Vale do Sinos
Menino em convulsão é salvo por funcionários de companhia elétrica e recebe presente surpresa: "melhor dia da minha vida"
Caminhão da RGE estragou em frente à casa da família, e quando atendentes desceram para pedir ajuda, encontraram menino em convulsão
Aos 9 anos de idade, Júnior Patrick não tinha expectativas na última Páscoa. De família humilde, ele sabia que os pais não poderiam bancar os doces desejados. Até que uma incrível coincidência — ou destino, como crê a família — levou para sua casa uma dupla de trabalhadores da concessionária RGE: os funcionários bateram à porta da residência pedindo pelo sinal de wi-fi, para solicitar resgate ao caminhão que havia estragado. No trecho da VRS-873, em Santa Maria do Herval, no Vale do Sinos, não há sinal de telefonia. Encontraram o menino sofrendo uma convulsão, e a história entre eles começou.
As equipes da empresa têm treinamento para primeiros socorros, e um atendimento inicial foi possível.
— Levamos o Júnior para o hospital e lá, pra trocar de assunto, perguntei o que ele ia ganhar do coelhinho. Disse que não havia pedido nada, e isso doeu meu coração, pensei nos meus filhos — relembra o eletricista Márcio Winter, 38 anos.
O funcionário da companhia elétrica compreendeu a atitude do garoto, que ignorava a data festiva. Estava consciente da condição enfrentada pelos familiares: devido a suspensão das festas, desde o início da pandemia, a mãe e o pai , que são músicos, deixaram de se apresentar nos bailes, até então a principal renda para manter o imóvel e os quatro filhos.
Após ganhar alta, Júnior se juntou à irmã, Manuela de Fátima Ferreira Silva, 10 anos, e listou presentes que gostaria de ganhar. A cartinha virtual acabou endereçada aos novos amigos, da concessionária.
Márcio e o colega Alan Dreher, 34, compraram ovos de Páscoa, dois pares de tênis e duas calças, além de uma jaqueta. Os outros irmãos também foram presenteados.
Logo que recebeu as doações, Júnior enviou um áudio de agradecimento pelo WhatsApp:
— Eu nunca ganhei tanta coisa assim. Que Deus te abençoe, ele vai te dar em dobro. Ô tio, hoje é o melhor dia da minha vida — garantiu o menino.
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Na manhã desta segunda-feira (7), a reportagem de GZH acompanhou o reencontro, na simples, mas aconchegante casa de madeira onde se conheceram, às margens da rodovia. A criança vestia o casaco azul e os tênis de estampa colorida entregues pelo coelhinho.
Júnior escalou a caminhonete e pousou para fotos, de braços cruzados ao lado da dupla de atendentes.
— Se eu quero trabalhar com eles? Já vão estar aposentados — retruca o menino, com a sinceridade da infância.
Andressa Cristina Ferreira, 31 anos, lamenta não ter conseguido realizar todos os testes para descobrir a origem das convulsões do filho. O valor para um dos exames supera os R$ 300, parcela considerável dos ganhos no bar improvisado junto à casa. Grata pela ajuda, reforça que a chegada dos atendentes, no exato momento da crise do garoto, não pode ser coincidência.
— Foi Deus que colocou esses dois anjos na porta da minha casa. Isso que eles fizeram pelo meu filho mostra que vale a pena ser bom, e ajudar o próximo — afirma a mulher.