Porto Alegre
Estudantes elaboram projeto para combater a pobreza menstrual
O coletivo Garotas de Vermelho, da Escola Saint Hilaire, na Lomba do Pinheiro, foi convidado para uma missão em Madri, na Espanha
Com o objetivo de combater a pobreza menstrual, o coletivo Garotas de Vermelho vem se destacando com seu trabalho de empreendedorismo social. Formada por estudantes da Escola Municipal de Ensino Fundamental Saint Hilaire, na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, a iniciativa foi convidada a participar de uma exposição internacional em Madri, na Espanha, que ocorrerá em junho.
O convite para a viagem ao Exterior foi possível porque o grupo conquistou o prêmio nacional do Desafio Liga Jovem, do Sebrae, em São Paulo, no fim do mês de março — a equipe ficou entre os seis projetos premiados dentre os mais de 1,2 mil inscritos de todo o Brasil.
Na ocasião, o coletivo foi representado pelas alunas Nathalia Caminha, 16 anos, Gabriela Padilha dos Santos, Jullia Justo e Ketellem Gomes _ as três com 15 anos _ e pela professora e coordenadora do projeto, Maria Gabriela Pires, 36 anos. Ao todo, a iniciativa conta com a participação de 20 meninas e cinco meninos, com idades entre sete e 16 anos.
Dinâmica
O trabalho do grupo consiste na produção e venda de kits educativos sobre saúde menstrual, construídos através de parcerias da comunidade. Cada kit contém dois absorventes de tecido — com validade de cinco anos —, uma bolsa térmica para alívio das cólicas, uma nécessaire, um livro infantil escrito e ilustrado pelas próprias alunas do coletivo, um folheto informativo sobre menstruação, pequenos artesanatos das mulheres da comunidade, um botton e uma fitinha do projeto. Além disso, pensando na sustentabilidade, o kit, que custa R$ 100, possui, também, um lápis semente e um papel que serve como sementeira.
— A ideia do lápis semente é para plantar e escrever as experiências menstruais de cada uma. Quando o lápis termina, resta uma semente que pode ser plantada. A semente é de algum chá que ajuda no alívio das cólicas, seja de camomila, de manjericão ou de lavanda. Então, além de ser uma experiência educativa, é uma experiência sustentável — explica a professora Maria.
Com o valor arrecadado nas vendas, as estudantes garantem o pagamento dos custos e a doação de outro kits para meninas em situação de vulnerabilidade.
Início
Segundo a professora Maria, o projeto, iniciado em 2022, surgiu devido ao incômodo das meninas percebendo que muitas colegas faltavam às aulas por estarem menstruadas e também por conviverem com situações de deboches de outros alunos em relação ao tema. As jovens procuraram Maria, que coordena a biblioteca da escola e, à época, mediava um projeto de leitura e contação de histórias, para dar início ao coletivo.
— Elas fizeram pesquisas na escola, conversaram com ginecologista, com designers e outros profissionais para fazer todo trabalho da maneira mais correta e efetiva possível. Depois, realizamos oficinas em sala e percebemos que muitas de nossas alunas não sabiam fazer a higiene das partes íntimas corretamente — conta a professora.
Vale destacar que as ações do projeto ocorrem no turno inverso ao escolar. Além disso, as alunas dois na biblioteca da escola.
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Compartilhando conhecimento e saúde
Nas próximas semanas, o coletivo pretende visitar outras escolas da Capital para poder apresentar seu trabalho. De acordo com a Secretária de Educação de Porto Alegre, Sônia Rosa, a prefeitura irá custear o deslocamento do grupo, tanto dentro da cidade como na viagem para Madri — onde devem ir, pelo menos, quatro representantes do projeto junto com a professora.
— Nós apoiamos todos os projetos que envolvem empreendedorismo social, inovação e tecnologia. Infelizmente, em alguns casos, o termo empreendedorismo não é bem compreendido por parte da educação, mas quando visamos o lado social, que traz, também, um retorno para a própria escola, isso começa a mudar de figura e, quanto mais projetos como estes estiverem em nossa rede, iremos apoiar. Temos que incentivar, pois esses alunos, além de estarem desenvolvendo sua capacidade cognitiva, estão ajudando a solucionar um problema local — comenta Sônia.
Junto consigo, o coletivo carrega, como uma espécie de lema, a frase da ativista norte-americana Bell Hoocks: "Honrar a nós mesmas e amar nossos corpos é uma fase avançada na construção de uma autoestima saudável." Orgulhosa do trabalho desempenhado pelo grupo até aqui, a professora Maria diz:
— Eu, assim como muitas meninas, não tive a oportunidade de conversar sobre menstruação e sempre associei a um momento ruim, mas o projeto está me mostrando exatamente o contrário disso. Me orgulho muito delas e fiquei muito feliz com a oportunidade de irmos à Espanha, que é um país que tem muitas políticas públicas voltadas para mulheres.
Produção: Leonardo Bender