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Natal no endereço: confira como o clima de festas envolve os moradores das vilas chamadas Natal

A reportagem do DG visitou Canoas, Gravataí e Sapucaia do Sul para saber como é a movimentação das vilas onde é Natal o ano inteiro

24/12/2021 - 05h00min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Mateus Bruxel / Agencia RBS
Na Rua Natal de Jesus, em Canoas, Jaqueline Dias produz peças de decoração

A reportagem do Diário Gaúcho visitou localidades da Região Metropolitana onde é Natal todos os dias. Nas vilas Natal de Gravataí e de Sapucaia do Sul, a união entre voluntários está fazendo crianças e famílias mais felizes nesta data, com a entrega de alimentos e com o atendimento de pedidos feitos em cartinhas endereçadas ao Papai Noel. Já em Canoas, na Rua Natal de Jesus, o trabalho manual de uma artesã está presente em diversas casas nesta época do ano. Confira as histórias de cada local. 

Parceria entre vizinhos em Gravataí 

O que não falta no bairro Vila Natal, em Gravataí, é união entre os moradores. E nesta época do ano não seria diferente. Para celebrar o Natal e fazer a alegria das crianças do bairro, a Associação Comunitária Vila Natal (Ascomvina) organizou uma festa com a presença do Papai Noel, que chegou em um caminhão do Corpo de Bombeiros. O Bom Velhinho contou com a ajuda da comunidade para entregar 228 presentes, no último domingo, dia 19. 

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– Os moradores são muito parceiros, conseguimos apadrinhar 172 crianças que escreveram suas cartinhas. Também atendemos as que não tinham cartinhas, mas que vieram aproveitar a festa – conta a presidente das Ascomvina, a diarista Jussara Coelho, 41 anos. 

Cada detalhe da celebração natalina teve a contribuição de quem reside no bairro. Além dos presentes comprados, bicicletas reformadas – trabalho que foi feito por um morador –, patinetes e patins foram sorteados. Desde o Papai Noel e bombeiro que conseguiu o caminhão até o grupo que trabalhou na preparação dos lanches, todos são vizinhos da Vila Natal.

– Também teve vizinhos que ajudaram vendendo e comprando as rifas, muito empenhados. Foi melhor do que esperávamos – destaca Jussara. 

Expectativa

No dia da ação, antes da chegada do Papai Noel, as crianças atendidas pela Ascomvina se apresentaram em uma roda de capoeira. Com cachorros-quentes e copos com refrigerante em mãos, elas correram para a rua ao ouvir a sirene que anunciava a chegada do Velhinho. Um dos olhares atentos era de Beatriz Masetto Lemos, três anos, que aguardava cheia de expectativa. Ela usava uma tiara enfeitada que fazia jus à festa – com dois Papais Noéis. 

Segundo Raquel Masetto, 36 anos, e Andrei Lemos, 43 anos, pais de Beatriz, foi a primeira vez que participaram da festa comunitária. A menina não pediu presente na cartinha, mas salientou que merecia ganhar um. 

– Ela escreveu que se comportou durante o ano e obedeceu os papais e vovós. Pediu paz para o mundo e um Feliz Natal. Ela surpreendeu – recorda a mãe. 

Uma ceia

A ação também foi especial para a família da estudante Thaís Mattos dos Santos, 12 anos. Em sua cartinha, ela pediu uma cesta básica para ajudar em casa com alimentos para ceia

– A gente não está com muito dinheiro e eu queria um Natal – relata Thaís, que além da cesta, ganhou um dos presentes. 

– Ela é uma menina muito sensível. O pai dela está em tratamento contra o câncer e nossas condições estão precárias no momento – explica a dona de casa Sheila Mattos, 32 anos, mãe de Thaís. 

Segundo Jussara, foram doadas 35 cestas básicas para as famílias que já são atendidas pela associação:

– Graças à doação de cada amigo, mesmo que com um quilo de alimento, no final das contas fez a diferença. 

União o ano todo

Para além das festas, a Vila Natal é unida em outras frentes, como no incentivo ao comércio local e contra a violência. Segundo Jussara, o grupo de moradores no WhatsApp tem cerca de 220 integrantes. 

– Temos o projeto Vizinhos Vigilantes, que é uma parceria que acontece entre os moradores. Qualquer atitude suspeita ou carro estranho passando pelas ruas é relatado no grupo. Também temos vizinhos da Polícia nesse grupo – conta Jussara. 

Em relação ao incentivo aos comerciantes e empreendedores, ela explica que, pelo menos uma vez no mês, uma feira comunitária é montada na associação para que moradores comercializem produtos, que vão do artesanato a alimentos. 

De acordo com arquivos da prefeitura de Gravataí, o bairro existe desde 1955 e não há informações sobre a escolha do nome. 

Tradicionalismo e solidariedade em Sapucaia do Sul

Sem casas com decorações natalinas e com poucas pistas de que o local já foi conhecido como Vila Natal – a não ser pelo posto de saúde, que ainda leva o nome Natal na fachada. Em Sapucaia do Sul, a região que antes era a Vila Natal, hoje é chamada de Nova Sapucaia pelos moradores.

No entanto, mesmo na falta das luzes em frente às casas e guirlandas nas portas, o espírito de solidariedade desta época do ano é mantido pelo grupo de tradicionalistas do CTG Herança Farroupilha. 

Junto das Cavalgadas do Bem, ação realizada pela RBS TV em parceria com o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e com o Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul, que ocorreu no sábado passado, dia 18, em diversas cidades do Estado, os cavaleiros do CTG arrecadaram doações de alimentos e de brinquedos com o propósito de fazer o Natal de algumas famílias melhor. 

–  Arrecadamos bastante. Os alimentos foram entregues para o Banco de Alimentos do município, que estava com o estoque reduzido. Já os brinquedos serão levados para crianças do bairro Colina Verde no dia 25. Lá, será organizada uma festa com cachorro-quente e doces, além do Papai Noel, que o CTG vai levar – conta o mecânico Jean Marcel Dutra Soares, 42 anos, vice-patrão do Herança Farroupilha.

As ações do grupo composto por 14 cavaleiros e alguns apoiadores não pararam durante o ano, segundo Jean. 

– Mas principalmente na época de Natal, a gente ser solidário gera um sentimento especial. Procuramos sempre ajudar o próximo e o tradicionalismo é isso, é ser solidário – afirma o vice patrão.

Origem 

Após o contato da reportagem, Jean procurou com outros moradores a razão para a região ter sido chamada de Natal. 

– Pelo que fiquei sabendo era por causa da laranja natal, um tipo de laranja que tinha no campo antes de ser loteado. Depois, o local ficou conhecido como Vila dos Tocos porque foram cortadas as laranjeiras para dar espaço nos lotes. Uns moradores chamam de Nova Sapucaia, mas na pesquisa ainda aparece Natal – relata Jean. 

De acordo com a escritora e historiadora Eni Allgayer, que desenvolveu pesquisas e é autora de obras sobre Sapucaia do Sul, a Vila Natal teria sido originada de um loteamento vendido para pessoas que vinham de outras cidades trabalhar no município, em meados da década de 1960. 

– Acredito que o nome tenha sido este porque foi implantado na época natalina – especula a escritora. 

A informação foi confirmada pelo diretor de urbanismo da prefeitura da cidade, Vilson dos Santos Lessa. Segundo ele, o loteamento teria sido aprovado nos registros do munícipio em dezembro de 1969. 

– Realmente pode ser pela proximidade do Natal – alegou.

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Uma ajudante do Papai Noel em Canoas 

É na redondeza da Unidade Básica de Saúde Natal, em Canoas, que fica o local também conhecido por Vila Natal. A magia natalina não se refletiu tanto na parte externa das casas da região. As decorações nos pátios são singelas, com algumas luzinhas ou apenas guirlandas nas portas – de acordo com uma moradora, os poucos enfeites natalinos são reflexo da crise financeira enfrentada por muitos brasileiros.   

Mateus Bruxel / Agencia RBS
Jaque mora há 19 anos na Rua Natal de Jesus

Na Rua Natal de Jesus, a decoração vai além da porta da casa de Jaqueline Dias Dutra, 51 anos. Sem tempo de parar devido ao número de encomendas, a artesã conta com animação sobre a alta procura desta época do ano. É da sua casa que saem decorações para as casas de seus clientes e também para presentes. 

– Gosto muito de fazer tudo que envolve a data e aumenta muito os pedidos. Não dá tempo de respirar. Tudo que eu faço é vermelho e verde, não para nada nessas cores – conta ao mostrar os panos de prato.

Jaque confecciona crochê, tricô, pinturas em panos, guirlandas, entre outros artesanatos. No ramo há quase 30 anos, hoje ela já pode dizer que, entre as artes, seu maior prazer é a pintura.

– Faço diversas, como o Papai Noel, que já não tenho mais para vender e as bonecas Mamãe Noel – explica. 

A artesã não tem conhecimento de como surgiu o nome da rua, mas garante que o Natal é feliz em família, em qualquer lugar:

– Eu amo o Natal, gosto de todos juntos, e mais ainda depois de ter netas. 

Conforme documentos da Câmara Municipal de Vereadores, em 1985, parte da Vila Santo Operário passou a ser Vila Natal. Entre as ruas, além da Natal de Jesus, consta no bairro a Operários da Natal. O documento não informa a motivação da escolha.

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