Barreira física
Obra que poderia evitar enchentes em Alvorada é planejada desde 2013, mas nunca saiu do papel
Um dique poderia contar as cheias do rio Gravataí e do Arroio Feijó, que atingem a cidade
Cada vez que um período chuvoso afeta os rios que passam pela Região Metropolitana, um dos locais mais atingidos é o Rio Gravataí e os arroios que desembocam nele – principalmente, o Arroio Feijó, em Alvorada. Resolver o problema passa pela construção de um dique. A obra, entretanto, não começou até hoje.
Quando o nível da água sobe, a região dos bairros Americana e Nova Americana costuma alagar. A proximidade destas comunidades, tanto com o rio quanto com o Arroio Feijó, influencia nesta infeliz rotina. O problema da região é daqueles em que solução existe – a parte difícil é colocá-la em prática. Conter as cheias do Gravataí depende da implantação do dique que costeará parte de Porto Alegre e Alvorada.
Mas, para além da barreira física que impedirá a passagem da água, é preciso implantar casas de bombas e outras estruturas que consigam levar água para o rio e evitar que os arroios transbordem.
Andamento
Apesar de a luta por essa construção ser antiga e muito conhecida dos moradores de Alvorada, em termos de oficialização, foi só em 2013 que a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) deu o pontapé inicial nos trabalhos. O assunto fica a cargo da entidade pois engloba vários municípios, tornando-se um trabalho de interesse estadual.
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Mas, o que aconteceu nestes oito anos anos? Desde 2013, mesmo com estudos e projetos, os trabalhos nunca saíram do plano das ideias. E isso está ligado a dois fatores: o tamanho da obra e a burocracia do sistema público.
Diretor do Departamento de Incentivo ao Desenvolvimento da Metroplan, Dilson Rui Pila da Silva explica que, atualmente, a obra se encontra na fase de estudos que demonstram o impacto ambiental da obra, que serão grandes. A expectativa do órgão é que esses trâmites se concluam até o final do ano. Porém, mesmo depois disso, ainda não há prazo para que as obras iniciem ou sejam concluídas.
– O tamanho dessa obra exige a criação de uma comissão entre os municípios. Depois disso, temos de passar por audiências públicas e ainda contar com a participação dos gestores locais para entender que comunidades terão de ser reassentadas para que as obras aconteçam. Isso ainda dependerá de toda negociação com essa comunidade. É um trabalho árduo e longo – sintetiza Dilson.
Obra custaria mais de R$ 1 bilhão
No total, os trabalhos devem demandar R$ 1,2 bilhão, com uma estrutura de cerca de 27 quilômetros. Atualmente, a Metroplan já tem, garantidos, R$ 228 milhões. Na perspectiva de Dilson Rui Pila da Silva, diretor da Metroplan, o problema maior, na região do Arroio Feijó, será resolvido com o passar do tempo. Depois, as demais áreas dependerão do empenho para conseguir mais verbas. Entretanto, a entidade não trabalha com prazos.
– A parte do licenciamento ambiental termina em dezembro. Depois, partimos para os projetos de engenharia. Mas também temos todos o trabalho com os municípios. Não é algo que depende só de nós, são muitos agentes públicos envolvidos.
Problema virou rotina
Para quem vive na região que costuma ser mais afetada pela falta do dique de contenção das cheias, os prazos e promessas dos órgãos públicos já viraram história. Tem gente que cobra até vereador que prometeu tomar água de arroio se o problema não fosse solucionado em um determinado prazo. Pois bem, até hoje, não há nem dique nem quem beba a água do Arroio Feijó, que agoniza pela poluição de anos. Quem lembra da promessa é o morador do bairro Americana Gilmar Barbosa da Silva, 51 anos.
– Desde semana passada, estamos aí, ilhados mais uma vez. É um problema que a gente nunca viu solução. Faz 38 anos que moro aqui, há uns 30 falam disso. A cada cheia, nossa rotina é correr para salvar nossas coisas. Até quando será assim? – questiona o morador.