Seu Problema é Nosso
Um novo início para a Vó da Reciclagem na Ilha da Pintada
Família recebeu doações e entra em 2024 reconstruindo seu lar, afetado pelas enchentes de setembro e novembro na Capital
![Diário Gaúcho](https://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/17911360.jpg?w=128)
![Jonathan Heckler / Agencia RBS Jonathan Heckler / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/2/0/0/9/8/8/4_0153364ea49b3d0/4889002_8f5d5cf2e7f8693.jpg?w=700)
Três meses depois da forte chuva que castigou Porto Alegre e causou a inundação de diversas residências na Região das Ilhas, uma das famílias afetadas pela enchente consegue enxergar um 2024 promissor. A Vó da Reciclagem, como é conhecida a recicladora Maria Ana Ávila Macedo, 71 anos, sua filha e as quatro netas com quem vive na Ilha da Pintada têm conseguido, de doação em doação, reconstruir a casa em que vivem na Rua Nossa Senhora da Boa Viagem, às margens do Rio Jacuí.
Com a chuvarada de setembro passado, foram perdidos móveis e itens pessoais da família. As seis ainda estavam fora de casa quando um novo ciclone atingiu a Capital na metade de novembro e danificou, então, a estrutura da moradia. Uma viga de sustentação se enfraqueceu, uma parede despencou e os cantos das outras paredes ficaram frágeis. Por isso, nas últimas semanas, todos os esforços são destinados à reforma do lar.
Solidariedade
No início daquele mês, a Vó da Reciclagem havia buscado o Diário Gaúcho para pedir ajuda. E foi com as doações de quem se solidarizou com a situação que a família conseguiu comprar tijolos, cimento, areia e dar início às obras. Assim, há cerca de um mês, o lar da recicladora é reconstruído.
– Foi a melhor coisa (ver a casa). Já me senti bem só ali dentro do pátio, a vontade era de entrar lá, mas não tem como. Se eu pudesse, estava lá dentro ajudando os guris (pedreiros) – relata Maria sobre a primeira ida à casa desde setembro, junto à reportagem.
Por enquanto, a cadeira de rodas só alcança a parte da frente da residência, devido aos entulhos nos outros cômodos.
![Jonathan Heckler / Agencia RBS Jonathan Heckler / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/6/9/9/8/8/8/4_4ab530a799aedce/4888996_9b33f39a3e7fd91.jpg?w=700)
Para a Vó, é impensável sair do lugar onde mora há 30 anos, mesmo já tendo passado por inúmeros alagamentos e sabendo que outros podem vir. Então, para tentar frear o avanço do rio na próxima chuva forte, o novo piso da casa vai ser construído em um nível mais alto, quase um metro de altura acima do original.
– A tendência é erguer mais. Eu creio que vai (ser construído) até a altura da água da última grande (enchente, em novembro). E não vou botar piso ainda porque a ideia é levantar ainda mais depois – explica a filha de Maria, a pescadora e catadora Carla Graziele de Ávila, a Grazi, 43 anos.
Doações
Foi na manhã da quarta-feira passada (27) que o caminhão da empresa Turim Mudanças parou na frente da casa onde a família está morando temporariamente, via estadia solidária da prefeitura, carregando a doação feita pela Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul (AMP/RS). A organização garantiu para a família geladeira, televisão, beliche e colchões para as crianças, além de uma máquina de lavar roupas.
Mas, além dos móveis, um equipamento muito especial doado pela AMP/RS fez brilhar os olhos da Vó: a cadeira de rodas motorizada com a qual tanto sonhava. Agora, a recicladora que perdeu as pernas por complicações da diabetes vai trocar os panos pelos quais se arrasta no chão para se locomover com uma cadeira que lhe dará mais autonomia.
![Jonathan Heckler / Agencia RBS Jonathan Heckler / Agencia RBS](https://www.rbsdirect.com.br/filestore/9/9/9/8/8/8/4_d985a203a8801a6/4888999_16cc99b18099726.jpg?w=700)
Porém, a sensação de liberdade não estará completa enquanto a Kombi da família não voltar a funcionar. Com o veículo, Maria eafilha conseguem coletar mais sucata para vender e garantir a renda da casa. Grazi começou no ano passado a fazer o conserto do automóvel, destruído pela enchente de 2015 na Capital, mas, na tempestade de novembro, novos problemas surgiram. Agora, além de arrumar o motor e trocar os pneus, a lataria precisa de reparos, e os vidros, porta e tampa do motor têm que ser recolocados. Por isso, Maria repete, durante toda a conversa com a reportagem:
– Eu quero ver se conseguem me ajudar a arrumar minha Kombi!
Esperança
Sem a Kombi e fora de casa, elas não têm espaço para guardar sucatas. Assim, a ocupação de recicladoras foi pausada, e a família se sustenta como pode: doações, auxílios da prefeitura e venda das redes para goleiras de futebol que Grazi começou a produzir. Por isso, no momento, a maior dificuldade é para pagar a mão de obra da reforma.
– Não desenvolve a obra porque não dá para botar mais ninguém (para trabalhar). O certo seria R$ 1 mil, R$ 1,2 mil por semana (de remuneração), mas a gente recebe R$ 700 e vamos juntando para tentar pagar um pouquinho mais. Aí, não temos ideia de quando vai ficar pronto – relata Grazi.
Depois de todas as dificuldades de 2023, ainda assim, a gratidão da família se renova a cada pedido de ajuda atendido. E, mesmo sem ter previsão de retorno para casa, as expectativas da Vó da Reciclagem para 2024 são boas.
– Vamos voltar com tudo arrumadinho. A minha vontade era já estar dentro da casinha, mas logo vai dar. Muita gente disse para eu sair da ilha… Não quero! Só saio daqui quando eu morrer – afirma.
AJUDE A VÓ DA RECICLAGEM
/// Para concluir a reforma da casa, a família precisa de areia, cimento, porta, telhas, madeira e dinheiro para pagar os pedreiros.
/// Da mobília, ainda faltam guarda-roupas, cômoda, camas para Maria e Grazi e móveis da cozinha.
/// A vaquinha para o conserto da Kombi pode ser acessada pelo site vakinha.com.br/3916046.
/// As netas da Vó da Reciclagem fazem um pedido especial: uma piscina para brincar nesse verão.
/// Doações podem ser feitas pelo Pix (telefone) 51984202983.
Produção: Caroline Fraga