Atletas de um time amador de futsal de Alvorada, região metropolitana de Porto Alegre, levaram ao pé da letra a expressão “futebol é um esporte coletivo”. Não bem ao pé da letra, mas ao último fio de cabelo, para ser mais preciso: o elenco, de titulares a reservas, raspou a cabeça em apoio ao dono do clube, Jarlei Borges, 34 anos, diagnosticado com um câncer.

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— Vamos passar por essa contigo. E vai todo mundo cortar o cabelo também, porque a gente te ama — disse ao presidente, na frente da cadeira do barbeiro, o ala Eduardo Soares, o Dudu.

Publicado no Instagram Borges Futsal Club, um vídeo flagra a surpresa, que foi na noite da última quinta-feira (4): Jarlei está raspando o cabelo com máquina zero, uma maneira de se adiantar a uma consequência do tratamento. Nesse momento, recebe a inesperada visita dos amigos. O homem chora ao ver que o grupo está ali para lhe dar suporte, e na sequência todos passam pelo ritual de abandono da cabeleira.

— Comecei a cortar oito da noite e fui até as duas da madrugada — relembra o barbeiro, Everton Jesus, 31 anos, responsável pelos 15 novos carecas.

Editado no formato reels da plataforma, o post, que foi ao ar no último domingo (7), alcançou 44 mil visualizações em três dias, muito acima da média do perfil @borgesfcoficial, que tinha 1,6 mil seguidores no final da manhã desta terça-feira (9).

A gravação muda o cenário: salta da cadeira do barbeiro até a quadra. Os jogadores aparecem com os cabelos raspados, uniformizados, de fato, dos pés até a cabeça.

— Atitude incrível dos meninos. Na quadra, os adversários se emocionaram também — elogia a esposa de Jarlei, Camila Machado Strider, 33 anos.

— Alvorada inteira se emocionou — interrompe Pedro Possebon, 43 anos, integrante da comissão técnica.

A partida, disputada pelo time na sexta-feira (5), foi válida pela semifinal da série ouro do municipal de futsal. Foi vencida por 1 a 0, com gol de Victor Olivio, 22 anos.

— Raspar a cabeça era o mínimo que a gente podia fazer — complementa o goleador, de misterioso apelido "30 segundos".

Sem salários, time é "uma família"

O Borges Futsal Club tem sede no piso superior do edifício onde os pais de Jarlei montaram um mercado e madeireira. Quem entra no jogo não ganha salário: joga pela paixão de competir.

Na rede social, o time reforça em palavras a união, agora estampada sobre a cabeça do goleiro, zagueiros, meias e pivôs: “além de um time de futsal, acima de tudo uma grande família. Comemoramos as vitórias, aprendendo com as derrotas, construímos há quase cinco anos uma linda história. E vocês sabem como? Juntos”, define parte da legenda.

Jarlei tem três filhos com Camila: um casal de gêmeos de nove meses de vida e uma menina de oito anos, Jamily. A garota convive com as idas ao hospital desde muito cedo.

— A gente fez a festa de dois anos dela no hospital — conta a mãe.

Esta é a quarta vez que ele luta contra a doença: venceu o tumor no testículo em 2008; o câncer voltou em 2012 e em 2015, dessa vez no abdômen e no tórax. Agora, em 2022, reapareceu em metástase nas regiões já tratadas. Ele precisará passar por quatro ciclos de quimioterapia, a primeira já vencida. Apesar de conviver com o tratamento, o empresário não desanima, com uma dose extra de força pela atitude dos amigos.

— Eles são minha família. Com eles ao meu lado, eu não vou desistir, nunca. E atitudes como essa, de cortar o cabelo, parece simples, mas me dão apoio. Vai ter perrengue, mas acreditando em Deus e com toda essa força vamos conseguir — afirma o presidente.