Mercado aquecido
Venda de veículos usados cresce 10,6% no Brasil em agosto; no RS, aumento é de 2,9%
Revendedores dizem que, após período de fechamento, foi preciso baixar os preços para recuperar as vendas
Mais um dos setores afetados pela crise do coronavírus ensaia sua recuperação. É o segmento de vendas de veículos usados e seminovos. Depois de amargar queda nos primeiros meses da pandemia, agora, os números melhoram.
Na última semana, a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto) divulgou relatório que mostra um aumento de 10,6% em agosto nas vendas de veículos usados no Brasil, com relação ao mês anterior. No mês passado, foram comercializadas 1.264.408 unidades, contra 1.143.726 em julho.
Os números positivos ainda seguem no início desse mês. Conforme a Fenauto, a primeira semana de setembro teve vendas 3,98% superiores a primeira semana de agosto. A guinada positiva é um alívio diante do período complicado. No acumulado do ano, o setor ainda está em queda de 26,8%. Porém, os últimos meses tem apresentado índices até superiores ao mesmo período do ano passado, o que dá esperança ao setor de fechar o ano no azul.
Estado
Conforme a Fenauto, a elevação foi mais tímida no Rio Grande do Sul. Na comparação entre julho e agosto, o aumento nas vendas foi de 2,9%. Mas, o que chama atenção é a comparação com o mesmo período do ano passado, onde as vendas cresceram 14,4% – foram 81.697 vendas de usados e seminovos em agosto do ano passado, ante 93.472 no mesmo mês deste ano.
Presidente da Associação dos Revendedores de Veículos Automotores do Rio Grande do Sul (AgenciAuto), representação regional da Fenauto, Rodrigo Dotto avalia positivamente os números. Para ele, o setor tem se recuperado rapidamente. Rodrigo pontua, entretanto, que a dificuldade tem sido na compra de carros seminovos pelos revendedores, pois as concessionárias chegaram a interromper a fabricação em alguns momentos do ano. Para ele, suprir esse estoque é o atual desafio.
– O crescimento entre julho e agosto é uma sequência, pois já vínhamos de mais crescimento entre junho e julho. Apesar de o acumulado do ano ainda ser negativo, se seguirmos com o cenário atual, vamos, pelo menos, igualar o ano passado, mas acredito que a chance dos números serem superiores é maior.
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Essa virada não é positiva apenas para quem vende carros, mas também para quem compra. Isso porque quando a pandemia desacelerou as vendas, os preços também baixaram nas revendas de seminovos e usados.
Preços
Administrador de um estabelecimento que toca com o pai no bairro Cavalhada, em Porto Alegre, o vendedor Guilherme Fernandes relata que o período mais complicado foi em março, por terem de fechar as portas. Quando houve a retomada, os preços precisaram baixar. Agora, Guilherme confirma a melhora nas vendas.
– Boa parte dos revendedores trabalha com espaços alugados. Então, precisamos do giro financeiro para manter o negócio. Com a necessidade de vender para manter aberto, os preços precisaram baixar – explica o vendedor.
Porém, na visão de Guilherme, a retomada das vendas na abertura foi rápida em razão de fatores gerados pela própria pandemia.
– Neste ano, pessoas que perderam o emprego e tinham uma renda, buscaram o veículo para trabalhar com aplicativos de transporte, por exemplo. Ou quem planejava comprar para deixar de andar de ônibus, com o medo de contágio, resolveu investir. Ou seja, quem estava projetando, agora está comprando – aponta.
Plano em prática
O auxiliar administrativo Eduardo Vargas, 22 anos, que mora na Capital, é exemplo de consumidor que colocou em prática o plano do carro durante a pandemia. Ele estava sem carro desde o início do ano passado. Os planos para comprar outro veículo se estenderam até a metade deste ano, quando conseguiu uma boa proposta e fez a compra em Canoas.
– Eu já tinha o plano de comprar, e consegui dentro da faixa de preço que esperava. Então, foi um bom momento para a aquisição – conta ele, que comprou um automóvel usado, ano 2006.
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Proprietário de uma revenda na zona norte de Porto Alegre, Luciano Santana acredita que a dificuldade maior no setor foi causada pela obrigatoriedade do fechamento durante alguns períodos em março e junho. Entretanto, estando com as portas abertas, ele diz que tem feito boas vendas:
– Não podemos é parar de atender. Nosso ramo não funciona tanto no online, a pessoa tem que vir na loja, ver o carro. É um momento bom pra comprar e até trocar de carro, os valores e as taxas de juros dos financiamentos estão mais baixos do que em anos anteriores.
Destaque também para as motos
As motocicletas também se destacam nos números. Na comparação de julho com agosto, os modelos de duas rodas tiveram salto de 9,4% nas vendas – saindo de 14.304 unidades vendidas em julho para 15.650 em agosto.
Para o representante local da Fenauto, o destaque nas vendas de motos pode estar atrelado ao fato de as pessoas buscarem mais segurança:
– Fizemos um levantamento que mostrou que as pessoas ainda estão com medo de usar transporte público e até mesmo carros de aplicativo, pela questão do contágio do coronavírus. Quem não tem dinheiro para um carro, acaba indo pra moto. Ou quem precisou se desfazer do carro e compra uma moto, até pela economia. O próprio segmento de bicicletas tem tido uma demanda bem maior que o normal, justamente por essa busca de opções ao transporte público.