Levantamento
Correios estão com mais de 10,6 milhões de correspondências em atraso no RS
Segundo a estatal, para amenizar os danos, horas extras estão sendo realizadas e funcionários terceirizados foram contratados
Os Correios estão com 10.691.123 correspondências atrasadas no Rio Grande do Sul. Cerca de 97% são referentes a faturas de empresas de telefonia, internet e planos de saúde — consideradas cargas simples, não têm comprovante para o remetente controlar se a carta foi recebida. O levantamento é referente a 30 de julho e consta no sistema de controle interno da empresa. Trabalhadores dos Correios, que não quiseram se identificar, relatam atrasos de mais de seis meses para esse tipo de entrega.
O restante, 3%, é referente às correspondências registradas e incluem vários tipos de postagens. Nesse caso, a prioridade dos Correios tem sido dar vasão às entregas de produtos comprados pela internet em razão ao volume dos objetos e a produtos como Sedex e Sedex 10. No entanto, intimações pelo Judiciário por meio de Aviso de Recebimento e cartões bancários, de lojas e de planos de saúde estão sendo entregues com atraso.
A reportagem teve acesso aos dados de alguns itens com registro de demora na entrega. Um deles foi postado no meio de abril em outro Estado e só chegou a uma cidade gaúcha no fim de julho.
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O motivo principal dos atrasos, segundo entidades que representam os trabalhadores, é a falta de funcionários.
— Tem dois recursos que não podem faltar nos Correios: transporte e pessoal. E, infelizmente, a atual administração dos Correios não tem feito a reposição das vagas. Então, nos locais onde saiu o pessoal nos planos de demissão incentivada, ou o pessoal que se aposentou, ou mesmo que faleceu, essas vagas não foram repostas — relata o vice-presidente da Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), Marcos Cesar Alves Silva.
Segundo o dirigente da entidade nacional, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro são os Estados com maior problema de atrasos na entrega de mercadorias.
O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do Rio Grande do Sul, Alexandre dos Santos Nunes, fala em “apagão postal”, provocado, segundo ele, por descaso da direção dos Correios com a falta de pessoal e a rescisão recente de contrato de terceirizados após discussão judicial:
— Tem unidades que não entregaram correspondência simples ainda neste ano.
Em todo o país, o efetivo dos Correios é de 97.812 trabalhadores — o menor desde pelo menos 2013, primeiro dado disponível. No Rio Grande do Sul, são cerca de 6 mil, sendo cerca de 3,2 mil carteiros. A superintendência no Estado já teve cerca de 7 mil trabalhadores.
Para tentar amenizar os atrasos, os Correios afirmaram, em nota, que estão remanejando empregados de outras unidades, realizando horas extras e ainda contratando servidores terceirizados. Cerca de 400 trabalhadores temporários teriam sido contratados para entrega de correspondências. Eles começariam a trabalhar na segunda-feira (2).
Moradora do bairro Menino Deus, em Porto Alegre, Zélia Giordani Gugliotta, de 75 anos, é um dos tantos exemplos de quem reclama do atraso nas entregas pelos Correios.
— As correspondências não chegam. A gente tem que pedir segunda via, tem que telefonar de um lado para outro para conseguir docs (documentos). Não quero ficar devendo e nem pagar atraso por causa dos juros. Acho que os Correios deveriam ter um pouco mais de responsabilidade. Não estou pensando só em mim, estou pensando em toda a população que está com esse problema — desabafa a auxiliar de enfermagem aposentada.
No caso de Zélia, o atraso na entrega de correspondências traz um problema adicional.
— Meu marido tem 92 anos e tenho que cuidar dele. Quando preciso pagar um boleto, tenho que ligar, pedir para me mandarem pelo WhastApp, ir num local para imprimir, para depois fazer o pagamento. Isso quando não tenho que pedir para alguém fazer isso para mim. Já fiquei três meses sem receber correspondência — reclama ela.
Privatizações
Em fevereiro, o governo federal encaminhou à Câmara dos Deputados projeto de lei para privatizar os Correios. Em pronunciamento na segunda-feira (2) em cadeia de rádio e televisão, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que o tema deve ser pautado na Casa nesta semana e, mais uma vez, defendeu a venda da estatal:
— Com a privatização, os Correios vão conseguir crescer, competir, gerar mais empregos, desenvolver novas tecnologias, ganhar mais eficiência, agilidade e pontualidade. Somente assim, os Correios poderão manter a universalização dos serviços postais, que significa estar presente em todos recantos do país.
Confira a íntegra da nota dos Correios
"Os Correios agradecem o convite, porém, iremos nos pronunciar por meio de nota:
A estatal lamenta eventuais transtornos e informa que, em razão dos protocolos adotados em prol da segurança de empregados, fornecedores e clientes, podem ocorrer alterações nos serviços prestados. As entregas em todo o Estado estão ocorrendo, porém a capacidade de distribuição está temporariamente reduzida.
No intuito de minimizar os impactos aos clientes e otimizar o atendimento e as operações de distribuição, os Correios estão adotando diversas medidas, tais como o remanejamento de empregados de outras unidades, realização de horas extras e a contratação de mão de obra terceirizada — que ingressou nas unidades operacionais nesta semana. Com essas ações, será possível observar melhora dos serviços de distribuição no Estado nos próximos dias."