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Levantamento

Correios estão com mais de 10,6 milhões de correspondências em atraso no RS

Segundo a estatal, para amenizar os danos, horas extras estão sendo realizadas e funcionários terceirizados foram contratados

05/08/2021 - 20h02min


Eduardo Matos
Eduardo Matos
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Moradora de Porto Alegre, Zélia Giordani Gugliotta, de 75 anos, mostra contas que chegaram atrasadas

Os Correios estão com 10.691.123 correspondências atrasadas no Rio Grande do Sul. Cerca de 97% são referentes a  faturas de empresas de telefonia, internet e planos de saúde — consideradas cargas simples, não têm comprovante para o remetente controlar se a carta foi recebida. O levantamento é referente a 30 de julho e consta no sistema de controle interno da empresa. Trabalhadores dos Correios, que não quiseram se identificar, relatam atrasos de mais de seis meses para esse tipo de entrega.

O restante, 3%, é referente às correspondências registradas e incluem vários tipos de postagens. Nesse caso, a prioridade dos Correios tem sido dar vasão às entregas de produtos comprados pela internet em razão ao volume dos objetos e a produtos como Sedex e Sedex 10. No entanto, intimações pelo Judiciário por meio de Aviso de Recebimento e cartões bancários, de lojas e de planos de saúde estão sendo entregues com atraso. 

A reportagem teve acesso aos dados de alguns itens com registro de demora na entrega. Um deles foi postado no meio de abril em outro Estado e só chegou a uma cidade gaúcha no fim de julho.

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O motivo principal dos atrasos, segundo entidades que representam os trabalhadores, é a falta de funcionários.

— Tem dois recursos que não podem faltar nos Correios: transporte e pessoal. E, infelizmente, a atual administração dos Correios não tem feito a reposição das vagas. Então, nos locais onde saiu o pessoal nos planos de demissão incentivada, ou o pessoal que se aposentou, ou mesmo que faleceu, essas vagas não foram repostas — relata o vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), Marcos Cesar Alves Silva.

Segundo o dirigente da entidade nacional, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro são os Estados com maior problema de atrasos na entrega de mercadorias.

O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do Rio Grande do Sul, Alexandre dos Santos Nunes, fala em “apagão postal”, provocado, segundo ele, por descaso da direção dos Correios com a falta de pessoal e a rescisão recente de contrato de terceirizados após discussão judicial:

— Tem unidades que não entregaram correspondência simples ainda neste ano.

Em todo o país, o efetivo dos Correios é de 97.812 trabalhadores — o menor desde pelo menos 2013, primeiro dado disponível. No Rio Grande do Sul, são cerca de 6 mil, sendo cerca de 3,2 mil carteiros. A superintendência no Estado já teve cerca de 7 mil trabalhadores.

Para tentar amenizar os atrasos, os Correios afirmaram, em nota, que estão remanejando empregados de outras unidades, realizando horas extras e ainda contratando servidores terceirizados. Cerca de 400 trabalhadores temporários teriam sido contratados para entrega de correspondências. Eles começariam a trabalhar na segunda-feira (2).

Moradora do bairro Menino Deus, em Porto Alegre, Zélia Giordani Gugliotta, de 75 anos, é um dos tantos exemplos de quem reclama do atraso nas entregas pelos Correios.

— As correspondências não chegam. A gente tem que pedir segunda via, tem que telefonar de um lado para outro para conseguir docs (documentos). Não quero ficar devendo e nem pagar atraso por causa dos juros. Acho que os Correios deveriam ter um pouco mais de responsabilidade. Não estou pensando só em mim, estou pensando em toda a população que está com esse problema — desabafa a auxiliar de enfermagem aposentada.

No caso de Zélia, o atraso na entrega de correspondências traz um problema adicional.

— Meu marido tem 92 anos e tenho que cuidar dele. Quando preciso pagar um boleto, tenho que ligar, pedir para me mandarem pelo WhastApp, ir num local para imprimir, para depois fazer o pagamento. Isso quando não tenho que pedir para alguém fazer isso para mim. Já fiquei três meses sem receber correspondência — reclama ela.

Privatizações

Em fevereiro, o governo federal encaminhou à Câmara dos Deputados projeto de lei para privatizar os Correios. Em pronunciamento na segunda-feira (2) em cadeia de rádio e televisão, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que o tema deve ser pautado na Casa nesta semana e, mais uma vez, defendeu a venda da estatal:

— Com a privatização, os Correios vão conseguir crescer, competir, gerar mais empregos, desenvolver novas tecnologias, ganhar mais eficiência, agilidade e pontualidade. Somente assim, os Correios poderão manter a universalização dos serviços postais, que significa estar presente em todos recantos do país.

Confira a íntegra da nota dos Correios

"Os Correios agradecem o convite, porém, iremos nos pronunciar por meio de nota:

A estatal lamenta eventuais transtornos e informa que, em razão dos protocolos adotados em prol da segurança de empregados, fornecedores e clientes, podem ocorrer alterações nos serviços prestados. As entregas em todo o Estado estão ocorrendo, porém a capacidade de distribuição está temporariamente reduzida.

No intuito de minimizar os impactos aos clientes e otimizar o atendimento e as operações de distribuição, os Correios estão adotando diversas medidas, tais como o remanejamento de empregados de outras unidades, realização de horas extras e a contratação de mão de obra terceirizada — que ingressou nas unidades operacionais nesta semana. Com essas ações, será possível observar melhora dos serviços de distribuição no Estado nos próximos dias."


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