Papo Reto
Manoel Soares: "Ser um bom pai tem que ser algo normal"
Colunista escreve para o Diário Gaúcho aos sábados
Essa semana um vídeo meu viralizou com mais de 10 milhões de visualizações. Nele, meu filho Ezequiel, que é autista, teve uma crise de regulação, que é quando a criança perde o controle das emoções. Eu decidi brincar com ele no chão e, através do afeto, dizer como me sentia e criar formas dele se expressar, já que ainda não fala de maneira totalmente funcional.
Recebi milhares de mensagens, em quase todas fui elogiado pelo cuidado e paciência com ele, mas confesso que esses elogios me preocuparam. Por que um pai demonstrar amor ao filho seria algo extraordinário? Ele é meu filho, tem autismo e estava precisando de ajuda, não tinha outra coisa que eu pudesse fazer senão cuidar dele com amor e carinho. Se o que eu fiz não é algo comum aos homens, não sou eu que sou um bom pai, mas aqueles pais que tratam sem amor filhos com alguma deficiência que são pais ruins.
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Eu sou um pai comum, tratar um homem que demonstra amor pelo filho como pai herói é naturalizar que homem normal não é assim. Naturalizar o amor paterno, o cuidado, e ensinar nossos filhos que não existe paternidade sem amor é o caminho. Nem sempre fui assim, já tive e tenho comportamentos como pai que me envergonham, é um exercício diário. Fomos criados para ser machões e ver os filhos como um peso que dá gasto, mas essa visão machista e babaca compromete o amor que temos e nos faz perder fases lindas da vida de nossos pequenos.
Quero poder viralizar muito com meus vídeos, mas não por dar amor aos meus pequenos, pois isso precisa ser algo normal.