Transporte público
Metroplan ainda aguarda retorno de Vicasa sobre operação em Canoas
Empresa que opera linhas em Canoas e na ligação da cidade com Porto Alegre foi alvo de notificação estadual nesta semana. Descumprimento de normas e excesso de reclamações são motivos
A luta dos passageiros da Vicasa por melhores condições de transporte surtiu efeito. A qualidade do serviço oferecido pela empresa em Canoas, na Região Metropolitana, alvo de diversas reportagens do Diário Gaúcho desde 2019, acabou levando ao órgão de gestão do transporte metropolitano, a Metroplan, a notificar a empresa no início desta semana.
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A autarquia e a Secretaria Estadual de Articulação e Apoio aos Municípios (SAAM) justificaram que a notificação foi enviada "devido aos registros de descumprimento das normas estabelecidas nos decretos estaduais que determinam regras e limites de acordo com a classificação das bandeiras nas regiões do Estado, e omissão da qualidade de serviços, como descumprimento das tabelas horárias". O prazo para a empresa apresentar as mudanças é de 15 dias.
Em setembro do ano passado, o DG mostrou como a Vicasa era a empresa de transporte metropolitano com os ônibus mais velhos da Região Metropolitana. Os veículos comuns tinham 13,5 anos de idade média, enquanto os executivos batiam a casa dos 17. Apesar da frota pequena, eram 48 ônibus — sendo apenas dois executivos —, a empresa tem um desafio grande neste ano. Em dezembro, 12 carros comuns completam 16 anos, teto estabelecido pela Metroplan. Assim, precisam ser substituídos. Na época, a empresa já informava que não tinha condições financeiras de seguir com a renovação da frota. Isso culminou na piora do serviço e no aumento das reclamações enviadas ao órgão fiscalizador estadual.
Integração
O maior problema é que, com a falta de manutenção, os coletivos, que já são antigos, ficam parados quando estragam. Com a frota pequena e sem possibilidade de substituir os carros, Canoas está praticamente sem transporte metropolitano.
A principal reclamação é, desde o ano passado, a suspensão das chamadas linhas de integração, que apesar de só rodarem dentro de Canoas, eram operadas pela Vicasa. Elas iam dos bairros até a estação central do Trensurb em Canoas, permitindo a integração dos usuários e o deslocamento para outras cidades, principalmente, Porto Alegre. As viagens foram descontinuadas ainda no primeiro semestre de 2020, exigindo dos usuários que encontrassem alternativas.
O ônibus sumiu
Moradora do bairro Niterói, a pedagoga empresarial Janice Oliveira, 44 anos, desloca-se diariamente à Capital há 10 anos para conseguir chegar ao trabalho. Sempre fez o caminho utilizando a linha de integração e depois o trem. Mas, desde o ano passado, com a suspensão, teve de optar pela linha Industrial, que faz o trajeto entre as duas cidades. Nesse período, Janice sentiu as mesmas dificuldades de sempre, como ônibus velhos, problemas mecânicos no meio da viagem, atrasos.
Porém, há menos de um mês, a situação ganhou contornos ainda piores: os ônibus simplesmente deixaram de circular. Tanto no início da manhã quanto no fim da tarde, ela não consegue mais acessar a linha Industrial, como já acontece há um ano com o itinerário Integração.
— É um absurdo, desrespeitam um direito constitucional. Fiz contato com a empresa, dizem que o ônibus quebrou e não tem outro para repor. A Metroplan diz que já recebeu tanta reclamação que não ia mais fornecer número de protocolo. Até no site da prefeitura de Canoas fiz reclamações — pontua Janice.
Apesar de circularem na cidade, é válido lembrar que as operações da Vicasa não estão sob alçada da prefeitura, mas sim, da Metroplan, pois todas as linhas operadas pela empresa são metropolitanas. O transporte urbano, em Canoas, é operado pela empresa Sogal.
Risco é perder a concessão
Conforme a notificação enviada pela Metroplan, a Vicasa tem 15 dias para se manifestar e apresentar uma solução, principalmente, para o problema da Integração. Em nota, a autarquia estadual exigiu "um planejamento a ser implementado com medidas a sanar os problemas, restabelecendo o atendimento de integração e fazendo a interligação dos bairros ao serviço do Trensurb".
A Metroplan diz que "o não atendimento implicará na extinção da concessão". Titular da pasta estadual de Articulação e Apoio aos Municípios, o ex-prefeito de Canoas Luiz Carlos Busato, afirma que a medida foi necessária diante de "um problema que é antigo, mas piorou nos últimos meses".
Central
Como ação paliativa, além dos ônibus da Vicasa, os canoenses também estão podento utilizar os ônibus da empresa Central, provisoriamente, com destino a Porto Alegre, no horário de pico nos turnos da manhã e tarde. A autorização foi concedida pelo secretário Busato. A medida servirá de apoio à operação da Vicasa, que continuará atendendo. No sentido Interior — Porto Alegre, o embarque e desembarque estarão autorizados na Avenida Guilherme Schell. No sentido Porto Alegre — Interior, o embarque e desembarque estarão autorizados na BR- 116.
A reportagem tentou contato com a empresa Vicasa durante todo o dia de ontem. Entretanto, a empresa não retornou.
Cobramos dentro do possível
Secretário de Transporte e Mobilidade Urbana em Canoas, Francisco da Mensagem, reforça que a prefeitura não tem poderes sobre a Vicasa. Entretanto, ele pontua que o município vem buscando há meses dialogar com a Metroplan e a empresa para buscar soluções, até porque o mau funcionamento do sistema prejudica moradores da cidade que precisam ir até outros pontos da Região Metropolitana.
— Canoas está praticamente sem transporte metropolitano. A nossa preocupação é que essas linhas sejam reestabelecidas a pleno o mais rápido possível. Tem moradores de toda cidade que estão sem transporte e nós não temos como notificar e empresa, pois isso depende da Metroplan — explica Francisco.