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Sem obstáculos

Campanha solidária garante distribuição de doces e presentes na Lomba do Pinheiro na véspera de Natal 

Ação ficou ameaçada em função da pandemia e da falta de recursos, mas grupo de escoteiros decidiu auxiliar o Papai Noel Julio Cesar Mello da Silva

24/12/2020 - 09h46min

Atualizada em: 24/12/2020 - 09h47min


Elana Mazon
Elana Mazon
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Marco Favero / Agencia RBS
Julio, ou melhor, o Papai Noel, percorre ruas do bairro ao lado de Brenda no dia 24 de dezembro

Desde 2017, a véspera de Natal do trabalhador da construção civil Julio Cesar Mello da Silva, 34 anos, não envolve apenas a sua família. No dia 24 de dezembro, ele veste-se de Papai Noel e distribui presentes, doces e, principalmente, carinho na Lomba do Pinheiro, bairro da Capital onde vive com a esposa, a auxiliar de creche Daiane, 34 anos, e a filha, Brenda Luiza, 14.

A ação começou após uma promessa de Daiane. Se conseguisse o emprego que buscava na época, ela doaria seu primeiro salário para uma campanha de Natal. A ideia da ação foi de Julio.

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– Quando eu era criança, um rapaz passava pela rua em que eu morava, aqui na Lomba, vestido de Papai Noel. Ele entregava doces, conversava. Aquilo me comovia. Ele fazia eu acreditar que existem pessoas que são Papais Noeis, que se dedicam a alegrar as crianças. Foi lembrando disso que decidi fazer o mesmo – conta Júlio.

Alguma experiência como o Bom Velhinho Julio já tinha. Certa vez, uma vizinha havia pedido para ele usar a roupa de Papai Noel e aparecer para os netos dela:

– A roupa coube perfeitamente. Parecia que estava me esperando (risos). Falei que estava organizando a campanha, e ela me emprestou. Desde então, empresta todos os anos.

Marco Favero / Agencia RBS
Traje do Bom Velhinho é de uma vizinha

Naquele ano, cerca de 250 crianças receberam doces ou presentes e um abraço do Papai Noel. No ano seguinte, a campanha ganhou reforços: Julio e a esposa receberam doações de amigos e familiares. Além disso, o Bom Velhinho ganhou uma ajudante: Brenda Luiza. 

Reforço

Escoteira, a guria acompanhou o pai uniformizada. Organizou as entregas, tirou fotos... A solidariedade seguiu em 2019. Então, veio 2020.

Com a pandemia de coronavírus, circular pelas ruas e distribuir abraços tornou-se perigoso. Além disso, a questão financeira pesou. Daiane está novamente desempregada. Julio trabalha como autônomo – logo, a renda não é garantida. 

– Eu já estava bem desanimado. Como o Papai Noel vai chegar e não dar um abraço? A gente pensou em deixar passar. Aí, o grupo de escoteiros da minha filha ficou sabendo e propôs fazer uma campanha. Chorei na hora – relata Julio.

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Uma das chefes do Grupo Escoteiro Léo Borges Fortes, Alice Fortes, 27 anos, conta que o os membros decidiram fazer uma campanha, que resultou em cerca de R$ 500:

– O escotismo é um movimento voltado para os jovens. Decidimos ajudar pois o Julio reafirma a esperança para essas crianças e suas famílias.

Pandemia exige cuidados 

Além das doações dos escoteiros, Julio, Daiane e Brenda arrecadaram dinheiro, doces e brinquedos entre familiares, conhecidos e comerciantes. Vencida a questão financeira, seguem os desafios para manter a segurança. A roupa usada por Julio inclui também uma máscara – o que ajudará a evitar o contato com seus olhos e sua boca.

Marco Favero / Agencia RBS
Família organiza os presentes e doações

– Vou usar luvas, e a roupa vai ser higienizada ao longo da ação. Quem for comigo também usará máscara o tempo todo, além de luvas e de álcool gel. Também vamos levar álcool gel para higienizar as mãos das crianças – lista o Papai Noel.

A ideia é que as crianças fiquem nos portões das casas, e que o Bom Velhinho entregue os doces com distanciamento. 

– Me corta o coração não dar abraços, mas temos que evitar. Para não colocar a saúde de ninguém em risco – diz.

Marco Favero / Agencia RBS
Em 2020, ação terá de ser um pouco diferente, porém, a solidariedade prevalecerá

Coleção de emoções

Nos três anos de ação solidária, Julio já viveu inúmeras situações emocionantes. A convite do DG, ele relembrou uma de cada ano.

2017

“Uma criança que estava dentro de um pátio enxergou o Papai Noel com o seu sino e não quis saber de mais nada: saiu correndo no meio da rua para me abraçar. Ela não pediu presente, não pediu balas, nada. Só dizia: ‘que bom que o senhor veio!’. Aquilo me comoveu muito.”

2018

“Um rapaz, já adulto, passou por mim todo desanimado. Ao me ver, perguntou se podia me dar um abraço. Ali, ele contou que saiu de casa dizendo aos filhos que estava indo atrás de um presente para eles, mas que, no fundo, sabia que não ia conseguir. Mas me encontrou. Quando ele contou isso, nós dois nos emocionamos. Dei algumas coisas para ele levar, e ele disse: ‘o senhor salvou o meu Natal, agora posso dar alguma coisa para os meus filhos’.”

2019

“Neste ano, combinei de me vestir na casa da minha irmã mais velha, Jaqueline. Nós já perdemos nossa mãe, o fim de ano às vezes é difícil, e minha irmã tinha decidido passar o Natal sozinha. Convidei ela para fazer a ação, comigo, e ela não quis. Mas, quando me viu pronto, me disse: ‘Se a mãe estivesse aqui, ia sentir muito orgulho do homem que tu te tornou’. Só de lembrar, me emociono.”


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