Seu Problema é Nosso
Esperança em cada passo: DG acompanha a história de três pessoas que desejam realizar grandes sonhos em 2022
Aline fala sobre sua procura por um emprego, Gerson consegue tratamento para os seus dentes e Delene segue na busca pela casa própria
Publicada no último dia de 2021, a reportagem que falava sobre Gerson Fabiano Pacheco, 43 anos, se mostrou uma oportunidade para que a história do morador do bairro Chico Mendes, em Cachoeirinha, ganhasse novos contornos. Seu desejo para o ano que se inicia é o de voltar a sorrir. É que, devido ao uso de drogas, ele acabou tendo problemas em seus dentes. Isso prejudicou sua autoestima e qualidade de vida. Mas, após um casal de empresários conhecê-lo por meio do jornal, decidiu ajudar a realizar seu sonho.
Os prejuízos que a falta dos dentes traz a Gerson, que trabalha na área de serviços gerais e limpeza urbana do município onde mora, estão presentes em seu dia a dia. No momento de fazer suas refeições sente com mais intensidade o problema. Ele não consegue mastigar muitos dos alimentos sólidos que consome e, por isso, acaba tendo que ingeri-los inteiros, o que causa dores e desconforto. Outro momento difícil, comenta, é na hora da escovação, quando novamente surge a dor, que vem acompanhada de sangramento.
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Assim, acreditando que seu caso era grave, Gerson ficou surpreso quando recebeu a ligação dos proprietários da Odonto Company de Alvorada, que faz parte de uma rede de clínicas odontológicas. Ele comenta que foi procurado apenas alguns dias após a publicação da matéria. Na primeira conversa com a clínica, já teve agendada a consulta de avaliação do seu caso, que ocorreu em 7 de janeiro.
– Vai ficar muito bom. O pessoal da clínica me atendeu com muito carinho e atenção. E a doutora tem uma mão abençoada, porque, nas vezes em que fui lá, eu não senti dor. Agora é só agradecer – celebra.
Solidariedade
Marjorie Pocebon, 34 anos, é uma das sócias da clínica. Ela explica que estava no litoral, onde a família foi passar a virada de ano, quando leu a reportagem. Seu sogro compra todos os dias o DG. Quando viram a capa, que destacava a matéria sobre os sonhos para 2022, chamou a atenção deles que um dos desejos era o do Gerson, que queria voltar a sorrir.
– Trabalho todos os dias na clínica e vejo o que esta transformação pode causar nas pessoas. E muitas têm este desejo de um sorriso bonito, voltar a ter qualidade de vida. A história do Gerson nos tocou – conta, ao falar que a família leu a reportagem coletivamente, em voz alta, e todas as pessoas que lá estavam se comoveram com o relato.
Após conversar com seus sócios, fizeram contato com o DG, se oferecendo para ajudar.
A clínica foi inaugurada há seis meses. Mas, antes mesmo do lançamento, um dos objetivos que seus idealizadores tinham era de também fazer dela um espaço de ações sociais. Isso porque, comenta Marjorie, eles já participavam de projetos que ajudam pessoas em situação de vulnerabilidade.
Assim, queriam trazer estas ações também para a empresa. A ideia é oferecer uma quantidade específica de consultas e tratamentos gratuitos para quem não tem condições de pagar. Mas, como eles ainda buscam parceria com organizações que os ajudem a encontrar este público, entenderam que ajudar Gerson seria um bom começo para esta linha social da clínica.
A dentista Caroline Geremias, 29 anos, é a profissional que acompanha Gerson. Ela acredita que, além de reestabelecer seu sorriso, a mudança representa a vida nova que ele decidiu construir, após conseguir seguir por outro caminho.
– Quando o pessoal me chamou para contar da história do Gerson no Diário Gaúcho, eu fiquei realmente motivada e emocionada. Disseram que estavam dispostos a realizar esse sonho dele e que contavam comigo para contribuir com a realização. Não pensei duas vezes e aceitei na hora – declara.
Motivação para outras recuperações
Na época em que era usuário de drogas, Gerson chegou a ser morador de rua. Hoje, trabalhando com limpeza urbana, ele vê pessoas que conheceu naquela época dormirem nas calçadas da cidade, sem conseguir mudar suas vidas. Por isso, espera que sua história possa se tornar uma motivação para que outros usuários consigam se recuperar.
Ele acredita que, para que ocorra a mudança, é necessário primeiramente acreditar em si mesmo e, depois, buscar se agarrar em algo que dê forças. No seu caso, foi a esposa seu grande apoio.
– Estou realizando meu sonho, para o meu bem-estar, mas queria que outros moradores de rua também encontrassem forças para acreditar em si mesmos e saírem das ruas. Ainda falta alguma coisa para eles conseguirem. Quem sabe lendo minha história no jornal consigam encontrar forças. Pode parecer impossível, mas não é – finaliza.
Apesar do esforço, vaga de Aline ainda não chegou
Após a reportagem contando a história de Aline dos Santos Veiga, 31 anos, uma rede de amigos, vizinhos e conhecidos se mobilizou para fazer com que ofertas de emprego chegassem até a moradora do bairro Esmeralda, em Viamão.
Desde outubro, Aline procura uma forma de voltar para o mercado de trabalho. O objetivo dela é trabalhar na área da saúde, como cuidadora de idosos. No entanto, por conta da dificuldade, ela está disposta a aceitar outas propostas, como na área de serviços gerais ou vendas. Desde dezembro, Aline segue distribuindo currículos de forma presencial e online, foi indicada para algumas vagas e já participou de entrevistas.
– Eu estou bem contente porque muitas pessoas têm indicado. Sei que, uma hora, vou encontrar a vaga ideal – torce a desempregada.
Uma das chances era para trabalhar em uma loja que fica dentro de um shopping na zona norte de Porto Alegre. No entanto, um empecilho novo se apresentou: a jornada de trabalho seria encerrada às 0h, e o último ônibus que vai até a casa de Aline sai às 23h15min. Assim, ela não poderia contar com o transporte público para retornar para sua residência. A única alternativa seria voltar para casa todos os dias utilizando algum carro de aplicativo, o que deixaria o custo bastante elevado.
Aline conta que a conhecida que fez a indicação para esta vaga não pôde permanecer no emprego pelo mesmo motivo.
Informal
Enquanto a possibilidade de voltar para o mercado de trabalho ainda não se concretiza, Aline começou a trabalhar como cuidadora da mãe de uma amiga, de forma temporária.
– Já apareceram algumas oportunidades mas nenhuma se encaixou com a minha realidade – destaca Aline.
Em outra entrevista que surgiu, ela não pôde comparecer por estar com suspeita de covid-19. Com o tempo, soube que não estava infectada, mas acabou perdendo a oportunidade. Ela segue agora distribuindo currículos e indo ao Sine de Viamão.
Busca por moradia continua
A esperança de Delene Cesconetto, 42 anos, em conquistar sua casa própria segue firme. Após o DG contar sua história, ela recebeu algumas doações na vaquinha que criou para juntar o valor que precisa para a compra de uma residência. Somadas, as contribuições chegam a R$ 425. Mas ainda falta uma quantia significativa para bater a meta que estipulou no financiamento coletivo, que é de R$ 40 mil. Estando atualmente em uma residência temporária, em Porto Alegre, desde maio passado tenta arrecadar o dinheiro para adquirir sua casa.
Por possuir deficiência em seus pés e conviver com algumas doenças, ela precisa encontrar um local que possa ser adaptado às suas necessidades. Chegou a comprar um terreno, localizado em uma área não regularizada, mas, por sua condição de saúde, não foi possível ficar lá.
– Quero ir para um lugar que tenha documentação, que seja tudo regularizado. Agora está faltando bastante coisa para mim, até comida, mas não tiro o dinheiro da vaquinha. A ideia é só tirar de lá quando eu tiver o valor total para comprar a casa – explica Delene, que enfrenta dificuldades financeiras por estar sem trabalhar.
Apoio
Uma atuação permanente no cotidiano de Delene é o voluntariado, por meio do qual se dedica a organizar festas infantis e arrecadar doações de alimentos e agasalhos para ajudar outras pessoas. Com o trabalho, conheceu muitos amigos que, hoje, a ajudam a passar pelas dificuldades que enfrenta. Uma delas é a educadora Nívia Alvarenga, 47 anos, moradora do bairro Nonoai, em Porto Alegre.
A amiga fala que, por toda sua trajetória, vê em Delene um exemplo de superação. Por isto, torce para que consiga realizar seu sonho.
– Ela precisa de uma residência que atenda às necessidades físicas dela. Uma nova moradia seria uma dignidade. Por mais que alguém tenha limitações, é um ser humano e precisa do básico – enfatiza Nívia.
O objetivo de Delene é vender o terreno que adquiriu e somar ao valor que está arrecadando na vaquinha, para, assim, comprar sua casa. É possível apoiá-la com doações de qualquer quantia através do link vakinha.com.br/2076390.