Covid-19
Estou vacinado. E agora, como fica a proteção com a variante Delta?
Imunizantes oferecem defesa contra a nova cepa do coronavírus, mas eficácia cai; duas doses ganham ainda mais importância
Em um cenário no qual 53% dos brasileiros receberam a primeira dose de uma vacina contra a covid-19 e 23% ganharam duas, a variante Delta se espalha pelo país e gera receio de governos e especialistas em saúde. Se você faz parte do grupo de vacinados, provavelmente pensou: se recebi vacina, qual o meu risco com a variante Delta?
Diversos estudos e estatísticas da vida real constatam que os imunizantes hoje disponíveis protegem contra formas graves da doença – mas, como a eficácia cai frente à Delta, é fundamental tomar as duas doses. Nos Estados Unidos, mesmo com a variante, 99% dos mortos por coronavírus não receberam vacina, segundo a Casa Branca divulgou em julho.
Contra a Delta ou qualquer outra cepa, a lógica é: quem recebeu duas doses está mais protegido do que quem recebeu apenas uma aplicação – e estes, por sua vez, estão mais a salvo do que quem não ganhou nenhuma dose.
A eficácia das vacinas, mostram as pesquisas, cai um pouco contra a Delta em comparação a outras variantes – mas ainda se mantém considerável (veja a seguir efeitos para cada vacina).
– No geral, quem estiver vacinado com duas doses não vai para o hospital nem UTI. Cerca de 95% das pessoas internadas no Rio de Janeiro não são vacinados. As vacinas funcionam. Mas quem se vacina ainda pode pegar covid e, apesar de não adoecer gravemente, pode passar a outras pessoas, e estas podem morrer — afirma o médico Marcelo Simão, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
A alta transmissibilidade da Delta – estimativas sugerem que seja duas vezes mais do que a cepa do início da pandemia – motivou governos de diferentes países, incluindo Estados Unidos e Israel, a recomendar ou obrigar que vacinados usem máscara em ambientes fechados.
A orientação serve para proteger a vida de quem não está imunizado e para evitar que vacinados adoeçam em casa. Casos como o de Tarcísio Meira, que faleceu de covid-19 mesmo vacinado com duas doses, são exceção, mas ainda possíveis, uma vez que nenhum imunizante, para qualquer doença, oferece proteção total. Estudos mostram que, conforme a pessoa fica mais idosa, a vacina perde a eficácia por conta do enfraquecimento do sistema imune.
— Uma dose ajuda a proteger, mas a proteção maior é com duas doses. A dose de reforço serve para consolidar as defesas e aumentar a duração delas. Mas pessoas vacinadas não estão 100% protegidas com nenhuma vacina. Ao vacinar, a gente diminui o risco de complicações, adoecimento e novas infecções — afirma o médico Eduardo Sprinz, chefe da Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
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A segunda dose se torna essencial não só para para aumentar a eficácia da vacina, mas também para a duração da proteção – ainda não se sabe quanto tempo dura a imunidade.
— Não sabemos o quanto vacinados transmitem. Sabemos que vacinados têm risco de agravamento muito menor. Mas, como temos uma variante mais transmissível, nunca os suscetíveis foram tão suscetíveis quanto agora — afirma a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19 e integrante do Comitê Científico do governo do Estado.
Em países onde a cobertura está mais avançada, governos já discutem a aplicação de terceira dose, como Israel, Chile e Alemanha. Há certa expectativa da comunidade científica de que seja necessário tomar reforços eventuais, tal como é feito anualmente com a vacina da gripe.
Essa perspectiva, por exemplo, motiva a possível parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para fabricação de parte do ingrediente farmacêutico ativo da AstraZeneca em Porto Alegre.
Veja a seguir o que estudos apontam sobre cada vacina aplicada no Brasil
Pfizer/BioNTech
Em Israel, estudo do governo apontou que a eficácia de duas doses da Pfizer/BioNTech contra casos sintomáticos caiu de 95,8% para 64% com a Delta. Mas a proteção contra casos graves e hospitalizações seguiu alta: 93%, ante 99% contra outras variantes.
Outro estudo, da agência de saúde pública da Inglaterra, mostrou que, contra casos sintomáticos da Delta, uma dose ofereceria 33% de proteção e duas doses, 88%. Já a redução de risco contra hospitalizações e mortes foi de 94% com uma dose e 96% com duas doses.
No Chile, a eficiência reportada na população foi de 87,69% – estudos internacionais situaram-na anteriormente acima dos 94%.
O CEO da BioNTech, Ugur Sahin, declarou ao The Wall Street Journal que, embora a proteção contra todas as doenças sintomáticas esteja diminuindo, a proteção contra doenças graves continua alta e a maioria das pessoas pode não precisar de uma terceira dose. Ainda assim, alguns países começaram a fazê-lo, como Israel, França e Alemanha.
AstraZeneca
Contra casos sintomáticos, uma dose da AstraZeneca oferece 33% de proteção, assim como a Pfizer, e duas doses oferecem 67%, segundo estudo da agência de saúde pública da Inglaterra. Já contra hospitalizações e mortes, uma dose da AstraZeneca ofereceu 71% de proteção e duas doses, 92%.
Janssen
A Johnsson & Johnsson afirmou que sua vacina de dose única, a Janssen, tem eficácia de 71% contra hospitalizações causadas pela Delta. O estudo com 477.234 trabalhadores da saúde na África do Sul ainda mostrou que a proteção contra mortes ficou entre 91% e 95%.
CoronaVac
Há menos estudos conclusivos sobre a CoronaVac e a Delta. Pesquisa do Ministério da Saúde Pública da Tailândia mostrou que, a partir de junho, quando entre 20% e 40% dos casos haviam sido gerados pela Delta, a eficácia da CoronaVac foi de 75%.
No Chile, a eficácia da vacina para evitar casos assintomáticos diminuiu de 68% em abril para 58% atualmente. No entanto, se manteve igual aos níveis de proteção contra a hospitalização, a internação em unidades de cuidados intensivos e a morte. A constatação motivou o governo chileno a aplicar a terceira dose.