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Inscrições abertas para aulas gratuitas de balé na Capital
Até 10 de fevereiro, crianças de seis a 10 anos podem participar do processo seletivo e concorrer a bolsas integrais em escola de dança
Antes da primeira aula de balé, o sonho de ser uma bailarina clássica nunca havia passado pela cabeça da pequena Ana Cláudia de Aguiar, 10 anos, moradora do bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre. Porém, ela se apaixonou pela dança quando participou, aos cinco anos, das aulas gratuitas promovidas pelo projeto Ballet para Todos.
De lá para cá, a dança faz parte da rotina da pequena bailarina, que hoje é uma das solistas e possui bolsa parcial na escola de dança Ballet Elizabeth Santos, na zona leste da Capital. Luana de Aguiar Santos, 40 anos, mãe de Ana Cláudia, conta sobre como o projeto foi essencial para que a pequena tivesse a possibilidade de experimentar atividades diferentes das oferecidas na escola:
— O balé é uma atividade rara (de ser oferecida). Principalmente para a gente, que mora na periferia. É importante as crianças terem uma outra vivência, uma oportunidade de vida diferente, né?
Ana Cláudia conta que adora ter aulas de balé em sua rotina. Quando bate o cansaço, a estudante procura estratégias para não desanimar: bebe água, respira, senta e, somente depois, continua os treinos. Um dos sonhos da menina é ser bailarina no Exterior. Entre as suas inspirações profissionais estão as professoras Beth e Manu e as bailarinas Luciana Sagioro e Ana Botafogo.
— As profes Beth e Manu porque são minhas mestras. A Luciana Sagioro porque ela conquistou uma vaga na Ópera de Paris. Já a Ana Botafogo é porque ela foi a primeira bailarina do Teatro Municipal de Rio de Janeiro — explica a menina.
Inscrições abertas
Para facilitar e ampliar o acesso ao estudo gratuito ao balé, a professora Elizabeth Santos, 54 anos, criou, há 23 anos, o projeto Ballet para Todos. A ideia de dar aulas gratuitas de balé, porém, é mais antiga, surgiu há mais de 30 anos, durante uma ação solidária.
— Eu lembro que sentei com todas as meninas de uma comunidade da Ilha Grande dos Marinheiros e dei uma aula de balé. Era tudo que eu tinha a oferecer para elas. Até ali eu não tinha pensado em ser professora — relembra Elizabeth.
Primeiramente, o projeto foi executado na Restinga, onde existiu por 15 anos. Hoje, as aulas são ministradas na escola de dança. As inscrições para participar do projeto estão abertas até o dia 10 de fevereiro, para estudantes de seis a 10 anos. Serão 20 vagas gratuitas neste ano.
Além das bolsas integrais, para crianças em que a família receba até um salário mínimo, serão abertas também 40 bolsas parciais, para crianças de classe média baixa. Para se inscrever, é preciso entrar em contato pelo Whatsapp (51) 99172-7932 (Elizabeth Santos), ou pelo e-mail: elizabethfernandes.rs@gmail.com. A escola está localizada na avenida Protásio Alves, 7.248 e as aulas começam em março.
Escola busca apoio
Devido à procura (somente no ano passado foram 500 candidatos), a escola costuma ser criteriosa para a escolha dos estudantes. São solicitados comprovante de renda e carteira de trabalho dos responsáveis. Para ajudar nos custos dos novos alunos, a escola procura pessoas interessadas em apadrinhar um bailarino, para que possa, sempre que possível, arcar com parte das despesas. São necessários itens como roupas, sapatilhas e faixas de cabelo que precisam ser providenciados.
— Meu sonho seria que essas 40 crianças fossem apadrinhadas e tivessem acesso aos materiais necessários. Que tivessem um apoio — afirma Elizabeth.
Benefícios e cuidados
De acordo com a professora de fisioterapia da UFCSPA e bailarina clássica Caren Luciane Bernardi, o cérebro de uma criança precisa de estímulos, movimentos, sons e texturas para ser formado. Por muitos anos, Caren pôde vivenciar o balé na prática. Aos seis ela começou a praticar a dança e chegou a atuar como professora de balé durante a faculdade.
— A criança precisa de experiências sensoriais, de movimento, para se construir. E é a partir desse conhecimento, desse contato com o mundo, que ela vai formar essa personalidade e essa competência física e emocional.
Confira mais informações:
Benefícios
- A dança promove na criança o desenvolvimento motor e sensorial.
- A criança aprende a reconhecer conceitos como antes, agora, depois, perto, longe, baixo, dentro, fora.
- Perto dos seis anos, a criança já está desenvolvendo os movimentos fundamentais. Então ela exercita o saltar, o correr, o pular, o galopar. Ocorre a alfabetização corporal da criança. E o balé traz muito desses movimentos.
- A criança também desenvolve a lateralidade, exercita conceitos como esquerda e direita. Isso porque ela faz exercícios apenas do lado direito, depois outros utilizando somente o lado esquerdo.
- Trabalha-se a consciência corporal, a relação do corpo no espaço, a noção espacial também. A criança começa a se questionar "onde eu posso passar?". E isso acaba se aplicando na alfabetização escolar. Então ela sabe que não se pode pular linhas no caderno, que existe uma margem por um motivo. Isso facilita o recorte e a pintura dentro dos limites.
- Melhora a postura, a flexibilidade, a atenção, a memória, principalmente a memória do trabalho.
- Existe empoderamento, autoestima, trabalho em grupo, aumenta a sensação de bem-estar.
- A prática da dança ajuda a diminuir o risco de desenvolver obesidade.
- O balé ensina uma profissão e tem uma função social. A criança, quando cresce, pode ser bailarina e também pode ser professora.
Pontos de atenção
- A família precisa verificar se a escola promova um ambiente saudável, sem cobrança excessiva e com possibilidade de aceitação das diferenças, que não tenha preconceito em relação ao gênero, ao corpo, e a deficiências.
- É preciso ter cuidado para notar a diferença entre iniciação precoce no balé, quando a criança começa cedo, e especialização precoce, quando se exige passos. Por isso, é preciso cuidar para que seja lúdico, sem estresse, sem muita pressão.
- É importante que a criança tenha outras atividades além do balé. O ideal é que ela pratique outros esportes e tenha tempo de descanso.
Fonte: Caren Luciane Bernardi