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RETRATOS DO DESPERDÍCIO

Após quatro anos, metade das obras acompanhadas pelo Diário Gaúcho está concluída

Em 2019, o DG elencou 20 construções que ficaram inacabadas em municípios da Região Metropolitana. Além das prontas, três têm previsão de inauguração ainda em 2023

22/07/2023 - 05h00min


Caroline Tidra
Caroline Tidra
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Jonathan Heckler / Agencia RBS
Em Guaíba, creche no bairro Cohab Santa Rita é um dos espaços que já está em uso

Com movimentos descoordenados ao som de músicas infantis com a batida da capoeira, crianças com dois e três anos se espalham pelo saguão da Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Noely Klein Varella, no bairro Cohab Santa Rita, em Guaíba. Isso é sinal de que os alunos estão usufruindo do espaço que é deles, por direito. A creche, que está em funcionamento desde novembro do ano passado, é uma das 20 obras públicas que o Diário Gaúcho acompanha desde maio de 2019. 

Entretanto, mais algumas centenas de crianças poderiam ter passado pela creche se a obra não tivesse interrupções ao longo de sua construção. Isso porque o pontapé inicial dos trabalhos ocorreu no começo do ano de 2014. No total, a obra teve investimento de mais de R$ 3 milhões. Hoje, a creche atende cercas de 190 alunos, de zero a cinco anos, em turno integral e parcial. 

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Diretora da instituição há 12 anos, Silvia Vitoria da Rosa Lopes, diz que esperava com ansiedade a finalização do espaço, visto que a escola funcionava em um prédio menor e sem características de um lugar adequado para crianças. A servidora também relata que, agora, com a escola em pronta, é comum a visita de pais buscando vagas.

— Muitas famílias ainda procuram por vagas, principalmente quem está se mudando para o bairro ou aqueles que possuem filhos matriculados em outras escolas da cidade, mas que moram próximo daqui. Antes, a prefeitura atendeu a comunidade, nem todos conseguiram perto de suas residências — explica a diretora. 

Proximidade entre a casa e a escola é um alívio para as mães que conseguiram vaga. Como é o caso da dona de casa Tassiele da Trindade, 26 anos, que leva todos os dias a filha Pyetra da Trindade Souza, de quatro. 

— Moro aqui perto e cheguei a procurar vaga em berçários, mas não consegui. Seria em outra escola, não tão perto daqui, mas nunca tinha vaga. Como ela ficou na fila de suplentes, foi chamada no ano passado para cá. Ela está gostando bastante — conta a mãe, enquanto Pyetra brinca no pátio da escola com as colegas. 

Jonathan Heckler / Agencia RBS
Diretora há 12 anos da Emei Noely Klein Varella, Silvia relata que a procura por vagas no novo espaço é constante

Inajara dos Santos Domingues, 36, também traz a filha Pérola Thais Domingues Orestes, de quatro. No caso dela, não houve a esperar por vaga, mas existiu a facilidade de conseguir perto de casa quando chegou o momento de matricular a pequena. 

— É o primeiro ano dela. Fiquei com ela em casa e, agora, que é o período obrigatório a partir dos quatro anos. Fui na Secretaria de Educação e recebi o encaminhamento para cá. Não tive que esperar — conta Inajara. 

Clique aqui ou na imagem e confira o especial  com os detalhes de cada obra:

Arte / Agência RBS

Outros rumos em dois canteiros

Outras duas obras em Guaíba, no entanto, tomaram rumos diferentes do que era projetado no início. Uma delas é a Emei Pedras Brancas, onde, no local, ainda existe o esqueleto da estrutura que mistura fibra de vidro e gesso. A prefeitura de Guaíba espera uma orientação do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a respeito do que fazer com as obras inacabadas. A dúvida é se os recursos gastos deverão ser devolvidos ao governo federal ou não.

Atrás de onde seria a nova creche funciona a instituição em um imóvel que foi cedido pela associação do bairro à prefeitura. Para resolver o problema de pouco espaço para a demanda de vagas no bairro, a Secretaria Municipal de Educação fez a instalação de dois módulos construtivos. Ou seja, fez um puxadinho para abrigar mais turmas. Os módulos contam com quatro salas de aula e banheiros. Essa ampliação foi feita por um sistema construtivo com perfis de aço galvanizado e fechada com placas, sem uso de tijolos, cimento e concreto. Diferente do ritmo da obra abandonada, essa ampliação ficou pronta em sete dias. 

Atualmente, 112 crianças frequentam a creche. Segundo a prefeitura, a alternativa zerou a fila de espera por vagas na educação infantil na região. 

— No momento supriu a demanda de vagas, mas ainda temos procura por berçários, o que a escola não possui hoje. Atendemos a partir de dois anos, o maternal — explica a vice-diretora, Camila Guerra.

Jonathan Heckler / Agencia RBS
Para suprir demanda por vagas, prefeitura de Guaíba construiu dois módulos onde a creche Pedras Brancas funciona

Também teve um novo rumo a obra que abrigaria a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) de Guaíba. O projeto não foi concluído em gestões anteriores e, segundo a prefeitura, pela extinção do prazo junto ao governo federal, o Executivo municipal teve que devolver o dinheiro investido para o Ministério da Saúde. Assim, o município apropriou-se da obra e o espaço vai servir como sede do futuro Centro de Especialidades Médicas de Guaíba (Cemed). 

A retomada iniciou com a obra de impermeabilização e finalização do telhado e, conforme a prefeitura, essa etapa está próxima de ser concluída. Já o restante da construção e acabamentos internos depende de uma nova licitação. A previsão é de que a inauguração ocorra em 2024.  

Placar geral é mais positivo

Passados mais de quatro anos, o placar sobre as 20 obras públicas que o Diário Gaúcho acompanha desde maio de 2019 começa a virar. Atualmente, 10 obras estão prontas e em funcionamento, atendendo às demandas da população. Outras três serão inauguradas entre agosto e setembro, conforme as prefeituras. Ou seja, ainda em 2023, se as previsões dos municípios cumprirem-se, serão 13 obras finalizadas. 

Em 2019, quando a série iniciou, todos os canteiros estavam abandonados. Entre as cidades, Viamão é a primeira a concluir e entregar todas as obras. O último espaço foi inaugurado em abril deste ano. 

Atualmente, seis locais estão sem equipes trabalhando no local, mas em três, existe uma expectativa de retomada das obras ainda neste ano, de acordo com as prefeituras. Portanto, três dos canteiros seguem parados e sem previsão de um dia serem concluídos.

A Estação Cidadania da Vila Anair — antigo Centro de Artes e Esportes Unificado (CEU) teve a construção finalizada, segundo a prefeitura, em maio de 2022. No entanto, o local ainda não está em funcionamento. Além de uma quadra poliesportiva coberta e pista de skate, há auditório com cineteatro e biblioteca. No espaço, também tem um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), que está em funcionamento. 

Para entrar em pleno funcionamento, o local depende de equipamentos e mobiliários, o que deve ser providenciado nos próximos meses. Conforme a prefeitura, a licitação de aquisição dos bens está em andamento e a inauguração está prevista para o final de setembro de 2023.

Em Alvorada, a Estação Cidadania também está quase finalizada. A conclusão está prevista para segunda quinzena de agosto. Conforme a prefeitura, atualmente, está sendo realizada a instalação do elevador. 

Nova previsão para obras da Capital

Se nas outras cidades o situação está definida ou concluída, como é no caso de Viamão, as obras de Porto Alegre continuam no mesmo ritmo: paradas. Dos cinco canteiros, quatro creches e uma quadra esportiva, que a reportagem acompanha na Capital, todos estão no mesmo estado de abandono, tomados por lixo, mato e musgo, depredados, pichados e saqueados. 

Entretanto, assim como na última atualização geral, a esperança de que alguma das estruturas cumpra sua função na comunidade foi novamente renovada. Isso porque o recurso para recomeço das obras será dos cofres municipais e não mais do governo federal, como na época em que as creches foram projetadas. 

Conforme a prefeitura, serão retomadas cinco obras inacabadas, entre elas três são acompanhadas em Retratos do Desperdício: Clara Nunes, no bairro Lajeado, Moradas da Hípica, no bairro Hípica, e Colinas da Baltazar, no bairro Rubem Berta. As construções serão realizadas com a cooperação da agência das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), com investimento de mais de R$ 33 milhões. As cinco escolas totalizarão 1.272 novas vagas de Educação Infantil. 

Na avaliação técnica preliminar da Unesco foi visto que é possível aproveitar a maior parte das estruturas já construídas, minimizando custos e otimizando os prazos. Conforme a prefeitura, o cronograma de conclusão e entrega está sendo revisto e será divulgado em agosto.

Outras duas obras, no entanto, não possuem previsão serem retomadas e concluídas. Os locais que continuarão parados ficam na Zona Sul: a creche Jardim Urubatã, no bairro Hípica, e a Quadra de esportes da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Professor Gilberto Jorge Gonçalves da Silva, no Campo Novo. 

A prefeitura de Porto Alegre anunciou, no mês de junho, o programa Escola Bem Cuidada, que prevê a construção de mais 10 escolas de Educação Infantil, com 2.400 vagas, a partir de 2024. Além das novas instituições, o programa também garantirá serviços de manutenção e reformas de todas as escolas da rede municipal por meio de parceria público-privada. A ideia, conforme a assessoria da Smed, é que a quadra de esportes entre no pacote de manutenções das instituições.

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