Restrição de serviços
Problemas em hospitais da Região Metropolitana e Litoral Norte resultam em sobrecarga no sistema de saúde de Porto Alegre
Ocupação das emergências da Capital atingiu 205% nesta terça-feira (2)
Problemas como troca de gestão, greves e suspensão de atendimentos, ocorridos nesta semana em hospitais da Região Metropolitana e do Litoral Norte, resultaram na sobrecarga do sistema de saúde de Porto Alegre. Isso porque muitos moradores dessas localidades têm buscado atendimento na capital gaúcha, fazendo com que a ocupação das emergências da cidade atingisse 205% na tarde desta terça-feira (2), conforme monitoramento da Secretaria Municipal de Saúde. Diante da superlotação, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) precisou restringir os atendimentos do setor adulto somente para casos com risco de morte.
No Hospital de Alvorada, onde ocorreu troca de gestão na segunda-feira (1º), houve paralisação de atendimentos durante o dia, mas a situação foi normalizada no final da tarde. Já no Hospital Padre Jeremias, em Cachoeirinha, o atendimento permanece restrito a casos graves, em função de uma greve iniciada na segunda, sem previsão de término. Nas duas instituições, os problemas estão relacionados ao não pagamento de rescisões dos trabalhadores demitidos após a mudança de administração.
Já no Hospital Tramandaí, no Litoral Norte, os atendimentos do Centro Obstétrico e no Serviço de Obstetrícia foram suspensos por tempo indeterminado, devido ao vencimento do contrato com a empresa terceirizada que gerenciava os setores. As demais especialidades, contudo, seguem recebendo pacientes normalmente.
Ao comentar sobre a situação em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta terça, o secretário de Saúde de Porto Alegre, Fernando Ritter, apontou que pacientes de municípios da Região Metropolitana, especialmente Alvorada, Viamão e Cachoeirinha, têm sobrecarregado o sistema da Capital.
— Estamos, neste momento, com 203% (pela manhã) de ocupação das nossas emergências. Isso nunca aconteceu na história de Porto Alegre, no período de início de abril e, realmente, nos preocupa. Inclusive, a maternidade também está numa situação bem crítica. Em Porto Alegre cresceu muito a procura, especialmente (de pacientes) desses hospitais (de outros municípios) que estão passando por dificuldades — afirmou.
A superlotação citada por Ritter foi o que motivou a restrição de serviços na emergência do HCPA. Conforme nota divulgada pela instituição de saúde, havia 160 pacientes em atendimento no setor adulto, que tem capacidade para 56 pessoas.
“Todos os recursos materiais e humanos disponíveis estão em seu limite. Por isso, apenas casos de risco de morte estão sendo atendidos”, informa o texto, destacando que, enquanto a situação permanecer, a recomendação é de que a população procure outros hospitais ou unidades básicas de saúde e prontos atendimentos, em casos mais simples.
Ritter afirmou que teve uma reunião com a Secretaria Estadual de Saúde (SES), da qual saiu “bastante preocupado”, porque talvez não haja solução imediata para superar as dificuldades. No entanto, o secretário destacou que é preciso descentralizar o processo de atendimentos — um dos objetivos do programa Assistir, que destina verba aos hospitais.
Também reforçou a necessidade de que o Estado ajude a “reorganizar” o sistema de saúde da Região Metropolitana, que sofreu impactos negativos com a implementação do programa, a partir de agosto de 2021. Conforme Ritter, o Assistir foi muito positivo para o Interior, então, é preciso “devolver” esses pacientes para seus municípios:
— Acho que precisamos colocar os pacientes de volta aos seus locais, porque Porto Alegre não aguenta mais. Nós não teremos condições para poder suportar isso, se continuar ainda por muitos dias.
Na avaliação de Júlio Jesien, presidente do Sindisaúde-RS, o cenário atual reflete um impacto do olhar deficitário do Assistir. O representante do sindicato aponta que a proposta de descentralizar os atendimentos, aumentando os serviços do Interior e reduzindo na Região Metropolitana, tem uma coerência muito grande, mas o programa não considerou que haveria um grande número de trabalhadores “sobrando” na folha de pagamento das instituições que tiveram redução:
— Cachoeirinha e Alvorada já vinham apresentando um serviço de forma não a contento e o Estado resolveu cessar o contrato de trabalho com esses dois hospitais, resultando em muitos profissionais demitidos e um absurdo de dinheiro para rescisões, gerando todo esse problema.
Jesien acrescenta que essa situação também ocorreu em Porto Alegre, quando o Instituto de Cardiologia demitiu mais de 200 profissionais, sem condições de arcar com os custos das rescisões.
— As instituições estavam prontas para atender aquela antiga demanda, com áreas físicas, profissionais e equipamentos. Mas não tem como jogar os trabalhadores num cantinho, precisa manter a folha de pagamento, que é um dos principais custos dos hospitais. Vemos os hospitais não conseguindo bancar os seus valores e o Assistir acabou não olhando para isso. Poderíamos dizer, em palavras mais duras, que era uma morte anunciada — comenta.