Se você tem menos de 30 anos, quero falar com você sobre o que era a aids. Vivi esse debate de perto, pois estava iniciando minha vida sexual exatamente nesse período e vivi todas as fases, todo o medo e especulação sobre a doença. Assisti artistas como Cazuza morrerem publicamente com a doença e vi todo o preconceito que se criou em cima dos homossexuais. Mais tarde, as esposas que se descobriam com aids por conta das relações extraconjugais de seus maridos. 

Foram períodos nos quais o medo dessa doença imperava, e junto com o medo existia um debate moral em torno do uso da camisinha e a vulgarização e condenação pública de quem abordava o tema. Os coquetéis de tratamento foram uma ponta de esperança, mas nos anos da década de 1990 ainda tinham muitos efeitos colaterais, isso assustava quem tinha o vírus e precisava de tratamento. 

Depois de muito se falar sobre o tema, as autoridades chegaram à conclusão de que só sabendo o tamanho do problema se poderia criar programas de tratamento. Nos anos 2000, nasceram muitas campanhas para estimular a testagem, mas como já havia o medo e o preconceito, demorou até as pessoas entenderem. Hoje, a aids não é mais esse monstro todo, existem tratamentos que permitem à pessoa ter uma vida tranquila, desde que respeite o tratamento e os cuidados e orientações. Conheço pessoas com HIV que construíram família, avançaram na carreira e há 30 anos convivem com a doença, que está totalmente controlada. 

Um estudo recente do Ministério da Saúde mostrou queda de 25% no número de óbitos por conta da aids. Isso mostra que não precisamos ter medo da testagem, temos que ter medo é de ter a doença e não saber. Se por acaso uma historinha sua da antiga tem o vírus, recomendo que faça o teste sem medo. Não precisa fazer alarde, vai na privacidade e faz, isso é importante para você e para quem está com você. Pior que a aids é a ignorância.