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Irmãos de fé

Padres gêmeos comemoram 50 anos de ordenação em Porto Alegre: "Os fiéis se confundem todos os dias"

Dois de uma família de 12 filhos, Remi e Romeo Maldaner deixaram Nova Petrópolis para constituir a vida sacerdotal na Região Metropolitana

10/02/2022 - 22h03min


Tiago Boff
Tiago Boff
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A conexão entre gêmeos alcançou esferas superiores em Porto Alegre. Se não chega a ser tratado como um caso milagroso, o exemplo dos irmãos Remi e Romeo Maldaner, de 79 anos de idade, no mínimo eleva a fé dos católicos logo de cara: os dois são padres, idênticos até na vestimenta.

— Os fiéis se confundem todos os dias. Nos dizem: “são xerox um do outro”. Aí eu devolvo: “Então quem é o original?”. Porque se tem uma cópia tem que ter um original — diverte-se Romeo. 

Na foto de um cartão postal, ambos estão com vestes douradas, aproximados 1,67 metro, ralos cabelos brancos e feições deveras harmônicas. Um bom observador – caso do fotógrafo André Ávila, preocupado como iria identificar cada qual nas imagens desta reportagem -, nota óculos de armação inteiramente preta, e mais espessa, sobre um dos rostos. É Remi. Já Romeo usa lentes afixadas em hastes mais finas.

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A ordenação da dupla foi há 51 anos. Porém, devido a pandemia, a festa de meio século de batina, que deveria ocorrer no ano passado, foi adiada para o próximo domingo (13). Contará com uma missa presidida pelo arcebispo metropolitano da Capital, Dom Jaime Spengler, na Igreja Imaculado Coração de Maria, distrito de Pinhal Alto, município de Nova Petrópolis, na Serra.

A festa jubilar tem o lema Alegres na Esperança; Pacientes na Tribulação; Perseverantes na Oração, e oferecerá ainda um almoço e confraternização posteriores ao primeiro ato, no pavilhão da comunidade.

Pinhal Alto é o berço de suas vidas religiosas

— Éramos coroinhas na igreja, magrinhos, pequeninos. E tinha aqueles livros pesados, com moldura de madeira pra carregar. Já era uma vocação — afirma Remi, puxando sete décadas pela memória.

Seus pais, Amália Cecília e Reinaldo Maldaner, tiveram 12 filhos - em uma escala do mais velho para o mais novo, ocupam o quarto e o quinto lugar. Foram os únicos a seguir o celibato: aos 14 anos trocaram a Serra pela Região Metropolitana, estudaram em uma instituição de Gravataí e emendaram o curso superior de Filosofia no seminário de Viamão. Com a formação em Teologia puderam receber o título de sacerdotes, no mesmo cantinho de Nova Petrópolis onde nasceram.

— Quem nasceu antes? Tu queres saber qual o mais velho? Só nossa mãe sabia, e nunca revelou quem saiu primeiro — brinca Remi, sobre o segredo de Amália Cecília. 

A família é descendente direta de alemães. Seguia à risca as tradições, e foi daí que os meninos herdaram a frequência nos cultos. Hoje, Remi é pároco do Santuário de Navegantes, na Zona Norte, função desempenhada há 22 anos. Romeo comanda há nove anos o Santo Antônio do Pão dos Pobres, no bairro Cidade Baixa.

Ao contar suas histórias, ao vivo no Timeline, da Rádio Gaúcha, reviveram as andanças por comunidades do Rio Grande do Sul. Detalharam as cinco décadas de atuação, e confundiram o repórter, que conversou com um, acreditando estar à frente do outro.

— Padre Remi fez o nosso casamento na Igreja Nossa Senhora dos Navegantes dia 4 de novembro de 2017 — avisou o casal de ouvintes Camila e Gabriel Anawate. Também pelo WhatsApp do programa, Ana Borba voltou à época de sua eucaristia: — Minha primeira comunhão foi com o padre Romeo, na Paróquia Nossa Senhora do Livramento.

Aposentadoria nas mãos de Deus 

Tanto Remi quanto Romeo são gremistas. Ao falar da campanha da dupla Gre-Nal nas últimas temporadas, deixam claro: não adianta rezar pelo futebol gaúcho. 

Garantem nunca terem pensado em outro caminho ou profissão, mantendo firmes os votos mesmo diante das dificuldades apresentadas por cada congregação. Nem pela confusão causada por suas fisionomias. 

— Ontem mesmo eu estava aqui (no Santuário Navegantes) e uma chegou pra mim achando que era ele, e falou, falou, falou — relembra Romeo, outra vez às gargalhadas, mais uma característica compartilhada. 

Prestes a completarem 80 anos, nenhum dos dois fala em aposentadoria. Romeo diz ter planos de viver até os cem, “o resto, deixo nas mãos de Deus”, ri o sacerdote. Sobre o futuro, têm um discurso da mesma forma idêntico: 

— Vamos seguir servindo a igreja enquanto tivermos condições. Se Deus nos deu saúde até os 80, imagino que queira que sigamos com nosso trabalho mais tempo — pede Remi, ou Romeo, confundindo mais uma vez a equipe.

Ouça a entrevista dos padres ao Timeline



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