Seu problema é nosso
Comunidade constrói ginásio poliesportivo do zero após 24 anos de espera por obra do governo
Por meio da realização de ações, a mobilização arrecadou valor que foi destinado para construção da quadra em escola estadual de São Sebastião do Caí
Depois de 24 anos de espera por um ginásio poliesportivo que nunca saiu do papel, a comunidade da Escola Estadual de Ensino Fundamental Josefina Jacques Noronha, em São Sebastião do Caí, decidiu fazer a construção da quadra por conta própria. A obra foi iniciada em 2001, um ano após a aprovação do uso de verbas pelo Orçamento Participativo (OP), mas até agora apenas a fundação da estrutura havia sido entregue pelo Estado.
Foi por isso que uma comissão de pais se organizou para dar continuidade ao projeto. Por meio de vendas de cachorros-quentes, kits de doces e salgados e outras ações, a mobilização arrecadou cerca de R$ 60 mil, valor que foi destinado para construção da quadra e compra das goleiras. Até o final do ano, a comissão espera concluir a pintura do piso com as marcações de diferentes esportes e disponibilizar a estrutura para o uso dos alunos.
— A escola já tinha encaminhado ofícios para a Seduc (Secretaria Estadual de Educação) em outros anos e nunca obteve retorno. Como pais, vimos que precisávamos fazer alguma coisa. Buscamos recursos dentro da própria comunidade — conta o presidente do Círculo de Pais e Mestres, Cleber Schasser, 44 anos.
Sem o ginásio, os estudantes não têm um espaço adequado para a prática de esportes. As atividades de Educação Física são improvisadas no pátio da escola, e a situação piora em dias de chuva ou de sol muito forte, em que as aulas acontecem dentro da sala. Assim, o próximo passo que a comissão pretende dar é colocar um telhado sobre a quadra. Segundo os orçamentos que Cleber fez com construtoras, seria necessário R$ 250 mil para erguer a cobertura, valor que a organização ainda não possui. Por isso, ele fortalece o apelo para que o Estado dê andamento no projeto.
— O motivo pelo qual uma instituição de ensino precisa de uma quadra de esportes é óbvio, mas é uma estrutura para a cidade também. Essa escola está inserida numa área que não pega enchente, e pôde abrir as portas em maio para abrigar pessoas, fazer viandas… Gostaríamos de ter um ginásio que pudesse ser posto à disposição da comunidade ainda mais — completa.
Promessa
Em agosto do ano passado, o Diário Gaúcho publicou a indignação dos pais e da diretoria pela situação. Na ocasião, a Seduc informou que os recursos nunca foram repassados por completo devido ao desgaste que o OP sofreu na época em que a solicitação do ginásio foi feita. A pasta explicou, também, que o projeto estava em fase de elaboração na Secretaria de Obras Públicas, com previsão de seis meses para conclusão. A diretora da escola, Claudia Kich da Silva, conta que não houve contato com a Seduc desde a publicação da reportagem.
— É uma luta que ainda continua, mas graças ao esforço de todos estamos conseguindo realizar o sonho, ou o início dele — declara.
Contraponto
Em nota conjunta, a Seduc e a Secretaria Estadual de Obras Públicas informaram que atuam na “construção e reparos de ginásios escolares seguindo critérios de priorização.”
Eles explicam que estão focados na recuperação de estabelecimentos de ensino que sofreram danos em decorrência de eventos climáticos, como a enchente de maio e ciclones ocorridos nos últimos dois anos.
As pastas também citam outros critérios para priorização dos investimentos, que incluem modalidade de ensino, infraestrutura, emergencialidade, métricas integradas (volumetria), suporte estratégico, nível de vulnerabilidade, gestão e eventos extraordinários.
Segundo a nota, não há prazo para realização da obra.
*Produção: Caroline Fraga