estados Unidos, de um leitor que também desejava contribuir.
— A repercussão foi muito grande, em uma semana já consegui todo o valor. Na sinaleira, o pessoal passava buzinando e gritando para eu não desistir. Também recebi muitas ligações. O jornal me ajudou muito a realizar esse sonho — conta Paulo.
Ele já está pensando na próxima disputa, a Copa América de Taekwondo, em março, em São Paulo. E está de volta à sinaleira para arrecadar recursos e poder viajar.
Produção: Camila Bengo