Qualificação
Conheça cinco jovens que estão na primeira turma do programa de qualificação do Instituto Caldeira
A iniciativa prepara jovens dos 16 aos 24 anos em cursos voltados à tecnologia da informação e à nova economia. O DG vai acompanhar a trajetória desses alunos
O ponto de partida foi diferente para cada um dos 750 jovens que integram o programa Nova Geração, a primeira iniciativa de capacitação do Campus Caldeira, localizado no 4º Distrito, em Porto Alegre. A trajetória, no entanto, tem objetivos em comum: a busca por conhecimento e a conquista de um espaço para desenvolver uma carreira. Já sobre o ponto final, ainda é cedo para prever.
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O Nova Geração oferece qualificação técnica voltada à tecnologia da informação e à nova economia, além de capacitações para desenvolvimento de habilidades socioemocionais com diversos parceiros. Nesta edição, a iniciativa teve mais de 2,6 mil inscritos, dos quais 750 foram selecionados. O grupo é formado por pessoas de 16 a 24 anos, alunos e ex-alunos da rede pública e bolsistas integrais de escolas privadas. Além disso, parte das vagas foi ocupada por jovens que frequentam os Centros da Juventude do Estado. As atividades tiveram início na primeira semana de agosto.
A reportagem do DG conversou com cinco jovens que ingressaram na primeira turma do programa. Com vivências distintas, residentes em bairros diferentes da Capital e da Região Metropolitana, eles hoje encaram uma oportunidade de encontrar o caminho para o campo do trabalho. A reportagem também vai acompanhar estes jovens durante todo o curso do Nova Geração, mostrando os desafios, aprendizados, experiências e possíveis conquistas.
Trajetórias parecidas de dois guris da Zona Norte
Com o que eu posso trabalhar agora? Foi a pergunta norteadora que os jovens Giovanni Chagas da Silva Junior e José Otávio Ferreira Marques, ambos com 19 anos, fizeram na hora da inscrição no Nova Geração. Eles optaram pela trilha que acreditavam estar mais próxima das suas realidades, o marketing digital.
Os dois vivem uma fase parecida na vida. Atualmente, acordam bem cedo para exercerem as funções de jovens multiplicadores do Centro da Juventude (CJ) no bairro Rubem Berta e de jovens aprendizes em outras instituições. Eles moram com as mães, que são chefes de família. Com a remuneração que hoje recebem, ajudam nas despesas de suas casas – principalmente, com o pagamento da internet. Além dessas similaridades, eles se formaram no Ensino Médio durante a pandemia – época que trouxe dificuldade para quem estava procurando uma oportunidade.
– Nos formamos e agora é com a gente. Quando a gente vai à procura emprego, ter Ensino Médio completo é o básico. Mas as vagas, na maioria, são para quem tem Ensino Superior. Então, eu procurei por cursos para tentar me destacar em alguma vaga – explicou Otávio, que além de estar no Nova Geração, é estudante de Serviço Social, na Uniasselvi.
– Eu sempre aproveitei oportunidades que eram gratuitas, fazendo cursinhos como os de pacote Office. Acho que esse eu fiz uns três, quatro – relata Giovanni, com um certo humor na fala. – Entrei no CJ porque era uma boa oportunidade.
E foi por meio das portas apresentadas no Centro da Juventude que eles conheceram a estrutura do Instituto Caldeira. Ambos estiveram no dia da inauguração e puderam saber mais detalhes do programa educacional.
Destaque
De camisetas com o logotipo do Nova Geração, contaram a razão de estar vestindo a peça. Ela foi recebida no encontro presencial no Campus Caldeira, que ocorreu no dia 20 de agosto. A dupla fez parte de um grupo que foi destaque em uma dinâmica na trilha de marketing digital e, por isso, levaram a camiseta para casa.
Apesar da dinâmica causar uma certa apreensão, os jovens tiveram que pensar em um produto e trabalhar na proposta com estratégias de marketing digital. O grupo relacionou o produto criado com o streamer Casimiro Miguel, que hoje está em alta na internet. A ideia, segundo eles, foi simples e rendeu risadas entre os colegas.
– Pensamos no Casimiro e o que a gente associa? O jogo e a cadeira. Aí teve uma colega “gênia” do marketing que soltou “cademiro” – relata Otávio sobre a cadeira que seria para todos os públicos, adaptável e confortável para passar horas em frente ao computador.
Giovanni e Otávio estão animados com os novos conhecimentos e contam que o contato com termos tecnológicos tem sido a maior novidade do projeto. Eles também já colocam em prática, aplicando o que aprenderam em outros projetos – entre eles um que é desenvolvido no DUXtec, um programa da Fundação Gerações, parceira do Caldeira.
– Eu acho que essas trilhas do Nova Geração são importantes para o currículo. São áreas que estão crescendo e o marketing é uma delas. E vou me esforçar para seguir – afirma Otávio, e Giovanni complementa:
– Estou apostando minhas fichas no Caldeira e nesse ramo do marketing e da internet. A princípio, não tinha em mente entrar na faculdade agora, então casou muito bem esse momento com o Nova Geração.
Aprimorando a base
Por meio de uma matéria no jornal Zero Hora sobre o Campus Caldeira, a oportunidade de se inscrever no Nova Geração chegou a Marlon Maverick Vasconcelos Machado, 22 anos, morador do bairro Aberta dos Morros, na Capital. A inscrição foi feita com o incentivo da mãe, mas também contava com o desejo de buscar um espaço para desenvolver a carreira profissional. Já formado em Tecnologia e Gestão de Turismo, ele migrou para uma área mais tecnológica e hoje, além de estar na trilha de programação, oferecida pela Oracle, cursa Análise e Desenvolvimento de Sistemas.
Para ele, umas das motivações de estar no Nova Geração é aprender conteúdos que possam agregar:
– Penso que o programa pode me proporcionar uma nova visão e que vai me levar a ter mais conhecimento e aprimorar o que eu já possuía de base.
Como não trabalha atualmente, Marlon dedica a maior parte do tempo para os estudos. Segundo ele, adentrar a tecnologia aconteceu de forma gradativa e por influência do seu irmão, que já trabalha na área.
Hoje, ele conta que está mais focado no desenvolvimento front-end – que é a parte mais visual da interface de um site. Na trilha educacional, com a Oracle, o jovem já teve conteúdos e conhecimentos que agregaram na rotina com estudos:
– Começamos com o desenvolvimento pessoal, para trabalharmos na questão do LinkedIn e também na produtividade, e isso acabou me dando vários insights para melhorar meus estudos e isso já me ajudou muito para focar no curso. Agora, iniciamos a programação. Estou focado em aprender o máximo possível e está sendo fantástico conhecer os caras da Oracle, participar das dinâmicas e também conversar com os colegas.
Um acréscimo para a carreira
Para Monique Moura Ferreira, 19 anos, o marketing digital pode contribuir com sua veia artística. A jovem escreve poesias e músicas desde os 11 anos. Suas composições se encaixam com o rap, o gênero musical que ela mais escuta. Mas, além disso, a escolha pela trilha educacional teve outro fator decisivo: a falta de um computador.
– Era um dos cursos que não precisava de computador e eu não tenho. Mas também tinha mais a ver comigo – conta Nick, como gosta de ser chamada.
Moradora do bairro Restinga, zona sul Capital, Nick também é uma jovem multiplicadora do Centro da Juventude e conheceu o Caldeira a partir do projeto da Fundação Gerações. Por questões de saúde, após ter sofrido um acidente no início do ano, Monique decidiu dar uma pausa no Ensino Médio. A conclusão foi adiada para o ano que vem, conforme a jovem. Mas, com vontade de seguir estudando, atualmente, o tempo livre é dedicado aos cursos e oportunidades novas, que possam acrescentar conhecimentos e, por isso, ela está motivada com a participação no Nova Geração:
– Eu tenho prazer em aprender, em adquirir conhecimento, quero trabalhar com educação também, e cultura, então tenho certeza que (o Nova Geração) ajudaria.
Em caso de atividades cujo computador é necessário, Nick explica que utiliza a máquina no CJ. A jovem tem uma boa expectativa do que ainda vai aprender e é positiva sobre o que para alguns pode ser considerada uma dificuldade:
– Chamo de dificuldade aquilo que não está ao meu alcance. Então, faço aquilo que eu posso.
Robôs e a construção da autonomia
De um contato com a robótica, Iasmim Welter, 17 anos, bolsista da Escola Sesi-RS, em São Leopoldo, teve descobertas do que imagina para seu futuro. Moradora de Estância Velha, ela está no 3° ano do Ensino Médio e tem uma rotina envolvida com diversas atividades. Entre as que são desenvolvidas pela jovem na escola Sesi, ser integrante da equipe TecRobot é a que ganha destaque. TecRobot é um grupo de alunos que trabalha na elaboração de projetos para a construção de robôs e que é participante da Firts Robotics Competition (FRC), competição internacional de robótica, que ocorre anualmente.
– Sempre estive muito engajada nos projetos que a escola desenvolve, como a robótica, o programa do Jovem Cientista. Surgiu a oportunidade do Nova Geração pelo Sesi. A escola incentiva muito esse tipo de participação e é a melhor coisa ter esse apoio – afirma a estudante.
Iasmim também escolheu a trilha de marketing digital e, segundo ela, já conheceu assuntos sobre os quais ainda não tinha experiência:
– No curso do Caldeira, conheci outra parte do marketing. Em relação a coisas do curso que aprendo e aplico na robótica, seria gestão de conteúdo estratégico, horários propícios para publicações, quais ferramentas digitais usar para determinado objetivo.
Segundo a estudante, a junção da metodologia da escola, da inserção da robótica, de cursos e de programas, contribuiu para sua autonomia.
– Por meio da robótica, tive uma ideia muito legal do que eu quero ser e construir, e pretendo seguir na área de marketing, como em Relações Públicas. Estamos muito inseridos na questão da tecnologia e da inovação em empresas mais humanizadas e poder vivenciar isso dentro de um curso e de um instituto como o Caldeira é muito legal – diz Iasmim.
Próxima etapa: Geração Caldeira
As atividades do Nova Geração iniciaram no mês passado e seguem até dezembro. As trilhas consistem em atividades ligadas ao mundo da tecnologia e da inovação, como de programação, oferecida pela Oracle, de marketing digital da Google, de computação em nuvem da Amazon Web Services (AWS), de ferramentas de trabalho da Google e da Microsoft e de gestão de vendas da Salesforce.
As atividades ocorrem em plataformas online. O próximo encontro presencial ocorre no dia 24 deste mês. No final de setembro, terá o período de formação e, em seguida, haverá um processo seletivo com aqueles que concluíram as trilhas de aprendizagem.
– Faremos um fechamento para todos aqueles que fizeram suas trilhas e terminaram as formações. Os que concluíram serão elegíveis para participar do Geração Caldeira. Nessa etapa, serão selecionados 50 jovens. Estamos muito felizes, em termos de taxa de evasão, que é baixa, e engajamento dos alunos, que é muito grande – afirma o coordenador do programa Nova Geração, Felipe Amaral.
A próxima fase do programa é presencial, realizada no campus entre outubro e novembro, com uma série de capacitações e bolsa financeira de auxílio.
O projeto conta com o apoio da Secretaria de Educação e da Secretaria de Justiça do RS e tem como mantenedores patrocinadores os Institutos Helda Gerdau, Jama, SLC e Lins Ferrão, Fundação A.J Renner, além das empresas AWS, Banrisul, Oracle, Sicredi e do Sebrae.