Efeito da pandemia
Pesquisa revela que quase 13% das escolas infantis privadas devem fechar no Estado
Sete em cada 10 creches admitiram que precisaram demitir funcionários de março para cá
Sem atividades presenciais desde o início da pandemia, uma parcela das escolas privadas de Educação Infantil do Estado ameaça fechar as portas em definitivo em razão de dificuldades financeiras. Com menos alunos matriculados, a saída foi demitir funcionários e, em alguns casos, encerrar as atividades. É isso que revela uma pesquisa feita pelo Sindicato Intermunicipal dos Estabelecimentos de Educação Infantil do Estado do Rio Grande do Sul (Sindicreche-RS), entidade que conta com 1500 instituições cadastradas.
O levantamento, cujo número de participantes não foi informado, mostrou que 12,8% dos proprietários já projetam o encerramento total das atividades, enquanto 41,6% poderão tomar esta decisão nos próximos 30 dias. Um dos motivos é a diminuição dos alunos matriculados entre março e junho.
De acordo com o Sindicreche-RS, em março, a quantidade aproximada de crianças era de 90 mil. Três meses depois, esse número caiu para 42 mil. Além da perspectiva de fechamento, as demissões de colaboradores também são reflexo da evasão: 74,8% dos participantes da pesquisa admitiram que precisaram demitir de março para cá. De um universo de 20 mil colaboradores, a entidade estima que houve 5 mil desligamentos no período.
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Participando ativamente de um grupo formado por 200 diretores de escolas infantis de Porto Alegre e Região Metropolitana, Magliane Locatelli, proprietária da escola Pais e Filhos, da Capital, corrobora com a pesquisa. Segundo ela, alguns colegas relataram que precisaram demitir profissionais na tentativa de precisarem fechar em definitivo.
— Eu não demiti ninguém, mas tenho colegas que já demitiram bastante da equipe de apoio, que são auxiliares de Educação Infantil, porteiro, zelador, cozinheiro, pois nem online eles podem trabalhar. Cada mês que passa fica muito difícil — afirmou.
Apesar da suspensão temporária das atividades presenciais, as instituições mantêm os gastos da operação: folha salarial, custos de luz, aluguel e investimentos em infraestrutura — que são feitos antes do início do ano letivo levando em conta a quantidade de contratos anuais assinados, explica a proprietária da Pais e Filhos. Mesmo sem perspectiva de retorno das atividades, Magliane garante que todas as escolas estão preparadas e com equipes treinadas para receber com segurança todas as crianças cujos pais necessitam do serviço:
— Temos que pensar que somos escolas para quem precisa. Há famílias que já se organizaram para passar o ano em casa e retornar apenas quando a situação estiver mais calma. Entendemos que a retomada não vai aumentar o número de casos, vai ajudar quem precisa.
O Sindicreche-RS reforça o coro e defende que o fechamento das instituições abre brechas para o surgimento de um cenário ainda mais arriscado, o chamado “cuida-se”, que são pais ou pessoas que reúnem um grupo de crianças para cuidar na informalidade para que os pais possam trabalhar.
— Mães relatam que os filhos ficam em uma casa com outras três crianças, sem critério, sem fiscalização. Temos toda a comunidade contra, sem nenhuma empatia por quem está precisando. A gente respeita e sabe a gravidade do problema, mas têm famílias que nos procuram querendo saber quando vamos abrir. Não queremos obrigar ninguém a retornar, mas temos olhar para aquelas famílias que voltaram ao trabalho e não têm onde deixar as crianças — destaca Laura de Andrade, delegada do Sindicreche em Alvorada, falando em nome da entidade.
Necessidade pelos serviços
Conforme Laura, mesmo que a reabertura seja liberada, o Sindicreche-RS acredita que a procura pelos serviços será pequena, limitando-se às famílias que realmente não têm com quem deixar os filhos enquanto trabalham. Estimativas da entidade apontam que 35% das famílias têm necessidade dos serviços prestados pelas escolas de Educação Infantil.
É o caso de Marlise Pettenon, empresária que tem um filho de quatro anos e nove meses em uma escola infantil de Alvorada. Dona de um mini-mercado, ela tem levado o filho Valentim ao estabelecimento diariamente, pois é a forma de conciliar trabalho e tutela. Assim, o menino não consegue assistir às aulas online e nem se envolve profundamente com atividades pedagógicas.
— Continuo pagando a mensalidade, mesmo com o desconto de 30%, porque sempre acho que as aulas poderão voltar no mês seguinte — afirma.
Ela complementa que, quando as escolas reabrirem, mesmo que ainda não haja vacina ou controle mais amplo da pandemia, mandará seu filho para as aulas.
— Acho que ele corre mais risco aqui junto no mercado que no colégio, onde todos são da mesma idade e o risco, acredito eu, seja menor — explica.
Conforme a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), não há definição para a data de retorno das aulas presenciais no Rio Grande do Sul. Em posicionamento enviado à reportagem, a pasta informa que "o Regime de Colaboração, estabelecido entre a Secretaria Estadual da Educação (Seduc), a rede privada e os municípios, mantêm a proposta de calendário escolar padronizado e propõe troca de informações permanentes. Além disso, ocorrem reuniões semanais entre Seduc e entidades representativas como Sinepe, Undime, Uncme e Famurs para o alinhamento de ações conjuntas durante a pandemia e implantação dos protocolos de saúde nas escolas".
"Ainda, o Governo do Estado consultou, entre os dias 2 e de 12 de julho, a opinião de entidades das áreas da educação, saúde, proteção à criança e ao adolescente e pautas relacionadas, sobre os próximos passos a serem adotados na construção do retorno das aulas presenciais. A Seduc reforça que todas as ações realizadas têm como prioridade a proteção à vida dos estudantes e professores do Rio Grande do Sul".
Já a Secretaria da Educação de Porto Alegre informou à reportagem que não há previsão de retorno das atividades presenciais nas escolas.