Dia do Trabalho
Desemprego e redução de vagas durante pandemia preocupam trabalhadores
A crise causada pelo coronavírus também afetou a economia, deixando efeitos no mercado de trabalho brasileiro
Um dos feriados mais significativos do calendário terá um gosto diferente em 2020. Com a pandemia do coronavírus freando a economia mundial, o desemprego está em ascensão. No Brasil, onde a taxa de desocupados já era alta antes das paralisações, o crescimento deste incômodo índice já causa preocupação.
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Atualmente, as empresas têm a disposição alternativas para evitar as demissões. São manobras como a suspensão temporária de contratos ou redução de salário e da jornada de trabalho. Mesmo assim, em muitos casos, o desligamento é a decisão tomada pelos patrões.
Somente na primeira quinzena deste mês, por exemplo, foram registrados 267.693 requerimentos do seguro-desemprego, conforme divulgado pelo governo federal. Mesmo alto, o número é 13,8% menor do no mesmo período do ano passado — quando foram abertos 310.509. Entretanto, estes registros de 2020 ainda não representam a realidade. Isso porque o acúmulo de pedidos tem gerado problemas no sistema, deixando muitos demitidos sem nem conseguir dar entrada na requisição do benefício.
Dados não são atualizados
O desemprego no Brasil foi a 12,2% no trimestre encerrado em março, o primeiro mês em que o país sentiu os efeitos econômicos do novo coronavírus, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ontem. A taxa de desocupação já havia crescido em fevereiro, subindo para 11,6% e atingindo 12,3 milhões de pessoas. Em março, esse número saltou para 12,9 milhões de pessoas.
Outro fator que preocupa é que locais que estavam com vagas abertas acabaram suspendendo boa parte das seleções. A nível estadual, a Fundação Gaúcha do Trabalho e Ação Social (FGTAS) também relata redução significativa na oferta de vagas.
— Semanalmente, tínhamos no entorno de 800 a mil vagas ofertadas. Nesta semana, são 326 no Estado todo. E entre essas, notamos que boa parte é alimentador de linha de produção, indicando a retomada no setor industrial da Serra, que está reabrindo. A construção civil também tem voltado a aparecer — cita Ana Rosa Fischer, coordenadora do Departamento de Relações com Mercado de Trabalho da FGTAS.
Levando em conta a redução de vagas e o desemprego, em pleno Dia do Trabalho, muitos brasileiros devem passar o feriado em casa, mas sem um emprego para ir na segunda-feira.
Demissões à distância viraram rotina
Num momento em que muitas pessoas têm trabalhado de casa, a demissão, por vezes, também é a distância, tornando o momento ainda mais doloroso. Foi o aconteceu com a assistente de faturamento Fernanda Ramos, 39 anos. Moradora do bairro Sarandi, zona norte da Capital, ela trabalhava há 19 anos com os mesmos chefes. A demissão ocorreu no dia 1º de abril, conforme Fernanda, sob a justificativa de contenção de despesas. E como estava em home office, ela foi comunicada do desligamento por telefone:
— Ainda estou em choque, triste. Quando desligaram o telefone, já tinha um motorista da empresa na portaria do meu condomínio. Estava esperando para pegar o computador da empresa.
Até hoje, Fernanda não conseguiu receber sua rescisão. Depois de negociações com a empresa, a moradora do Sarandi acabou conseguindo garantir o recebimento dos valores, mas parcelado em nove vezes.
— E como precisa homologar na Justiça esse acordo da demissão, não pude nem encaminhar meu seguro desemprego ainda. Tenho dois filhos, não posso esperar muito tempo — lamenta Fernanda, que além dos filhos, divide a casa com o marido e sua mãe.
Sobre a procura por um novo trabalho, Fernanda já se preocupa:
— Para conseguir emprego, só depois que essa pandemia passar, né.
Busca por fonte de renda
Quem também viu o emprego se esvair por causa do coronavírus foi a técnica de saúde bucal Eliane Urruth, 46 anos. Moradora do bairro Santa Isabel, em Viamão, ela trabalhava em uma clínica dentária próxima de casa. Com a pandemia do coronavírus, o movimento reduziu, até o local precisar fechar no dia 19 de março, em razão dos decretos estaduais e municipais.
Demitida, Eliane cumpriu o aviso prévio em casa. Preocupada com a pandemia, o lar é o único espaço onde ela tem ficado, junto da filha e do marido, que trabalhava como motorista de aplicativo, mas também se isolou com a família.
— Encaminhei o seguro desemprego esta semana pelo aplicativo, foi muito prático. Agora, vou esperar isso passar, afinal de contas, pode ser necessário ficar até quatro meses em casa. Infelizmente, ainda acredito que o pior da doença está por vir — lamenta Eliane.
Para complementar a renda, a técnica de saúde bucal, agora desempregada, vai focar na produção de malhas de tricô, algo que já costumava fazer. Agora, poderá se dedicar integralmente a confecção:
— Sempre fiz malha em casa, pois tenho máquina de tricô e no inverno consigo fazer uma grana boa. Esse ano vou conseguir me dedicar melhor e produzir bem mais. Faço meias, cachecóis, polainas, blusões e outros itens.